Todos os lances do Mundial
Do sexo à política, a Copa do Mundo na perspectiva de craques da capital que atuam nas mais variadas posições
Os lucros (e prejuízos) com o evento, as manifestações das ruas, o sexo na concentração, o stress das grandes decisões no organismo de atletas e torcedores, a receita para vencer e a Neymar-dependência — esses e outros temas abordados por 21 craques da cidade em suas respectivas áreas de especialidade.
- Imprensa internacional critica a abertura da Copa no Brasil
- Confira nossa cobertura ao vivo #vejaspnacopa
FAZER BOA PROPAGANDA DE SÃO PAULO É FÁCIL. BASTA MELHORAR O PRODUTO – Washington Olivetto, Publicitário
Se nos próximos trinta dias ninguém buzinar no trânsito, todo mundo jogar o lixo no lixo, todos os motoristas respeitarem as faixas de pedestres, os homens, as mulheres e as crianças desligarem celulares e games nos cinemas, teatros e restaurantes, os ciclistas usarem as ciclovias em vez de circularem no meio dos carros, ninguém incendiar nenhum ônibus nem depredar nenhum monumento, todos os senhores e senhoras recolherem os cocôs dos seus cachorros nas ruas, ninguém estacionar em fila dupla nem furar nenhuma fila, todo mundo beber com moderação, ninguém explorar nem roubar ninguém, nenhum motorista jogar o carro, ônibus ou caminhão em cima de nenhum motoqueiro, nenhum motoqueiro chutar nenhum retrovisor, ninguém fumar em lugar fechado, ninguém desperdiçar luz ou água, muita gente ceder o lugar no ônibus ou no metrô para as senhoras e para os mais velhos e todo mundo se lembrar de dizer obrigado de vez em quando… Se nos próximos trinta dias acontecer tudo isso, vai haver uma porção de americano, alemão, argelino, argentino, australiano, belga, bósnio, camaronês, chileno, colombiano, coreano, costa-riquenho, marfinense, croata, equatoriano, espanhol, francês, ganês, grego, holandês, hondurenho, inglês, iraniano, italiano, japonês, mexicano, nigeriano, português, russo, suíço e uruguaio querendo vir morar em São Paulo. Ou, no mínimo, falando bem da nossa cidade para o resto da vida.
NEYMAR MAIOR QUE PELÉ – Mauro Beting, Jornalista
O ET Pelé tinha 17 anos quando ganhou o mundo, em 1958. Mas ele tinha ao lado Didi, eleito o melhor jogador da Copa na Suécia. O Rei do Futebol tinha Garrincha para driblar a lógica pela direita, além da bagagem cultural da Enciclopédia Nilton Santos na defesa. Pelé teve toda essa turma ao lado aos 21 anos, quando foi bicampeão mundial, em 1962. Em nenhuma outra Copa um campeão teve um protagonista com a idade de Neymar (22 anos). Antes dele, o mais jovem foi o argentino Kempes, campeão em 1978, com apenas 23 anos. Maradona tinha 25 quando ganhou quase sozinho a Copa de 1986. Messi fará 27 durante o Mundial. Neymar pode conquistar o título se ele for Neymar. É o único que pode desequilibrar o jogo para o dono da casa, não necessariamente da festa. Como Pelé, ele não joga sozinho. Mas o Rei teve em 1958, 1962 e 1970 alguns craques que não temos em 2014. Neymar pode superar Pelé.
DEUS E A ZAGA VÃO NOS PROTEGER – Marcelo Rossi, Padre
Gosto de futebol desde a infância e tenho guardado na memória todos os jogos da Copa de 82. Na hora em que o Falcão marcou o gol que fez o Brasil empatar com a Itália por 2 a 2 no famoso jogo do Sarriá, meu pai quebrou o lustre da sala ao pular durante a comemoração. Logo depois, infelizmente, o italiano Paolo Rossi marcou seu terceiro gol e acabamos eliminados. O pior é que o nosso carrasco tinha o meu sobrenome. Meu grande desejo neste Mundial aqui no Brasil é poder enfrentar a Argentina na final. O papa Francisco é argentino e também gosta de futebol. Sempre que uma partida se inicia, rezo para que os 22 atletas não se machuquem. Deus é Deus e não vai se meter no resultado, mas Ele pode fazer um jogador render mais. E eu peço para que Neymar faça o seu melhor. Temos também a melhor defesa do mundo, a mais celebrada e cara do futebol mundial. Estamos protegidos.
