Cássio Vasconcellos apresenta mostra fotográfica de visitas à Mata Atlântica
Imagens inéditas e em grande formato compõem exposição na galeria Nara Roesler
Com imagens inéditas e em grande formato, a galeria Nara Roesler abriga até 17 de outubro a mostra Viagem Pitoresca pelo Brasil, dedicada a obras de Cássio Vasconcellos. Produzidas nos últimos três anos pelo fotógrafo paulistano de 59 anos, as dezenove imagens são resultado de suas incursões feitas na Mata Atlântica, em São Paulo, Paraná e Rio de Janeiro.
“Sempre fico pensando na emoção que artistas viajantes sentiram ao ver a exuberância da nossa natureza pela primeira vez”, diz Cássio.
No seu caso, as fotos contemplam um cenário menos abundante e retratam, muitas vezes, os vestígios e “o que sobrou” desse bioma. “Estamos rodeados de florestas remanescentes e boa parte infelizmente já foi destruída.”
Muitas das suas viagens foram feitas ao lado do botânico Ricardo Cardim, que acrescentou novas camadas de conhecimento e contexto às visitas.
“Senti na pele a experiência de ver o que restou. Quando você consulta o mapa, muitas são um pontinho no mapa e tudo em volta já foi desmatado”, ressalta. “Ao mesmo tempo que questionamos essa destruição, é exatamente o que está acontecendo hoje na Amazônia.”
Um dos destaques da mostra será o painel curvo, de 12 metros de extensão por 3 de altura, com a imagem de uma figueira da mata gaúcha.
“O desenho é muito forte, e fiz questão de colocar a árvore numa dimensão grande para mostrar sua força e potência. Do jeito que ficou, a pessoa próxima dela sente como se estivesse sendo abraçada.”
A curadoria é da crítica e pesquisadora Ana Maria Belluzzo. O título da exposição faz referência aos primeiros registros conhecidos das florestas brasileiras, iniciados pelo aristocrata e arqueólogo francês Conde de Clarac (1777-1847) e pelos chamados “artistas viajantes” do século XIX, como Jean-Baptiste Debret (1768-1848), que ao retornar à França publicou Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil (1834-1839).
Além da mostra, ele lança em 17 de outubro o livro Over (editora Afluente), editado por Julius Wiedemann e dedicado a elementos que representam “excessos” em ferros-velhos de lugares como Guarulhos, Osasco e o deserto do Arizona, nos Estados Unidos, em áreas com descartes de aviões.
Para cada composição, as técnicas do fotógrafo paulistano são divididas em várias etapas. “Envolve muito trabalho no computador, como se eu redesenhasse em cima da foto para ter a estética parecida com as gravuras do início do século XIX”, descreve.
“A floresta em geral é uma confusão visual. São centenas de planos, então acho que é fácil uma fotografia de floresta ficar sem graça. Uma imagem forte às vezes leva um dia inteiro, só andando pela mata para achar o local certo. É um bom desafio.”
Nara Roesler. Avenida Europa, 655, Jardim Europa, ☎ 2039- 5454. Acessível a cadeirantes. Seg. a sex., 10h/19h. Sáb., 11h/15h. Até 17/10. Grátis.
Publicado em VEJA São Paulo de 27 de setembro de 2024, edição nº 2912