Galeria Frente exibe individual com quase 80 obras de Walter Lewy
Quadros do pintor surrealista alemão foram garimpados por casal de colecionadores
Alemão radicado em São Paulo, Walter Lewy (1905-1995) será tema de uma nova mostra, com mais de setenta obras, na Galeria Frente, próxima à Oscar Freire. Em celebração aos 100 anos do surrealismo, a exposição, que abre neste sábado (19), é idealizada pelo casal Claude Martin Vaskou e Eliana Minillo, entusiastas do artista, de quem colecionam pinturas, desenhos e gravuras desde 2005.
“Claude já tinha uma meia dúzia de quadros dele e, quando começamos a buscar informações, vimos que existia pouco material disponível”, conta Eliana, parceira de Claude há dezenove anos. “Na época de escola lembro que ele era um artista consagrado, tinha participado de algumas Bienais, mas o status foi se perdendo.”
Eliana é artista plástica, Claude, diplomata aposentado. Com o interesse em comum, os dois começaram a garimpar juntos.
“Sempre me interessei por surrealismo e um dia, no Masp, fiquei inspirado por um dos quadros de Walter. Depois, fui comprando em leilões e me envolvendo cada vez mais com a história dele”, conta Claude.
De Ubatuba, onde moram atualmente, eles trouxeram quase todo o acervo, à venda durante a mostra. São peças que amealharam para acompanhar o lançamento do livro Walter Lewy — O Sonhador e a Sublime Criação do Mundo (Galeria Frente; 200 reais), feito em parceria com o curador Jacob Klintowitz.
“Nosso projeto inicial era essa publicação, e, assim, a mostra acabou nascendo”, explica Eliana.
A seleção inclui livros, papéis e objetos, e contempla as principais fases do surrealista, desde o “período cinza, quando chegou ao Brasil com o peso da guerra, até o final, quando estava vivendo perto do mar e começou a abordar o horizonte e a mulher azul, elemento emblemático do seu repertório”, explica Claude.
As versões dessa mulher eram inspiradas na esposa, Dirce Pires. Figuras cósmicas também fazem parte dessa trajetória.
“Ele sempre foi apaixonado pelas plantas suculentas e tinha uma estufa com algumas espécies, algo que descobri ao visitar a Alemanha.” Daí surgiram criações como cactos humanizados e folhagens gigantes.
Por ser judeu, sua primeira exposição individual foi fechada, nos anos 1930. Ao deixar para trás centenas de obras, todas perdidas durante os bombardeios da Segunda Guerra Mundial, Walter atuou em São Paulo como publicitário e ilustrador para editoras e agências de propaganda.
Mesmo na visita à terra natal do artista, Claude conta que encontrou poucos vestígios de seu trabalho — apenas a casa de seus pais. “Como um artista de tanto talento poderia estar nesse estado no mercado da arte? Assim, decidi resgatar sua história.”
Claude e Eliana também se aproximaram no meio artístico. “Nós nos conhecemos em uma vernissage. Eu estava fazendo uma exposição individual e Claude se aproximou por causa de um amigo, que insistia que ele deveria comprar uma obra minha”, relembra ela. A arte e seu poder de atração.
Galeria Frente. Rua Dr. Melo Alves, 400, Cerqueira César, 3064-7575. A partir de sáb. (19), 11h/18h. Seg. a sex., 10h/17h30. Sáb., 10h/13h30. Até 22/2/2025. Grátis. galeriafrente.com.br
+ Banca na Lapa vira ponto de encontro vendendo ‘um pouco de tudo’
Publicado em VEJA São Paulo de 18 de outubro de 2024, edição nº 2915