A MODA ESTÁ NOS CAMPOS – Flavio Rocha, presidente da Riachuelo
O Brasil tem batido um bolão na moda. Curiosamente, até arrisco dizer que o futebol se elitizou em alguma medida, enquanto a moda se popularizou com muita elegância. E eu não consigo ver melhor momento para mostrar ao mundo que a alegria que sempre caracterizou o nosso futebol contaminou a moda. Nossas vitrines estão nas ruas e nos shoppings, exibindo ao mundo as cores de nossa modernidade, de nossa até singela sofisticação e de nosso otimismo. Vencemos preconceitos, vencemos a síndrome de vira-lata e estamos muito perto de ser campeões.
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OURO, CHAMPA E PIPOCA – Val Marchiori, socialite e apresentadora
Hello! Copa por aqui? A princípio achei um absurdo, onde já se viu? O brasileiro é um povo sofrido, deveríamos ter usado esse dinheiro em benefício do nosso país, principalmente na saúde. Mas acho que a Seleção Canarinho não deve pagar o pato pela nossa insatisfação com o governo. O Felipão e sua turma de craques (só não me perguntem o nome dos jogadores…) merecem nosso voto de confiança. Somos referência no futebol. Além disso, devemos receber muito bem os nossos convidados estrangeiros, com a mesma simpatia com que recebemos visitas em nossa casa. Não é todo dia que estamos cercados de italianos, suecos e americanos pelas ruas da cidade. Merecemos essa alegria. Eu estava um pouco morna com relação à Copa, mas estive recentemente em um evento no Rio e pude sentir toda a energia que já está rolando por lá. Então, hello!, vamos combinar que, quando a gente ouve o Hino Nacional, não dá para ficar neutro. Já estou com minhas esmeraldas e muito ouro (kkkk…) para torcer. Vou vibrar muito com uma boa flûte de champa na mão. Lá em casa, eu, o maridão e as crianças estamos bem preparados. A pipoca e as bebidinhas já estão reservadas. É tempo de festejar e deixar a casa verde-amarela. Vou torcer e depois, na urna, pretendo mostrar o desagrado com os governantes. Meus filhos, que já estão com os álbuns de figurinhas da Copa completos, vão me ensinar o nome de alguns jogadores. Vamos, Brasil, adoro festa. Rumo ao hexa!!!
NA COZINHA DA ÁREA – Alex Atala, chef de cozinha e dono de restaurante
Como todos, tenho orgulho da nossa seleção, desses garotos de ouro. Como cozinheiro, tenho orgulho de ser brasileiro, dos nossos ingredientes, da nossa cozinha, dos nossos chefs. O Brasil é o único país do mundo com uma legião de jovens profissionais nessa área, que são e serão embaixadores desta marca Brasil e precisam ser apoiados! Gastronomia também é cultura e tem um potencial infinito. Mas temos de fazer uma lição de casa: a cozinha brasileira passará a existir quando ela não for dos chefs e, sim, do povo. Assim acontece no mundo da bola, com o campo, as partidas em cada várzea, a paixão das arquibancadas. O futebol é capaz de nos unir para jogar, torcer, vibrar. Mas a maior rede social do mundo é o alimento. Por meio dele podemos conquistar uma grande mudança social, ambiental e cultural.
OS CLÁSSICOS DO TOPETE – Celso Kamura, cabeleireiro
O time brasileiro é eclético, tem muita personalidade e reflete a diversidade do nosso país. O Neymar virou um ícone mundial e tem seu visual copiado por milhares de fãs. Ele popularizou tinturas, chapinha e moicanos, acabando com a visão machista de que homem não pode ousar. Ele colore, depois não gosta, corta, alisa, muda de novo… Em alguns outros jogadores vejo uma influência grande dos anos 70, como o zagueiro David Luiz com seu estilo black power. O Cristiano Ronaldo é metrossexual demais. Tem uma sobrancelha muito desenhada e acho que se fosse mais natural ficaria melhor. Os asiáticos adoram colorir o cabelo e os africanos investem nas tranças. A verdade é que antigamente não tínhamos tantos jogadores com essa preocupação. Depois do Ronaldo Fenômeno veio uma leva de craques buscando um visual próprio. Os meninos do futebol atual se importam com a aparência, pois sabem que serão vistos, admirados e copiados.
