Neste ano tive a sorte de ganhar meu presentede Natal antesda hora. O meu Corinthians foi bicampeão do Mundial de Clubes da Fifa. Foi um momento bacana para a cidade de São Paulo e para o Brasil.
Tenho licença esportiva e poética para cometer estas mal traçadas. Torço sempre para as equipes paulistas nas competições internacionais. Entendo o empenho de quem secaos rivais. Mas não é omeu caso. Sou fã do futebolbrasileiro em geral e do paulista em particular. Torci para o São Paulo contra o Tigre, da Argentina, e para o Santos contra o Barcelona, da Espanha. Sou admirador do talento de Neymar, que considero uma obra de arte. A queda do Palmeiras para a segunda divisão não foi, para mim, um momento de particular felicidade.
Mas, convenhamos, o novo título mundial do Corinthians foi o acontecimento cultural do ano em nossa querida capital. O deslocamento de milhares de torcedores daqui para o Japão representou um evento sem precedentes, pelo menos nessa escala, quiçá na história dos desportos. É páreo para a memorável luta entre George Foreman e Muhammad Ali, que levou para o pequeno país africano do Zaire centenas de jornalistas e celebridades em 1974. O triunfo sobre o Chelsea pôs o Timão no mapa-múndi. Como disse o ex-jogador Casagrande durante a transmissão da partida, “para quem ainda não conhecia o Corinthians, prazer”. Entregaria de presente minha coleção de figurinhas a quem conseguisse nos dar a interpretação japonesa da invasão do seu país. Será que os asiáticos sentirão saudade dos corintianos? Há controvérsias. Disso tenho certeza.
Fui para a Avenida Paulista com a minha mulher, Luli, e o meu filho caçula, Sammy, na tarde de domingo, depois da vitória. Os dois torcem para o mesmo time que eu. Ao subir a escadaria na Estação Trianon-Masp e ganhar a luz da Avenida Paulista, minha mulher repetiu nossa frase favorita do escritor americano David Sedaris, proferida em um outro contexto. Disse ela, em inglês, sem pensar: “My people”. Ou, em bom português, “meu povo”.
A cena parecia ter sido montada em uma realidade paralela. Eram muitos torcedores. Todos cantavam. Ninguém parava de entoar o “Salve o Corinthians…”. Alguns vendiam, por 5 reais, pôsteres da equipe campeã elaborados com fotos tiradas no estádio japonês. A agilidade pós-industrial do empreendedorismo alvinegro me surpreendeu, confesso. Havia no ar um cheiro forte e doce de uma fumaça que não me parecia ser o da marca Marlboro. Disputava-se um concurso de desfilar bandeiras. No centro disso tudo, havia um ciclista, certamente im portado de São Francisco, na Califórnia, ou do grande e maluco festival hippie do deserto de Nevada, Burning Man (homem em chamas,na tradução). Tirei foto. Coloquei-a no Facebook. Ele e sua bicicleta estavam cobertos por centenas de distintivos do time. Fazia pose ali. Só vendo. É um bando de loucos, mesmo.
A Paulista estava enfeitada para o Natal, com um Papai Noel gigante pendurado acima da avenida. A decoração contribuiu para o clima surreal dos festejos e também paraa felicidade geral da nação.
Houve um tempo em que a torcida do Corinthians era identificada com quem veio para São Paulo sem muito ou mesmo nada para tentar ganhar a vida e alcançar o sucesso. A Fiel, inspirada por essa história, busca sempre garra e dedicação no time. Seu imaginário é popular e aguerrido. Senti ali na Paulista que houve uma pequena mudança de tom. O Corinthians, junto com a cidade de São Paulo, alcançou o reconhecimento mundial. Fiquei orgulhoso. Do meu time, da nossa metrópole e do nosso país.
Boas festas!
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