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O paulistano responsável pela direção de fotografia de ‘The Crown’

Adriano Goldman se destaca internacionalmente no seriado da Netflix

Por Miguel Barbieri Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 7 fev 2020, 17h27 - Publicado em 31 jan 2020, 06h00
Goldman no palácio Lancaster House: uma das locações de 'The Crown'
Goldman no palácio Lancaster House: uma das locações de 'The Crown' (Gordon Segrove/Divulgação)
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Em sua terceira temporada, o seriado da Netflix The Crown é conhecido pelas histórias dos bastidores da família real britânica, pela direção de premiadas estrelas, como Olivia Colman e Helena Bonham Carter, e pela impecável recriação de época — começou no início da década de 50 e chegou até 1977. O que poucos percebem, porém, é que, para que tudo fique muito bem orquestrado, há um diretor de fotografia, responsável pela iluminação e pelo posicionamento das câmeras, por exemplo. Quem realiza esse trabalho, desde que The Crown ainda estava no papel, é Adriano Goldman, paulistano de classe média da Zona Oeste, 53 anos de idade, casado com a artista plástica Patricia Tavares Soares e pai de dois rapazes (um fotógrafo e um designer gráfico).

As câmeras já eram parte do cotidiano de Goldman na adolescência, quando ele estudava no Hugo Sarmento. Em 1984, o jovem abandonou a faculdade de jornalismo na PUC para ser um “faz-tudo” na Olhar Eletrônico, a produtora que tinha Fernando Meirelles como um dos sócios. Mas foram dois filmes que impulsionaram sua vontade de se tornar diretor de fotografia: Blade Runner (1982) e Paris, Texas (1984).

A década de 90 foi dedicada à direção de programas e de acústicos na MTV (Legião Urbana e Seal, entre eles) e a uma temporada na televisão portuguesa. No início dos anos 2000, Goldman passou a fotografar documentários (como Surf Adventures), videoclipes e shows para DVD (Marisa Monte, Gilberto Gil, Lenine) e também enveredou pelo mercado publicitário. Reconhecimento maior, contudo, veio com O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias, representante do Brasil no Oscar 2008. Como arriscar é uma palavra que consta em seu dicionário de vida, ele deu um salto ao encarar sua primeira produção internacional. “Meu maior desejo era trabalhar em outras línguas e em um filme dramático, mais do que na comédia ou na ficção científica”, diz. O escolhido foi Sin Nombre (não lançado no Brasil), filmado no México sob a direção do americano Cary Joji Fukunaga, com quem depois faria o romance de época Jane Eyre.

Adriano Goldamn
O diretor de fotografia: teste com um membro da equipe antes de gravar (Gordon Segrove/Divulgação)

Goldman projetou seu nome com viagens por vários países, embora sua residência fixa fosse no Rio de Janeiro, para onde se mudou com a família no fim da década de 90. Foi em solo carioca, aliás, que ele escutou pela primeira vez algo de The Crown. Durante as filmagens de Trash (2014), produção entre Reino Unido e Brasil, soube que o diretor inglês Stephen Daldry (de Billy Elliot) e o roteirista Peter Morgan (A Rainha) estavam envolvidos num projeto para a Netflix de “uma ficção sobre a família real”. Goldman se ofereceu a Daldry para ser o diretor de fotografia — e foi aceito na hora.

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Ele já “iluminou” celebridades como Rachel Weisz, Jude Law e Anthony Hopkins (em 360), Meryl Streep e Julia Roberts (Álbum de Família), Robert Redford (Sem Proteção), Hilary Swank (A Condenação) e Bradley Cooper (Pegando Fogo), mas foi com The Crown que conquistou os prêmios mais importantes. É o único brasileiro a ter o Emmy (o Oscar da TV), o Bafta (o Oscar britânico) e o ASC (da American Society of Cinematographers).

Após o término da quarta temporada, cujas gravações devem ser encerradas em março, com estreia prevista para novembro, ele terá assinado 22 dos quarenta episódios (ainda supervisiona o que fazem os outros três diretores de fotografia, já que as filmagens podem ocorrer simultaneamente). O trabalho dura nove meses desde a preparação, com jornadas exaustivas de onze horas, cinco dias por semana: “Sempre chego antes ao set para circular e, assim, poder oferecer o melhor”, diz.

Como estava cansado de viver numa “ponte aérea” entre a Inglaterra e o Brasil, Goldman, desde 2018, mora em Londres. “Ficar longe da família resulta na solidão da expatriação”, desabafa. Ele vota nos indicados ao Oscar e tece elogios ao diretor de fotografia Roger Deakins, do drama de guerra 1917: “Ele fez algo exuberante. É uma experiência cinematográfica”. Também tem admiração pelas duas intérpretes da rainha Elizabeth em The Crown: “Claire Foy é extremamente profissional e exigente consigo mesma. Já Olivia Colman é mais madura e possivelmente um gênio”. Quanto a detalhes dos próximos capítulos, prefere ser discreto: “Terá Margaret Thatcher e a princesa Diana e irá até os anos 90”. Algum spoiler? “Será a melhor temporada.” É esperar para ver.

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Confira três filmes marcantes na carreira de Goldamn:

O ANO EM QUE MEUS PAIS SAÍRAM DE FÉRIAS > “O diretor Cao Hamburger realizou um trabalho delicado, e o ambiente no set era muito doce. Foi um filme que eu amei fazer.”

O Ano Em Que Meus Pais Saíram de Férias

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SIN NOMBRE > “Um divisor de águas na minha carreira, porque foi meu primeiro trabalho fora do Brasil e aquele pelo qual ganhei o prêmio de melhor fotografia no Festival de Sundance, em 2009.”

Sin Nombre
(Divulgação/Divulgação)

360 > “Além do elenco incrível, com Jude Law e Rachel Weisz, o filme tem um valor afetivo, porque é dirigido pelo Fernando Meirelles, com quem comecei a trabalhar na área, nos anos 80.”

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360

Publicado em VEJA SÃO PAULO de 5 de fevereiro de 2020, edição nº 2672.

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