SOMOS (QUASE) PADRÃO FIFA – Dan Stulbach, ator
A cidade que os estrangeiros vão encontrar será a mesma de sempre. Nada mudou, somos os mesmos. Caóticos misturados, estressados apaixonados…Trânsito não é mais nossa exclusividade. Mas exportamos know-how de corredor. Que devia correr, mas não anda. É o andador. Só não pode carro, que por aqui devia pagar IPTU. Mas ainda somos a cidade do teatro, do bom teatro, do teatro para todo gosto. Ainda somos a cidade que come bem, que anda mais cara que antes, mas com cantinhos e chefs que ninguém tem. Na verdade, a gente é melhor na noite do que no dia. Coisa de quem trabalha. E claro que tem pilantra também. E como tem. Brother, saiba que a nossa cidade não vai te abraçar de cara. Porque não somos bons nisso. E porque estamos tensos. São Paulo é melhor com um amigo ao lado. Se puder, arranje um. É no encontro, na diversão, no abraço com alguém daqui que somos melhores.
A COMPETIÇÃO DAS SELFIES – Leonardo Tristão, diretor do Facebook Brasil
A selfie tem tudo para ser uma das grandes estrelas da Copa. Futebol é momento, emoção instantânea. Não há forma mais expressiva de traduzir o valor daquele acontecimento do que nesses autorretratos. Entre os atletas, essas imagens já se mostram como uma das principais formas de iniciar uma conversa pessoal com os fãs, compartilhando o clima de bastidores dos treinos, e mesmo buscando apoio para o jogo. Elas têm um poder de comunicação incomparável que humaniza a figura do ídolo. O Neymar, por exemplo, tem mais de 5 milhões de seguidores no Instagram. Assim como ele, outros vários jogadores mostrarão os bastidores do Mundial e os momentos raros que estão vivendo a seus fãs espalhados pelo mundo. Além dos atletas, as selfies devem ganhar corpo entre os milhões de fãs de futebol pelo mundo, que terão junto a si os smartphones e aparelhos com câmeras capazes de retratar momentos de vibração que serão únicos em suas vidas.
PARA QUEM NÃO TEM INGRESSO – Facundo Guerra, empresário da noite
Mutante e abrigo de lindos loucos, São Paulo precisa de um guia para ser desbravada por completo por aqueles que virão curtir a Copa fora dos estádios. A cidade só revela toda a sua potência à noite. São tantas opções, em espaços públicos e fechados, que a maior dica que eu poderia dar ao visitante é que procure um paulistano para chamar de seu. A metrópole é um paradoxo: feita por estrangeiros, mas não para estrangeiros. Estes, quando aqui chegam, sofrem com a desorientação. Sem horizonte, cartões-postais ou facilidade de fluxo, acabam se perdendo. Daí que não foi feita para o turista, mas para o viajante. Secretamente, temos orgulho e nos deslumbramos com aqueles que ainda insistem em vir para cá. Porque o maior segredo daqui somos nós, os paulistanos. Todos somos estrangeiros nesta terra.
- Confira o nosso guia das cidades-sede da Copa. Veja também a versão em inglês
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CERVEJA, A PARCEIRA IDEAL – Manoel Beato, sommelier
Argumentos, ponderações e justificativas não são poucos para quem degusta e gosta de erguer a taça. Há os que preferem a delicadeza do bourgogne à robusteza do bordeaux. Entre os amantes da efervescência, foi-se o tempo em que se discutia o perlage (borbulhas) do champagne. Hoje o assunto gira em torno da diversidade e das características das cervejas artesanais, das virtudes ou exageros no amargor de um estilo, assim como dos paralelos entre estilos: english pale ale ou india pale ale? Nesses tempos de Copa, sempre com um copo na mão, surgem abrasantes discussões. Maradona ou Messi? O estilo plástico ou o pragmático? O fato é que somos fanáticos e, assim, discutimos sempre com fervor, em relação tanto às boas bebidas quanto ao inebriante futebol. Fanáticos são muito sentimentais e um tanto insensatos. Desconsideram o imprevisível. Uma safra fraca, uma garrafa malcuidada, a destreza do adversário, ainda que o mundo seja sempre a tal caixinha de surpresas. O fanático é um sujeito superconfiante. E perseguidor do seu prazer. O que vale é um belo gole, ou um belo gol. E que seja, de preferência, a nosso favor.
