Os prédios antigos que mantêm o passado vivo em São Paulo
Lugares antigos e abandonados erguidos décadas ou até séculos atrás contam a história paulistana e podem ser explorados em simples caminhadas
A maior cidade do Brasil tem mais de 460 anos de história contados em casas e prédios dos mais variados estilos e épocas. No último século, a velocidade com que a cidade se expandiu para cima e para os lados aumentou, e muitas construções com traços arquitetônicos antigos foram substituídas por arranha-céus modernos. Apesar disso, algumas construções parecem ter parado no tempo e, abandonadas, conservam os mesmos traços de décadas ou séculos atrás.
O jornalista Douglas Nascimento coleciona imagens e histórias de lugares assim que encontra pela cidade. Ele mantém o site São Paulo Antiga, onde divulga essas informações. Hoje, as melhores dicas de Douglas para quem quer viver uma experiência diferenciada numa São Paulo de outra época estão no radar de #hellocidades, plataforma de Motorola que incentiva a reconexão entre pessoas e as cidades onde vivem.
O começo
Quando a Lei Cidade Limpa entrou em vigor, em janeiro de 2007, as fachadas da cidade — agora sem letreiros e imagens grandes — ficaram mais evidentes para quem tem olhos bem treinados. Douglas Nascimento era uma dessas pessoas. Ele tinha o costume de flanar pelas ruas paulistanas com uma câmera fotográfica a tiracolo observando belos cenários de São Paulo.
Logo, Douglas acumulou um acervo grande de fotografias da cidade. “Comecei a catalogar e notei que algumas construções não estavam mais de pé. Percebi que lugares que existem hoje podem não existir mais amanhã”, pensou, ainda em 2008. No ano seguinte, colocou no ar o site São Paulo Antiga, que mantém imagens e histórias de uma cidade que, em muitos casos, realmente não existe mais.
“Busco lugares passeando, escolho um bairro e caminho sem pressa. Se necessário, posso até levar semanas para explorar a região toda”, explica Douglas, que agora tem também uma grande rede de leitores dispostos a indicar novos pontos de interesse cidade afora.
Nessa incessante exploração urbana para registrar e perpetuar importantes elementos paulistanos, listamos, com a ajuda de Douglas, algumas das construções mais interessantes do ponto de vista histórico, arquitetônico e simbólico. A maior parte desses lugares têm entrada proibida, mas vê-los de fora já é uma experiência e tanto.
Grandes fábricas paulistanas
Na virada do século XIX para o século XX, São Paulo começou a se transformar em uma potência industrial. No período, diversas fábricas foram erguidas sobre os mais diversos bairros da cidade, e algumas delas seguem compondo a paisagem paulistana.
Uma das mais simbólicas está localizada na Mooca. Inaugurada em 1892 para produzir gelo e cerveja para Cervejaria Bavária, a construção que ficou conhecida como Fábrica da Antarctica Paulista (Av. Pres. Wilson, 274; 3273-1000) se tornou sede definitiva da companhia em 1920. A fábrica se manteve em atividade até 2000 e, desde então, está parada, mas como patrimônio tombado.
A menos de cinco quilômetros dela, o bairro do Pari abriga uma joia da arquitetura paulistana. Trata-se da antiga fábrica do Leite União (R. Rio Bonito, 1206), construída entre as décadas de 1920 e 1930 com estilo art-déco e tipologia feita sobre cimento.
Casarões abandonados
Em uma das vias mais movimentadas do Centro, bem próxima ao Mosteiro de São Bento, a Rua Florêncio de Abreu é endereço de um sobrado com mais de cem anos de história, o único erguido em taipas francesas ainda de pé em São Paulo. Conhecido como Casarão Marieta Teixeira de Carvalho (n° 111), teve a construção concluída em 1884 e foi residência de Marieta e seu marido, Coronel Carlos, duas vezes eleito senador de São Paulo – a casa é patrimônio tombado. Ainda nessa rua, é possível ver um lindo prédio de dois andares (n° 217) erguido em 1892 e um de três andares (n° 327) recém-restaurado.
História viva na Zona Leste
Não são apenas prédios, mas uma vila inteira repleta de tradição e construções históricas. A Vila Maria Zélia (entrada pela R. dos Prazeres, 362) recebeu esse nome em homenagem à filha falecida do empresário Jorge Street, que idealizou o projeto que abrigou 2.500 trabalhadores industriais. O trabalho do arquiteto Paul Pedraurrieux levou alguns anos — entre 1912 e 1917 — para ser concluído, e hoje é patrimônio tombado da cidade.
Mais antigas, mas não menos importantes, são as ruínas do Sítio Mirim (Av. Assis Ribeiro, 10573), em São Miguel Paulista. As paredes que se mantêm de pé são o único vestígio de uma casa bandeirante construída com técnica de taipa de pilão, entre os séculos XVII e XVIII. Embora esteja completamente abandonado, o local é patrimônio histórico tombado e aberto à visitação.
Você se interessa pela exploração urbana e por lugares abandonados? Conhece outros que não estão na lista de Douglas? Faça suas próprias expedições pela cidade e registre esses momentos nas redes sociais com a hashtag #hellocidades. Redescubra a São Paulo antiga e reconecte-se com a São Paulo atual em hellomoto.com.br.