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OLÁ,

Documentário mergulha em ateliê com mais de 70 mil itens de Paulo Bruscky

Em entrevista a Vejinha, artista pernambucano revela os bastidores das gravações e adianta nova exposição, em Lisboa

Por Ana Mércia Brandão
28 jun 2025, 08h00
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Bruscky com a obra 'Mala Concreta' (2007): multiartista (Flavio Freire/Divulgação)
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Paulo Bruscky, 76, se organiza entre pilhas de documentos e obras em seu ateliê, localizado em uma rua de casas em Recife. De lá, saem trabalhos inusitados — e com prazo de validade, pelo menos em sua versão original. Isso porque o artista, por vezes, junta duas obras para criar uma nova, ou destrói uma peça para que outra possa surgir. “Faço coisas que não sei nem procuro saber”, explica, meio sem explicar. Para entender — ou simplesmente sentir — a arte de Paulo Bruscky, só mesmo conhecendo o homem por trás dela, tarefa que o novo documentário Bruscky: Um Autorretrato (2025) cumpre com louvor. “Me emocionei tanto que chorei umas duas vezes quando vi o filme pela primeira vez, porque ele foi no âmago. É o meu dia a dia. É a minha vida”, conta.

O longa, que chega no final do ano ao canal Curta!, e vai estrear no Cinema São Luiz, na capital pernambucana, e em festivais internacionais, foi lançado no Festival É Tudo Verdade 2025, vencendo dois prêmios na competição paralela, o de melhor montagem em longa-metragem e o de melhor pesquisa. Gravado durante um mês em 2023, em Recife e São Paulo, o processo foi livre, sem um roteiro fixo. “Quis que o filme fosse como uma performance dele, a partir do nosso encontro. Não é só sobre o Paulo, é feito com ele. Até porque ele mesmo já é a própria obra”, discorre o diretor, Eryk Rocha. “Não é um filme para falar o que é bom ou não. Está mostrando minhas emoções, meu processo de trabalho. Isso também é importante. A minha arte é consequência disso”, completa Bruscky.

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Bruscky imerso em seu ateliê, em Recife (Cortesia Galeria Nara Roesler/Divulgação)

No longa, acompanhamos o artista em suas caminhadas diárias pelas ruas de Recife. Ele toma café na padaria, faz compras numa loja de antiguidades em que já é conhecido pela dona, faz amizade em um bar. Pela casualidade, nem parece que aquele homem de barba branca e blusa polo é um dos expoentes da arte conceitual brasileira, que, desde os anos 60, desenvolve uma prática experimental espalhada por poesias visuais, livros de artista, performances, intervenções urbanas e filmes em super-8 — estes, parte menos conhecida de sua produção, aparecem no filme.

Bruscky conduziu Eryk em uma verdadeira escavação pelo próprio acervo. Em uma cena, ele se emociona lendo o poema Liberdade (1942), de Paul Éluard, uma ode contra o nazifascismo. Em 2018, em uma performance, fez chover o poema sobre o Recife, refletindo sobre “a ameaça de ascensão do fascismo e retorno aos tempos sombrios da ditadura no Brasil”.

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O artista diante de ‘Alto Retrato’ (Cortesia Galeria Nara Roesler/Divulgação)

No ateliê, onde passa boa parte dos dias, o artista guarda mais de 70 000 itens, seus e de outros artistas que coleciona. É dele a maior coleção de arte postal do Grupo Fluxus, movimento vanguardista dos anos 60, com a qual vai fazer uma exposição em Lisboa, prevista para setembro. Depois, vai abrir sua primeira individual em Lisboa, ambas na Galeria Zé dos Bois. Ainda sem data marcada, a mostra exibirá, entre outras obras, seus poemas visuais. Estudioso, ele também faz curadoria, como a de Vicentes — Monteiro: Entre Recife e Paris (1899-1970), em cartaz até 5 de julho na Danielian, no Jardim Paulista. Resultado da pesquisa de Bruscky, ela apresenta pela primeira vez ao público brasileiro os poemas visuais de Vicente do Rego Monteiro.

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Performance ‘O que É Arte? Para que Serve?’ (1978) (Cortesia do artista/Divulgação)
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Responsável por preservar obras de uma gama de artistas brasileiros e internacionais, o pernambucano critica a falta de políticas de preservação de acervos no Brasil. “Para fazer uma pesquisa (sobre um artista), você tem que ir a uns vinte lugares. Não existe uma linha de ação dos governos para preservar e guardar. Os grandes acervos estão na mão dos artistas.”

O filho de pai belarusso e mãe brasileira, servidor público aposentado, diz que vendeu sua primeira obra há dezessete anos, quando passou a ser representado pela Galeria Nara Roesler. “É por isso que eu tenho muita coisa, nunca me preocupei com o mercado de arte”, diz ele, que critica o que chama de uma ansiedade dos artistas para se inserirem no mercado e consequente acomodação à sua lógica. Para Paulo Bruscky, se um passante parou para olhar sua arte na rua, então ela já cumpriu sua missão.

Publicado em VEJA São Paulo de 27 de junho de 2025, edição nº 2950.

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