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Cirque du Soleil traz a São Paulo show brasileiro

Dirigido pela experiente coreógrafa brasileira Deborah Colker, o espetáculo conta a história de um inseto que carrega em suas costas um fardo

Por Estadão Conteúdo
18 abr 2019, 08h55
OVO é uma corrida precipitada em um ecossistema colorido repleto de vida (Divulgação/Veja SP)
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Insetos quase alienígenas, psicodélicos: uma ficção científica carnavalizada. É assim que o designer de cenário e adereços Gringo Cardia define o espetáculo OVO, que chega a São Paulo nesta quinta-feira, 18, após breves temporadas em Brasília, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.

Dirigido pela experiente coreógrafa brasileira Deborah Colker, o espetáculo conta a história de um inseto que carrega em suas costas um fardo – o misterioso ovo que dá título ao show. Recém-chegado a uma comunidade de invertebrados, torna-se vítima de preconceito e exclusão. Sua sorte começa a mudar quando uma joaninha, também um tanto esquisita, se apaixona por ele.

Lançado em 2009, o espetáculo foi visto por mais de 5 milhões de pessoas em todo o mundo. É a primeira vez que desembarca em solo brasileiro, terra que lhe deu não só a diretora, a protagonista e parte da equipe técnica, mas também a ginga. “O brasileiro gosta muito de espetáculo de rua, de carnaval, de explosão de cores”, afirma Cardia. “Nós tentamos levar tudo isso ao espetáculo, que é muito colorido, barroco, um contraponto ao minimalismo europeu.”

A concepção do projeto levou quase três anos. No primeiro, a equipe transitava entre o Rio de Janeiro e Montreal, no Canadá. Foram 12 meses dedicados somente à construção do espetáculo, em um profundo trabalho de imersão. “Foi desafiador porque eu nunca tinha trabalhado dessa forma, tendo de construir todo o cenário antes de ensaiar”, conta Colker. “Nossa margem de erro era muito pequena, não havia a possibilidade de fazer grandes mudanças depois de experimentar o palco na prática.”

Havia liberdade total para escolha do tema. Os insetos foram vencedores pela forte ligação com o tema universal da natureza. “Eles trazem uma lembrança simbólica da infância, ao mesmo tempo que permitem uma brincadeira com o mundo visto de uma perspectiva macro, onde tudo é gigante e você se sente pequeno”, explica Cardia. Para ele, as possibilidades vão além: “Se você pensar bem, insetos se parecem com alienígenas. É como se estivéssemos trazendo o espaço sideral para dentro da natureza”, afirma.

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Deslocar olhares do macro para o micro é uma das propostas do espetáculo, que busca na expressão corporal do elenco demonstrar os gestos ordinários dos insetos, de comer a se coçar. São 50 artistas de 14 países: bailarinos, acrobatas, atores de movimento, palhaços corporais. “A diversidade que trazemos nesse espetáculo representa a gênese do Cirque du Soleil. Nos ensaios, ouvíamos seis línguas diferentes”, diz Cárdia.

A música é um dos pontos altos do show. Sob comando do compositor Berna Ceppas, a trilha passa por ritmos exclusivamente brasileiros, como samba, bossa nova, funk e xaxado. A percussão está presente em quase todos os momentos.

Pioneirismo. O espetáculo é histórico em diversos aspectos. Em 2006, quando foi convidada pela vice-presidência da companhia para dirigir o espetáculo, Deborah Colker se tornou a primeira mulher a comandar um show do Cirque du Soleil.

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“Lembro que ele me deu duas missões: criar uma história para todas as gerações e um espetáculo que pudesse perdurar por pelo menos 15 anos”, conta a diretora.

Além de Colker, faz história a atriz brasileira Neiva Nascimento 43, intérprete da joaninha que se apaixona pelo inseto estrangeiro. Carioca, filha de um palhaço e uma trapezista, assumiu o papel de Lady Bug em 2014, tornando-se a primeira protagonista brasileira da companhia.

Cardia afirma que as inovações do espetáculo, do pioneirismo das mulheres às aventuras musicais, fazem parte do DNA do Cirque. “A arte é inventar o tempo todo coisas novas e diferentes. O Cirque chama pessoas de fora para colocar em xeque as próprias certezas”, diz.

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Recepção

Nos últimos dois anos, o espetáculo foi apresentado nos Estados Unidos e na Europa. Cardia e Colker afirmam que a pegada brasileira não afastou o público internacional – muito pelo contrário. “A universalidade e a brasilidade estão no mesmo lugar. A nossa música é universal”, afirma Colker.

“Eu estive nas estreias em muitas cidades e o show foi bem recebido em todas”, conta. “Em Londres, no ano passado, nós tivemos a experiência curiosa de ocupar o Royal Albert Hall, em toda sua imponência de ouro e veludo, com ‘insetos pop’ e olodum.”

A diretora afirma ter sentido apreensão em relação ao Brasil. “É aquele ditado, ‘casa de ferreiro, espeto de pau'”, diz em tom de brincadeira. Medo infundado. “Eu percebi que os brasileiros se sentem donos do espetáculo, têm um carinho especial por ele”, diz Colker. “E estão certos: eu fiz esse show desse jeito porque eu sou brasileira, porque eu nasci no Rio.”

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Envelhecer. Como nas fábulas, os insetos da história assumem características humanas. “Um representa o trabalho, o outro a segurança. Temos os jovens rebeldes, as pulguinhas eróticas…”, lista Colker.

Juntos, formam uma mensagem maior. “Pode soar clichê, mas no fim é uma aposta no amor como cura para uma sociedade cruel e discriminatória”, afirma Colker. Ela conta que, há dez anos, não previa o quanto a ideia permaneceria atual. “O inseto que carrega o ovo hoje é o imigrante, o refugiado, o negro, o gay, a mulher… ele é o excluído, o outro”, diz. Para Cardia, a metáfora do ovo é perfeita. “É uma vida que começa. Há uma raiz filosófica do nascimento, da vida e das diferenças.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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