Nova HQ revela a trajetória de Teodora Dias da Cunha, escravizada em SP
Autor de Mukanda Tiodora, Marcelo D’Salete teve acesso a cartas escritas por ela e preservadas no Arquivo Público do Estado
Na São Paulo do século XIX, uma mulher escravizada originária das terras de Angola conduz a trama da nova história em quadrinhos assinada por Marcelo D’Salete. Com elementos de ficção, Mukanda Tiodora (Editora Veneta, R$ 79,90) aborda a jornada de Teodora Dias da Cunha em busca de sua alforria na cidade.
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“Ela é mais conhecida entre aqueles que estudam a história negra no Brasil”, conta Marcelo, que passou por um longo processo de pesquisa para compor o livro. “Moradora da antiga Rua da Liberdade, Teodora escreveu sete cartas, parte delas com a ajuda de outro escravizado, pois era analfabeta.”
Marcelo teve acesso a todas as cartas, preservadas no Arquivo Público do Estado de São Paulo. Nos extras da publicação, elas estão reproduzidas na íntegra, assim como fotos e mapas da cidade de São Paulo do fim do século XIX e uma linha do tempo sobre a luta contra a escravidão no estado.
“Sempre tive interesse em falar sobre o crescimento dessa cidade e como ela surgiu, mas meus primeiros trabalhos são muito mais urbanos e inspirados na capital paulista de hoje”, explica. A ideia para a nova aposta narrativa surgiu após ter lido Sonhos Africanos, Vivências Ladinas, obra da historiadora Maria Cristina Cortez Wissenbach sobre a população negra em São Paulo, tanto a parcela escravizada como a livre.
Visualmente, o título também é um novo desafio para Marcelo. “Decidi mudar meu estilo. Sempre trabalhei muito com preto e branco, mas agora utilizei uma técnica em que faço primeiro os traços em preto e depois crio as áreas brancas. Isso aproxima o desenho à técnica das gravuras.”
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Vencedor de prêmios como Jabuti e Eisner, Marcelo já publicou HQs como Cumbe (2014) e Angola Janga (2017) — e ambas ganharão adaptações audiovisuais pela produtora Wise, que comprou os direitos das obras. Nascido em São Bernardo do Campo, o quadrinista chegou a trabalhar como office boy no Centro e hoje vive no bairro do Butantã. “As ruas e nomenclaturas com personagens antigos na região central são algo que sempre me encantou, e o livro foi uma oportunidade de aprofundar esse conhecimento e paixão.”
Publicado em VEJA São Paulo de 7 de dezembro de 2022, edição nº 2818
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