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“Segredo traz complicações”, diz roteirista de ‘Deixe a Luz Acesa’

O brasileiro Mauricio Zacharias fala da experiência de co-escrever longa que estreia nesta sexta (8)

Por Bruno Machado
Atualizado em 5 dez 2016, 16h20 - Publicado em 6 fev 2013, 16h20
Deixe a Luz Acesa
Deixe a Luz Acesa (Divulgação/)
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Sucesso na mais recente edição do Festival Indie, Deixe a Luz Acesa, vencedor do prêmio Teddy – dedicado a fitas com temática homoafetiva – no último Festival de Berlim, chega ao circuito comercial nesta sexta, com exibições no CineSesc.

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O longa tem roteiro assinado a quatro mãos: o carioca Mauricio Zacharias trabalhou em parceria com o diretor Ira Sachs (Married Life) no drama de toques autobiográficos por parte do americano. Com forte tom realista, o filme acompanha o longo e tortuoso relacionamento entre Erik (Thure Lindhardt), um documentarista, e seu namorado Paul (Zachary Booth), um advogado com dificuldades em lidar com a própria sexualidade.

Abaixo, o co-roteirista, que mora em Nova York,  fala sobre sua carreira, seu trabalho em Deixe a Luz Acesa e seus novos projetos.

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VEJA SÃO PAULO — Como você se envolveu com cinema?

Mauricio Zacharias — Me formei em economia na PUC do Rio de Janeiro, mas comecei trabalhando como roteirista com Walter e João Salles. Fizemos uma série de documentários sobre artistas brasileiros. Também roteirizei curtas de Aluísio Abranches e Arthur Fontes. Em 1990, saí do Brasil para estudar em Los Angeles. Foi onde me envolvi na readaptação para o cinema de uma adaptação para o teatro, Death and the Maiden, com direção de Roman Polanski. As reuniões eram sempre por telefone, já que Polanski não pode pisar nos Estados Unidos. Ao mesmo tempo, sempre mantive um pé no Brasil: trabalhei em roteiros dos episódios de A Vida Como Ela É, de Nelson Rodrigues, entre outros trabalhos. Em 1995, eu me mudei para Nova York, onde escrevi Madame Satã e O Céu de Suely com Karim Aïnouz. 

Ira Sachs colocou o nome de Karim Aïnouz entre os agradecimentos nos créditos de Deixe a Luz Acesa

Ira é grande admirador de O Céu de Suely. Foi por causa desse filme que surgiu o convite para trabalhar com ele. Eu logo aceitei, pois gosto muito de Forty Shades of Blue, seu filme que ganhou o Grand Prix em Sundance, em 2005.

Como foi escrever Deixe a Luz Acesa com ele?

Estávamos preparando o desenvolvimento de uma outra história, quando ele me deu um calhamaço de anotações, e-mails e comentários da fase em que ele tinha vivido um conturbado relacionamento que durou dez anos. Ele achava que esse material poderia trazer alguma inspiração para o projeto, mas quando acabei de ler, emocionado, disse pra ele que o filme estava ali mesmo. Imediatamente, ele concordou — talvez porque por se tratar de uma experiencia tão intima, tão pessoal, ele precisou de outra pessoa pra confirmar que aquilo daria um bom filme. Então, eu escrevi sozinho um primeiro tratamento do roteiro, baseado nos diários do Ira. A partir daí, trabalhamos juntos, afinando o roteiro, até chegarmos na versão final.

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Quais foram as dificuldades em transpor uma história real para a tela?

A partir do momento que decidimos que os diários do Ira serviriam como material básico de adaptação, ficou claro que o roteiro teria um tratamento realista e que iria enfatizar o ponto de vista deste personagem, o documentarista Erik, no filme. O longa conta a história da relação conturbada entre ele e Paul, um advogado enrustido, viciado em drogas e sexo. Mas também fala de amor, e de amizade. A ideia foi integrar tudo o que ocorre num relacionamento, sem julgamentos ou definição de um momento específico de ruptura. Espero que a fita mostre a complexidade de um relacionamento contemporâneo, com seus altos e baixos, mas sem julgamentos de certo ou errado. Também procuramos mostrar que viver em segredo, com vergonha, traz muitas complicações à vida.

Como foi vencer o Teddy em Berlim depois de escrever e filmar uma cena em que o personagem Erik ganha exatamente o mesmo prêmio?

Ira havia recebido o premio do júri no Festival de Sundance pelo seu filme Forty Shades of Blue. No auge da sua vida profissional, quando queria dividir a felicidade com seus entes queridos, o namorado havia sumido mais uma vez… Era um evento dramático que queríamos reproduzir no filme. O filme virou o documentário In Search Of Avery Willard, e o troféu de Sundance virou o Teddy Award em Berlim. Numa coincidência  inesperada, acabamos ganhando o Teddy de verdade!

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Quais são seus próximos trabalhos?

Escrevi com outros roteiristas uma cinebiografia de Joãosinho Trinta, que está em fase de edição e será protagonizada por Matheus Nachtergaele. Também estou negociando com a diretora Paula Lavigne o roteiro de outro longa biográfico. Além disso, estou trabalhando novamente com Ira Sachs. O filme vai se chamar Love Is Strange, e terá Alfred Molina e Michael Gambon no elenco.

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