TORNEIO TRAGICÔMICO – Felipe Andreoli, repórter do CQC
Para gargalhar de felicidade nesta Copa, só mesmo com os olés dos nossos jogadores em cima dos adversários. Porque, de resto, é tragicomédia. Eu ri muito quando a presidente Dilma Rousseff discursou em rede nacional na terça (10) dizendo que modernizou os aeroportos e os sistemas de transporte. Naquela mesma tarde, peguei a ponte aérea no Aeroporto Santos Dumont, no Rio, e a atendente levou meia hora para fazer o check-in, quase perdi o voo. No início, fiquei mal-humorado, mas depois caí na gargalhada. Ela não sabia mexer no computador, colocar as etiquetas nas malas, marcar assento. Parecia piada. Acredito que a Copa no Brasil vai ter trapalhadas parecidas com as da África do Sul. Lá, também era meio confuso: obras finalizadas em cima da hora, furto de equipamentos, voluntários desorientados, placas de trânsito amalucadas. Depois da cerimônia de abertura, nosso motorista se perdeu na volta ao hotel e fomos parar em uma espécie de favela. Ficamos presos no meio de uma multidão que tomou as ruas. Éramos chacoalhados dentro do carro. Foi complicado entender que aquilo era uma comemoração, e não uma manifestação. Não duvido que algum turista estrangeiro viva essa mesma cena no Brasil. Nossos atletas são muito bons, talentosos. Mas a infraestrutura do nosso país é uma palhaçada.
A COPA FORA DO CAMPO – José Arthur Giannotti, sociólogo da USP
Um Brasil poderoso e vitorioso no esporte. E outro Brasil de uma população pobre que demanda mais consumo. Nesse campo em que duas realidades opostas e concomitantes se enfrentam, um resultado se mostra certeiro: a Copa do Mundo no nosso país será quente, bem mais passional do que nos últimos anos. Isso ocorre porque estamos no fim de um ciclo econômico e político iniciado a partir da era Collor, em que o desenvolvimento tem se baseado no reforço da demanda sem preparar a oferta correspondente. Com o passar dos anos, os brasileiros perceberam que não adianta comprar a televisão de LED, o carro do ano, se não conseguem se locomover na cidade ou ter um atendimento digno em hospitais ou uma educação decente para os filhos na escola pública. A inflação começa a corroer os salários. E o povo tomou as ruas desde o ano passado para protestar. Nesse cenário, as despesas com os estádios padrão Fifa aparecem como monstruosidades. Embora a Copa do Mundo não seja um símbolo do consumo, um ingresso para assistir às partidas nos recém-inaugurados templos do futebol torna-se um objeto de desejo que, pelo preço, muito poucos poderão adquirir. Entre o grito do torcedor e os brados dos manifestantes, a seleção brasileira vai definir qual vai soar mais alto. Se nossa seleção erguer a taça, as faixas que pedem saúde, educação, transporte, enfim, serviços públicos dignos, vão se abaixar temporariamente. Não sou um derrotista, quero que o Brasil ganhe a Copa. Mesmo porque estamos no fim de uma era, e o legado de seus problemas voltará à tona e precisará ser solucionado. Trata-se de uma “partida final” que pode ser adiada, mas é inevitável.
DRIBLES E ACORDES – Nasi, vocalista do Ira!
No documentário Simonal — Ninguém Sabe o Duro que Dei (2009), quando fala sobre a amizade com Wilson Simonal, Pelé diz que “todo cantor gostaria de ser jogador e todo jogador gostaria de ser cantor”. É a mais pura verdade. A música, como o futebol, desperta o sonho da conquista individual, de ascensão por meio de um dom natural. É claro que, para cada artista que consegue uma carreira de sucesso, existem milhares que ficam à beira da estrada, no anonimato. No futebol, a mesma coisa. Eu mesmo, ainda garoto, em 1977, participei de uma peneira com alguns amigos no São Paulo Futebol Clube. Queria ser volante. É por causa dessa relação que toda Copa do Mundo tem as suas músicas, oficiais ou não. É uma pena que, mais recentemente, tenham pipocado canções cada vez mais pasteurizadas, que nada têm a ver com a cultura local do país-sede. Ninguém merece esse rapper Pitbull! Só que isso não importa. A seleção brasileira sempre tem um samba na ponta da língua para embalar o campeonato. É natural, e é assim que deve ser.
