Cartazes de artistas periféricos são espalhados por ruas da Zona Leste
Projeto das Fábricas de Cultura divulga artes de nomes paulistanos que reinterpretam símbolos da nossa cultura
Rayssa Santos, 16, ganhou as primeiras latas de spray durante um evento de grafite em uma unidade das Fábricas de Cultura na Zona Leste. “Aquele dia foi demais”, lembra.
Em 17 de janeiro, equipes de centros culturais localizados em Belém, Cidade Tiradentes, Itaim Paulista, Sapopemba e Vila Curuçá colaram centenas de pôsteres com obras de trinta artistas — incluindo Rayssa — pelos muros dos bairros, como parte do projeto Galeria da Quebrada.
Os trabalhos são baseados em quatro temas: os sambistas Adoniran Barbosa e Paulo Vanzolini, o rapper Sabotage e uma visão paulistana de A Noite Estrelada, de Van Gogh. “Repomos os cartazes semanalmente porque chove e as pessoas acabam levando para decorar a casa”, conta Renato Barreiros, 45, superintendente das Fábricas de Cultura, que são do governo estadual.
A iniciativa segue até o fim de fevereiro. As criações foram desenvolvidas para exposições que rodaram a cidade entre 2022 e 2023. Entre os trabalhos, uma ilustração sobre a música Volta por Cima, de Vanzolini, com o rosto do artista salpicado de cores vivas por Marcio Reis, 45, o Banguone. “Sou daltônico e mostro nas obras que mesmo não identificando as cores, consigo transmitir sentimento”, explica ele, que é de Itaquera.
Anderson Andrade, 36, o Preto TNA, registra expressões faciais negras, como no trabalho inspirado em A Noite Estrelada, com um reflexo do céu nos olhos de uma criança. “Retrato temas afro”, explica Andrade, da Brasilândia.
A exposição é a estreia de Rayssa Santos. “É o meu primeiro trabalho exposto”, comemora ela, que mora em São Mateus e retratou Sabotage.
Publicado em VEJA São Paulo de 2 de fevereiro de 2024, edição nº 2878