Continua após publicidade

Cinco deslizes (e uma surpresa) do filme ‘Chatô – O Rei do Brasil’

Longa que levou vinte anos para ser concluído é uma colcha de retalhos confusa e pretensiosa, mas sem aparência de velharia

Por Tiago Faria
Atualizado em 28 dez 2016, 09h48 - Publicado em 12 nov 2015, 19h28
Marco Ricca em "Chatô - O Rei do Brasil"
Marco Ricca em "Chatô - O Rei do Brasil" (Divulgação/)
Continua após publicidade

A primeira surpresa sobre Chatô – O Rei do Brasil é que, sim, ele existe. O filme, que começou a ser produzido em 1995, tem 1h40 de duração e estreia na próxima quinta (19) em São Paulo.

+ Drama com Johnny Depp está entre as estreias da semana

O próprio diretor, Guilherme Fontes, será o responsável pela distribuição do longa. Antes da sessão para a imprensa, ele explicou sobre o estilo da fita a este repórter que ainda não sabia em qual gênero o filme se encaixava. “Drama? Comédia dramática? Biografia? Prefiro dizer que é uma ficção, e ponto”, disse.

Parece confuso? O que o público verá na tela espelha essa indefinição criativa e, claro, os percalços do projeto, indiscutivelmente o mais polêmico da história do cinema brasileiro. Chatô pode se tornar um pesadelo também para o espectador.

O resultado se mostra um misto de minissérie de época, cinema marginal dos anos 70, charge política e chanchada – com muitos acenos, claro, a Cidadão Kane, clássico de Orson Welles inspirado na vida do magnata da mídia William Hearst.

Fontes adapta o best seller homônimo de Fernando Morais com muitas liberdades e pompa: inicialmente, o orçamento era de 8 milhões de reais, mas alcançou cifras astronômicas. Em 2014, o diretor foi condenado pelo Tribunal de Contas da União a devolver 71 milhões de reais aos cofres públicos por ter usado dinheiro obtido por leis de incentivo e não ter lançado o filme. O realizador recorreu e aguarda nova decisão.

+ Louis Garrel virá ao Brasil

Continua após a publicidade

O roteiro retrata Assis Chateaubriand (1892-1968), fundador dos Diários Associados, como um “chefão” extravagante, excêntrico, dúbio, em parte visionário, em parte oportunista, e sempre pronto a usar a imprensa em benefício próprio. Marco Ricca dá ao protagonista uma interpretação acima do tom; certamente, de propósito.

Leandra Leal em “Chatô – O Rei do Brasil”

A seguir, confira os cinco deslizes da adaptação (e uma surpresa), que ocupará 25 salas paulistanas:

Continua após a publicidade

1.  As idas e vindas da narrativa deixam o espectador perdido

Guilherme Fontes optou por contar a história de maneira fragmentada, com flashes da trajetória de Chatô. Há trechos mais claros, como o que relata a infância do jornalista. Mas os primeiros dez minutos, sem eira nem beira, só serão entendidos por quem leu o livro de Fernando Morais.

2. Drama, comédia, thriller… Falta liga entre os gêneros do filme

Com elementos de drama, biografia e até thriller, o filme faz jus ao temperamento contraditório de Chatô, mas Fontes não dá conta de transformar essas partes do longa em um conjunto coeso. O diretor diz que o longa deve ser visto, no mínimo, duas vezes. Mas será que, no caso, isso é positivo?

3. E o ritmo?

A narrativa é uma montanha-russa: existem trechos acelerados (uma cena aérea com muitos efeitos especiais) e outros mais introspectivos. Sem controle do andamento do filme, Fontes leva o espectador ao tédio, principalmente na parte final. Parece uma minissérie da Globo condensada para caber em 1h40 de duração.

4. Sem contextualização

Para quem pretende entender um pouco sobre a trajetória de Chatô, a melhor maneira ainda é ler o livro de Fernando Morais: Fontes está mais interessado em mostrar uma série de impressões soltas sobre o personagem, sem o menor interesse de abrir frestas para a compreensão do espectador. Sobra pretensão, falta cacife e estilo para tanto.

5. Era para rir?

Entre um e outro trecho do longa, o diretor imagina um julgamento surreal de Chatô, com clima de chanchada. O problema é que, além de destoar do tom do filme, esses momentos servem apenas para repetir, de maneira exagerada, situações que a fita já havia retratado.

Continua após a publicidade

“Chatô – O Rei do Brasil”

…E uma surpresa:

Tecnicamente, o filme não envelheceu

A cuidadosa recriação de época, a direção de arte competente e o bom trabalho do elenco não deixam a fita com aparência de produto datado. E o envelhecimento dos atores durante os anos de produção, surpreendentemente, não salta aos olhos da plateia. Aos curiosos, no entanto, um alerta: nada disso resolve os muitos erros de um filme problemático por natureza.

Publicidade

Essa é uma matéria fechada para assinantes.
Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.

Semana Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

Impressa + Digital no App
Impressa + Digital
Impressa + Digital no App

Informação de qualidade e confiável, a apenas um clique.

Assinando Veja você recebe semanalmente Veja SP* e tem acesso ilimitado ao site e às edições digitais nos aplicativos de Veja, Veja SP, Veja Rio, Veja Saúde, Claudia, Superinteressante, Quatro Rodas, Você SA e Você RH.
*Para assinantes da cidade de São Paulo

a partir de 35,60/mês

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.