Cinemateca Brasileira vive crise administrativa
Mais de 60 funcionários foram demitidos desde março. Acervo de mais de 40 000 filmes está ameaçado
Os casarões do século XIX na Vila Mariana, onde funciona desde 1992 a Cinemateca Brasileira, viraram palco de uma crise digna de roteiro hollywoodiano. Em fevereiro deste ano, a equipe da instituição era composta por 124 funcionários. De março a setembro, 65 deles foram demitidos. Com menos mão-de-obra, diversas atividades do espaço acabaram comprometidas.
Segundo carta dos funcionários enviada a VEJA SÃO PAULO, algumas das consequências mais graves são a quase inoperância do setor de pesquisa e imagem, a diminuição da produção de novas cópias digitais do acervo e o fechamento da Biblioteca Paulo Emilio Salles Gomes aos sábados, dia em que costumava receber o público em geral.
A confusão começou em janeiro, quando a ministra da Cultura, Marta Suplicy, exonerou o diretor da Cinemateca, Carlos Magalhães, e não aprovou outro nome para o cargo, deixando a instituição sem liderança. A coordenadora do centro de documentação, Olga Futemma, assumiu as funções temporariamente.
Apesar de estar sob os cuidados da Secretaria do Audiovisual (subordinada ao Ministério da Cultura), a Cinemateca contava com grande apoio da Associação Amigos da Cinemateca que recebia verba direta da pasta. Em 2011, o dinheiro deixou de ser transferido.
De acordo com a Controladoria-Geral da União, havia irregularidades no uso do orçamento, como contratações sem processo seletivo e pagamentos não autorizados para remuneração da Associação. As suspeitas ainda estão sendo investigadas e nenhuma providência foi tomada.
A falta de repasses causou um rombo nas contas da Cinemateca. Em 2010, mais de 50 milhões de reais foram destinado aos projetos na Associação. Além dessa quantia, a instituição recebia outros 4,5 milhões de reais destinados diretamente a ela. Neste ano, serão apenas 7 milhões de reais.
Segundo o Ministério da Cultura, o valor é plausível, considerando que uma série de outras despesas são também arcadas pelo governo por meio de contratos paralelos.
Vários nomes da cena cultural da cidade, como a escritora Lygia Fagundes Telles e os cineastas Bruno Barreto e Hector Babenco, participaram de um abaixo-assinado que exigia medidas do governo para evitar o sucateamento do local. No último dia 14, cerca de cem pessoas se reuniram em frente ao prédio na Vila Mariana para exigir soluções. Até agora, nada de efetivo foi feito.
Nas palavras dos próprios funcionários, a expectativa para os próximos capítulos da novela não é das melhores: o futuro do acervo de mais de 40 000 filmes armazenados no local está ameaçado. “Nestes angustiantes oito meses em que assistimos ao desmonte da instituição, as propostas emergenciais esboçadas pelo Ministério da Cultura não se concretizaram, precarizando ainda mais os trabalhos da Cinemateca. Os cortes em custeio e investimentos – feitos pela Secretaria do Audiovisual e que ocasionaram os desligamentos de equipes – atingem diretamente o atendimento do público e o cumprimento da missão institucional da Cinemateca.”