Isis Valverde interpreta Maria Bonita em série e fala sobre novos projetos e preparativos do casamento
Protagonista em 'Maria e o Cangaço', na Disney + desde 4 de abril, atriz faz projetos audiovisuais no Brasil e em Hollywood, além de preparar livro de poesia

Em um dos registros mais icônicos do fotógrafo libanês Benjamin Abrahão (1890- 1938), um dos únicos a retratar o bando de Lampião, o líder cangaceiro aparece cercado de oito de seus homens e, no meio, em primeiro plano e à frente de todos, Maria Bonita. Um olhar atento à foto capta logo o protagonismo dessa figura histórica naquele contexto, embora as narrativas propagadas sobre o cangaço sempre a tenham colocado à sombra do marido, Virgulino Ferreira da Silva.
A outra face dessa história se descortina na biografia “Maria Bonita: Sexo, Violência e Mulheres no Cangaço”, de Adriana Negreiros, lançada em 2018. A obra, que pela primeira vez trouxe o ponto de vista das mulheres, serve de base à série “Maria e o Cangaço”, que estreou no último dia 4 no Disney+, com Isis Valverde como a personagem principal. “Ela era uma mulher transgressora, livre, que escolheu ser o que quis. Mas sem romantizar, porque muitas das cangaceiras foram sequestradas, estupradas, pariam no meio do mato com tiro rolando e entregavam o filho para a primeira pessoa que viam. Era uma realidade muito pesada”, pondera Isis.

A série em seis episódios, lindamente fotografada por Adrian Teijido, que assina a direção junto com Thalita Rubbio — a direção geral é de Sérgio Machado —, acompanha os últimos anos de vida de Maria e Lampião (Júlio Andrade), quando ela se vê entre dois universos inconciliáveis: a trajetória de fora da lei e o desejo de viver em família. “É uma obra revolucionária. Sua importância está em fazermos justiça a essas mulheres, que enfrentaram violência sexual, impossibilidade de criar os filhos, fome, sede e perseguição, abandonadas pelo Estado, e, posteriormente, tiveram sua existência reduzida a folclore. Resgatar sua verdadeira história é respeitar a memória delas”, diz Adriana, que ficou impactada com o trabalho de Isis. “Quando soube da escolha, temi que, talvez, ela não combinasse com a personagem, por ser bonita demais e ter uma aparência delicada. Não podia estar mais enganada. Ela encontrou a justa medida entre a doçura e a agressividade de Maria, que é voraz sem ser violenta; é terna sem ser frágil; e é apaixonada sem ser condescendente”, acredita.
Para construir a personagem, além de aulas de história e sessões com a preparadora Fátima Toledo, Isis e Júlio refizeram a pé um trecho por onde passou o bando e caminharam no lugar onde o casal e mais onze comparsas foram emboscados e mortos, em 1938. “Fiquei toda arrepiada”, lembra ela, que depois encontrou o restante da equipe em Cabaceiras (PB). “Essa personagem não se constrói sozinha. Não é ‘a’ Maria, mas ‘as’ Marias”, ressalta, em menção às outras cangaceiras e às suas colegas de cena, como Mohana Uchôa, Clebia Sousa e Thainá Duarte. “Passamos juntos por processos intensos, e a Isis foi uma grande parceira, dessas que te melhoram em cena. Foi um trabalho exaustivo e corajoso”, elogia Júlio. Outra companheira de jornada, a cadela Ligeira, acabou sendo adotada pela atriz após as filmagens.
A artista, mineira de Aiuruoca, guarda semelhanças com Maria Bonita, no jeito espevitado, na assertividade e na determinação, como Vejinha conferiu em conversa por videochamada. Dias antes, ela havia encontrado uma brecha na agenda em São Paulo para a foto que ilustra a matéria, mas a entrevista precisou ficar para depois, em sua casa, no Rio Janeiro. É que o ano tem sido agitado para ela. O ensaio aconteceu no Hotel Marabá, entre compromissos de lançamento de Maria e o Cangaço. Tudo em meio a obras no apartamento recém-adquirido, nos Jardins, e aos preparativos para a festa de seu casamento com o empresário Marcus Buaiz, marcada para 3 de maio, num casarão em estilo toscano no interior paulista.

Um dia antes, estreou no Brasil “Código Alarum”, longa que marca seu début em Hollywood, estrelado por Sylvester Stallone e dirigido por Michael Polish. Ela interpreta a amiga de um casal de agentes secretos, vividos por Scott Eastwood e Willa Fitzgerald, e acaba caindo de gaiata numa caçada brutal. A atriz estrela duas outras produções, previstas para estrear ainda neste ano: a versão brasileira de “Quarto do Pânico”, dirigida por Gabriela Amaral, e “Corrida dos Bichos”, do diretor Fernando Meirelles. “Posso dizer que se passa num futuro distópico em que a sociedade está lutando para sobreviver, uma produção com muito efeito especial e uma arte impecável”, revela.

Depois de um início de ano intenso, e antes de tocar projetos pessoais, a atriz de 38 anos faz uma merecida pausa para passar uns meses de férias com o filho, Rael, de 6 anos, fruto de seu relacionamento com o ator André Resende. “É preciso parar, senão a gente adoece”, ensina. Entre tantas atividades, ela encontrou tempo para escrever seu segundo livro de poesias, “Vermelho Rubro”, uma coletânea de poemas que traz reflexões sobre a vida e a humanidade, previsto para ser lançado em agosto. Nele, contou com a direção criativa de Giovanni Bianco, fotos de Hick Duarte e prefácio de Nelson Motta. Isis, assim como Maria Bonita, não anda só.