SEXO? SÓ COM A TAÇA NA MÃO – Vampeta, ex-jogador e presidente do Audax
Tenho este jeito alegre, descontraído, já posei nu (na revista G Magazine, em 1999), mas, ao contrário do que parece, sou contra o sexo antes de grandes torneios. Só com a taça na mão, depois de ganhar o campeonato. Sempre pude pegar mulher durante minhas folgas, por que iria me preocupar com sexo logo numa Copa, que ocorre a cada quatro anos, uma baita responsabilidade e honra para o jogador? Não. A concentração faz bem ao atleta. Quando morei na Holanda (entre 1994 e 1998, jogando no PSV Eindhoven), eu passava as noites com minha namorada e, na manhã seguinte, tinha de jogar. Percebi que meu rendimento era afetado. Fiquei trinta dias sem sexo na Ásia, na Copa de 2002, quando fomos pentacampeões. E o Felipão nunca proibiu nada. Só era bem enfático ao falar sobre a responsabilidade de representar uma nação. Eu saía sozinho, passava no supermercado, comprava um vinho e tomava assistindo aos jogos na televisão. Matava minha vontade de sexo sozinho, e, mesmo assim, só depois das partidas. Não saía do hotel para passear, e, na hora de ir aos jogos, havia muita segurança. Nunca teve isso de abrir a porta do quarto e dar de cara com uma mulher nua esperando. Quando acabou, pegamos o avião de volta. Aqui, sim, pude celebrar. Aliás, estou celebrando há doze anos. Acho que os atletas brasileiros serão mais assediados nesta Copa. As mulheres falam o mesmo idioma, a tentação será maior. Agora, se o atleta decidir investir nessa área, mas fizer o gol no final, estará tudo certo.”
DE OLHO NA GORDUCHINHA – Daniel Magnoni, médico e nutrólogo do HCor
Durante esta época de festas e jogos, é normal extrapolar na dieta. Afinal, ninguém vai assistir às partidas comendo uma saladinha. Mas o excesso de sal pode acarretar aumento da pressão arterial. Uma boa ideia é adotar uns petiscos alternativos. No lugar da pipoca, que tal canapés de salmão defumado com cream cheese? Ou bolinhos de arroz integral? E palitinhos de cenoura e pepino com molho de iogurte? Sucos antioxidantes também ajudam, como uva, acerola, pitanga e romã. Mas, se você não quer abrir mão da cerveja, duas latinhas não vão lhe fazer mal.
CORAZÓN BRASILEÑO – Fernando Meligeni, ex-jogador de tênis e comentarista
Apesar de morar em São Paulo há quase quarenta anos, sempre me perguntam sobre a questão da rivalidade com a Argentina, país onde nasci e vivi até os 4 anos. Meu coração sempre é do Brasil, poxa! A única diferença entre mim e os outros brasileiros é que também não tenho motivo para torcer contra o time do Messi. Mas, claro, no caso de um duelo entre as duas equipes, fico com a camisa verde-amarela. Na minha casa, porém, a história é outra: meus pais e minha irmã são 100% Argentina. Minha mãe é a torcedora mais ferrenha: vivo brincando com ela, dizendo que o Messi não joga nada e que o Irã vai se dar melhor. No fundo, acho que essa rivalidade, desde que sadia, faz parte do esporte. O importante é que, ao fim do jogo, todos saiam abraçados, prontos para tomar uma cervejinha — mesmo que seja para um afogar as mágoas e o outro celebrar.
- Leonardo DiCaprio e outras celebridades que passaram pelo Itaquerão
- EM VÍDEO: as cenas do confronto na abertura da Copa em São Paulo
ITAQUERA, HERE WE GO – José Victor Oliva, empresário do ramo de eventos
Hoje, não há mais a classe que antes chamávamos de elite, um clube pequeno e fechado. Ela deixou de existir. Os tais vips são um bolo de pessoas antenadas e de diferentes áreas, de classes variadas. Não têm preconceito se o evento é no Morumbi ou em Itaquera. Essa coisa de a pessoa ser sócia do Clube Harmonia e por isso não frequentar outro lugar não tem mais cabimento. As barreiras geográficas deixaram de existir, até porque um imóvel em Itaquera pode valer mais do que outro em bairro central. O país precisa aproveitar a oportunidade da Copa para transformar torcedores em turistas. Eu já me enchi de gente que fala mal dos jogos. Nesses mais de trinta dias de evento, temos de vender bem o Brasil, com a cortesia e a simpatia que são a nossa cara. Seja no restaurante, no shopping ou na rua. A Arena Corinthians ficou bárbara. Ela vai ser bem aproveitada não apenas pelo futebol, mas por convenções, shows e exposições. Será possível fazer dinheiro com diversos negócios por lá. Agora, após o término da Copa, temos de fazer uma reflexão séria para ver o que houve de errado em investimentos e no comportamento dos políticos. Nós, brasileiros, temos o poder e o dever de transformar o que achamos que está errado.
