Em show do Iron Maiden, veteranos e herdeiros do rock se misturam
Show da banda inglesa tem forte presença de famílias e crianças, conheça a história de amor de algumas delas
Há doze anos, Cristina, de 39, conheceu de verdade a banda inglesa. Ela casou com Heitor, 46 anos, e ele, fanático, não tinha um dia que ficava sem ouvir as músicas. “Foi aos poucos e acabei gostando muito”, diz ela com o uniforme oficial de um fã: a camiseta com as caveiras estilizadas do Iron Maiden. Heitor foi em quase todos os shows do grupo. “Só não estive no do Rio, em 92. Perdi a conta de quantos eu já fui”, diz. Os amigos Marcelo e André também são fãs: “Crescemos ouvindo Iron. É a nossa história”, conta André. A turma está se preparando para viajar ao Rio e assistir novamente a mesma apresentação amanhã. “Antigamente, a gente chegava e corria para a boca do palco. Hoje, a gente chega, acha o posto médico, dá uma passadinha lá para saber como é e assiste ao show”, diverte-se Marcelo. “O importante é estar aqui e ver a criançada curtir também. Daqui vinte anos, eles vão entender a importância disso tudo”, completa. Eles se intitulam ‘tiozinhos do rock’ ao tentar explicar para os mais jovens sobre a sensação de ouvir a banda ao vivo. “Um dia entenderão”.
ROQUEIROS DESDE SEMPRE
Nos ombros do pai, Bruno assistia atentamente a apresentação de Ghost, que abriu, junto de Slayer, o show do Iron Maiden, em São Paulo, nessa sexta (20). Nem mesmo as máscaras dos integrantes ou a maquiagem do vocalista da banda sueca assustavam o garoto de apenas 8 anos e camiseta da atração principal. Ele aguardava o show da banda – trinta anos mais velha que ele. O irmão, Marcos, de 12 anos, também curtia o grupo. Apesar da pouca idade, os dois já são veteranos na hora de acompanhar o pai em shows de rock. “Esse é meu terceiro Iron Maiden. Já fui no Lollapalooza, assisti a Pearl Jam, Pitty, Led Zeppelin”, diz Marcos, contabilizando com os dedos. Para o pai, essa é a herança a ser passada. “Se eles não podem vir comigo, eu não venho. Mostro música boa e quero curtir com eles”, diz. Os meninos não reclamam, aliás, pedem para ir. “Os lugares não tem estrutura para receber crianças e isso é ruim porque cada vez mais vamos ter mais famílias querendo aproveitar”, pontua o pai.
IRON X SÃO PAULO FUTEBOL CLUBE
Gabriel, 14 anos, foi pela primeira vez a um show de rock. Estava ansioso e não conseguia parar de sorrir. “Eu sou muito, muito fã mesmo”, diz, olhando para o pai, principal influência do gosto musical. “Eu comecei a gostar por causa dos meus amigos, na adolescência. E ficou. Agora, com dois filhos, eu entro no carro e é só isso que toca”, conta Fábio, o pai, que jura não proibir o filho de ouvir outros gêneros. “Eu não ouço porque não quero mesmo. Gosto de rock”, afirma Gabriel. Os dois também confirmaram presença no show do Black Sabbath, em outubro. “O problema é que não conseguimos um lugar legal para ver”, diz Fábio. Quando está sozinho, fica no meio da multidão, se vai com o menino, prefere o conforto da área premium onde mesmo na lateral do palco é possível ter perfeita visão. “Acredito que as empresas precisavam dar mais estrutura para quem está vindo com a família. Ele já não tem mais idade para ficar nos meus ombros, mas também não consegue ver de perto.” São Paulino, quando questionado sobre assistir a um jogo ou a apresentação do grupo, Gabriel não tem dúvidas: “Nesta situação, o show. Com certeza!”.
FUNK NA ESCOLA E IRON EM CASA
Rita virou fã de Iron Maiden depois que uma amiga, na década de 80, colocou para tocar o disco enquanto se falavam pelo telefone. “Não consegui mais parar e chamei a minha irmã para escutar junto”, lembra. Ela e Valéria batem cartão no clube Manifesto e fazem de tudo para fazer os filhos gostarem de heavy metal. “Na nossa época, as meninas gostavam de Menudos e só a gente, de Iron. Enquanto elas achavam esses meninos lindos, eu amava o Steve Harris”, conta Rita mostrando a foto do baixista no celular. A filha Flávia não teve saída: de tanto ouvir a mãe falar, foi escutar a banda. “Este é meu presente de 15 anos. É meu primeiro show e estou muito feliz”, diz a menina que não aguenta mais ouvir funk na escola. “Não consigo entender, não vejo graça. Meu irmão gosta de funk também. E olha que a minha mãe mostrou o que é bom”, afirma. E o pai, o que acha disso? “Ele tentou, tentou, mas não gostou. Então, ele vem trazer e vem buscar”, conta Rita. Para ela, a presença de famílias nas apresentações de Iron Maiden tem justificativa. “Eles são bons exemplos. Não usam drogas, viajam com as famílias. São bons conceitos a se passar para a próxima geração”, diz.