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Croata não usa saia

Por Matthew Shirts
Atualizado em 5 dez 2016, 14h24 - Publicado em 30 Maio 2014, 23h11

Cheguei a Paris pela primeira — e única — vez na vida poucas horas antes do pontapé inicial da Copa de 1998, em companhia do escritor Mario Prata. Tivemos o tempo necessário para subir ao quarto, escovar os dentes e tomar uma ducha. Essa última ação acabou demorando um pouco mais do que se esperava. Eu não conhecia a tecnologia hidráulica dos franceses. Liguei o chuveiro com pressa. A água saiu gelada de uma mangueira improvável pendurada a meu lado. Gritei e pulei ao mesmo tempo, enrolando-me na cortina sem querer, de uma forma pouco corajosa. Esguichou água gelada pelo banheiro todo. Busquei refúgio num canto fora do alcance do líquido. Molhou até mesmo o carpete do quarto antes de eu me entender com a geringonça. “Vai ver é por isso que francês não toma banho”, pensei, preconceituoso, enquanto vestia rapidamente a camiseta da seleção e pegava a bandeira do Brasil em preparação para a partida de estreia na competição, contra a Escócia.

Fomos de ônibus do hotel até o bairro de Saint-Denis, na periferia da cidade, onde fica o estádio, Le Stade de France, mas tivemos de parar longe, não me lembro mais por quê. Estava eu ali a trabalho, para escrever sobre a Copa do Mundo, minha segunda, junto do amigo Mario Prata. Atravessamos a pé Saint-Denis, que mais parecia um bairro de país pobre do que a Paris da minha imaginação.

Encontramos pelo caminho dezenas de escoceses em graus variados de embriaguez. Dizia-se que estavam na Cidade Luz fazia uma semana. A combinação de densos pelos corporais masculinos com saias quadriculadas tornava fácil a identificação de sua nacionalidade.

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Um dos mais avantajados parou na calçada, sem aviso, em nossa frente e se dobrou para levantar a saia. Não sei bem o que eu esperava, mas levei um susto, o segundodo dia, diga-se, ao me ver diante do derrière do gringo. Ele não usava cueca nem nada, nadinha. Vim a saber depois que o “verdadeiro escocês” nunca usa nada debaixo da saia. Vivendo e aprendendo. Não era bonita a vista. Paramos eu e o Prata, os olhos esbugalhados, a tempo de evitar uma colisão. O escocês ainda virou a cara para trás e gritou para nós dois: “O Ronaldo já viu isto?”.

Esse momento está encravado na minha memória. Ficará comigo para sempre. Sei que a crônica, como gênero, dá margem a dúvidas, mas eu não iria inventar uma coisa dessas. Juro.

O encontro me veio à cabeça na semana passada em uma de minhas visitas de inspeção à Arena Corinthians, no bairro de Itaquera. Fui de metrô até o estádio pela quarta vez. Está lindo. Nada deve ao estádio da França. Mais uma vez o Brasil vai abrir uma Copa do Mundo contra um pequeno país europeu. O estádio é novo e fica fora do centro da cidade. Só de pensar fico com frio na barriga. Naquela ocasião, em 1998, o Brasil ganhou o jogo de abertura e perdeu a final. Vamos torcer para um resultado melhor desta vez. Croata, ao menos, não usa saia.

matthew@abril.com.br

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