HAJA CORAÇÂO! – Sergio Timerman, cardiologista
Toda vez que a pessoa se encontra em um momento de emoção coletiva, como a Copa, ocorre a liberação de adrenalina e de outras substâncias na corrente circulatória, que levam o organismo a reagir com o aumento da pressão e da frequência cardíaca. Nas pessoas que têm maior risco de complicações cardíacas, isso pode causar arritmias e até infarto. A influência de eventos esportivos sobre a saúde dos torcedores tem sido pesquisada. Durante o Mundial de 2002, constatou-se um aumento de 63% na incidência de morte súbita cardiovascular entre os suíços. Nas Copas de 2006 e 2010, foram realizados estudos que demonstraram que o risco de homens sofrerem um infarto durante os jogos da seleção de seu país chega a ser três vezes maior. Dados indicam também que na primeira Copa realizada no Brasil, em 1950, houve um aumento da taxa de doenças cardíacas. Não é à toa que a Sociedade Brasileira de Cardiologia costuma alertar sobre a necessidade de medidas preventivas por parte dos torcedores antes de eventos como a Copa. Por isso, oriento meus pacientes mais instáveis a não assistirem aos jogos de maior expressão, pois qualquer emoção mais forte pode causar um evento cardíaco mais grave. Não podemos esquecer que a ingestão de bebida alcoólica e de cafeína, muito comum nesta época, pode acelerar esse processo. Existe um clima criado em torno do Mundial, e as pessoas ficam ansiosas naturalmente. Imagine o estado emocional do torcedor quando, aos 45 minutos do segundo tempo, surge um pênalti para o Brasil que pode definir a classificação da seleção. Haja coração!
VAMOS SECAR O ALEMÃO – Ronald Nazário, estudante e filho do Ronaldo
O meu pai tem muitas conquistas na carreira, sendo um de seus maiores orgulhos ter o título de maior artilheiro de todas as Copas da história. Ao todo, são quinze gols marcados. Para que ele siga dono desse recorde, vou secar o artilheiro alemão Miroslav Klose — que já fez catorze gols em Copas. Vou torcer com força para que ele não marque nenhum gol. Vou assistir aos jogos da Alemanha com os dedos cruzados. Por enquanto, não está nada certo de eu ver algum jogo em estádio. Eu não fiz álbum de figurinhas, mas ajudei a minha namorada a completar o dela (trocava com os meus colegas de classe as que ela precisava). Eu estou confiante no Brasil: acho o David Luiz ótimo na defesa, o Fred um bom oportunista para marcar gols, e o Neymar é o Neymar. Mas, além de ver os jogos do Brasil, vou assistir aos dos times fortes: Holanda, Itália, Espanha… Na final, quero saber ao certo o perfil de quem vai nos enfrentar.
MENINOS, EU VI – Paulo Planet Buarque, jornalista e advogado
Em 1950, eu era repórter do jornal A Gazeta Esportiva, que ia cobrir a Copa, e fiquei encarregado de acompanhar a seleção brasileira. A grande maioria daqueles atletas não treinava porque alegava contusões para permanecer no hotel para a visita das moças da vizinhança. Precisávamos ter tomado medidas de segurança para preservar a concentração dos jogadores, o que não foi feito. A motivação das pessoas com o time nacional em 1950 era completamente diferente do que é hoje. Naquela época nós éramos o país do futebol. Achávamos que não existia outra seleção à nossa altura. Na Europa, esse Mundial teve pouca repercussão, porque as seleções de lá estavam mais fracas, uma vez que os países ainda se recuperavam da guerra. Além disso, o futebol carioca e o paulista viviam um grande momento, o que era uma motivação extra para as pessoas irem aos estádios. Na partida entre Brasil e Suíça, no Pacaembu, os paulistanos ficaram maravilhados com aquele estádio moderno. E, diferentemente do que acontece hoje, não tínhamos nas arquibancadas aquele mosaico verde e amarelo. As pessoas iam vestindo roupas comuns. A torcida era grande; vivíamos um grande momento. As famílias se reuniam para ouvir as partidas pelo rádio, e as pessoas mais pobres iam para as padarias e açougues da região em que podiam acompanhar os lances. Mas foi infeliz a seleção posar com uma faixa de campeão às vésperas da final contra o Uruguai. Espero que aquela derrota sirva de lição para os jogadores que vão buscar o hexa.