Branco Mello: “O Titãs ainda é um desafio”
Vocalista fala sobre as comemorações de três décadas da banda, que se reúne com ex-integrantes para show no Espaço das Américas
Para celebrar os trinta anos de carreira, o Titãs planejou em 2011 uma série de shows no Sesc Belenzinho com o repertório completo do disco mais importante do grupo, Cabeça Dinossauro (1986), relançado no iTunes em edição especial. Era para ter sido simples assim – mas o projeto foi tão bem recebido pelo público que resultou em uma turnê com datas na Virada Cultural, no Circo Voador (Rio de Janeiro) e no Credicard Hall.
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No sábado (6), o quarteto formado por Branco Mello (voz e baixo), Tony Bellotto (guitarra), Paulo Miklos (voz e guitarra) e Sérgio Britto (voz e teclado) interrompe a série de apresentações – mas não o clima de festa – e reúne os ex-integrantes Nando Reis, Arnaldo Antunes e Charles Gavin no palco do Espaço das Américas. No roteiro, estão previstos hits de todas as fases, como Família (interpretado por Nando) e O Pulso (na voz de Arnaldo). Confira o serviço completo do evento.
Em entrevista, Branco Mello, 50 anos, fala sobre a programação especial de 2012, a convivência com a banda e os planos do disco novo, que vai ficar para o ano que vem. Confira:
VEJA SÃO PAULO – No fim do ano passado, o Titãs anunciou um CD novo para 2012, mas ele teve que ser adiado. A banda decidiu priorizar a nostalgia?
BRANCO MELLO – É um momento importante para o Titãs. Acho que seria estranho se a gente não comemorasse. A banda se programou para isso desde o ano passado. A turnê do Cabeça Dinossauro não era para ter sido tão grande. Foi um sucesso. Tantos anos depois, foi muito legal perceber que as pessoas ainda queriam muito ouvir aquelas músicas, ver aquele show. Mas estamos sim preparando um disco de inéditas. Chegamos a apresentar algumas músicas novas no show Futuras Instalações (em 2011). No próprio show do Cabeça a gente estava tocando algumas coisas. Então não tem isso de só só olhar no retrovisor.
VEJA SÃO PAULO – Selecionar as músicas para o show especial de trinta anos da banda é um desafio?
BRANCO MELLO – A gente tem um repertório muito grande. Ainda estamos ajustando tudo. O Nando, o Arnaldo e o Gavin vão participar de uma parte do show. O Nando vai cantar Igreja, Família, Marvin. Tudo isso altera um pouco o formato do nosso show. Ainda não sabemos como vai ficar.
VEJA SÃO PAULO – Quando a banda anunciou a reunião, no fim de 2011, a participação de Nando Reis ainda era incerta. Por quê?
BRANCO MELLO – Por alguns problemas de agenda, o Nando não estava podendo participar. Assim que abriu um espaço, ele conseguiu. A gente queria muito reunir os três. Mas só numa parte do show, até por conta da dificuldade de conciliar as agendas, ensaiar… É sempre complicado unir todos no palco. Achar uma data, um local para fazer os shows e um lugar para tocar juntos é sempre muito difícil.
VEJA SÃO PAULO – Nos trinta anos de Titãs, os integrantes se envolveram em uma série de projetos paralelos. É esse o segredo da longevidade do grupo?
BRANCO MELLO – Acho muito bom a gente ter os nossos trabalhos-solo. A gente se alimenta disso também. É um processo que se torna muito rico. Quando a gente está junto, trocamos essas experiências todas. A gente não vive junto. O Paulo (Miklos) está fazendo programa de TV, o (Sérgio) Britto tem o projeto dele… Tudo isso nos ajuda a respirar outros ares e evita que a banda se separe.
VEJA SÃO PAULO – Para a banda, garantir essa liberdade a cada integrante foi um aprendizado no decorrer dessas três décadas?
BRANCO MELLO – A gente aprendeu muita coisa nesses trinta anos. Uma delas é que não vamos nos privar da nossa individualidade. A banda não tem que ser uma prisão. A gente tem prazer nessa banda. É um sentimento único estar no Titãs. Não nos sentimos presos – é tudo um processo muito natural. Não nos sentimos obrigados a gravar um disco novo. A nossa agenda é feita para garantir o nosso bem-estar.
VEJA SÃO PAULO- Trinta anos depois, o Titãs ainda oferece desafios para vocês?
BRANCO MELLO – A banda ainda é um desafio. Nós nos encontramos, ensaiamos, temos uma vida normal de banda. Um grupo como o Titãs está sempre na estrada. A diferença é que, hoje em dia, a gente consegue cumprir essa rotina com mais planejamento. A gente tem plano de gravar um disco novo. Então vamos nos concentrar nesse trabalho e ficar meses trabalhando nele.
VEJA SÃO PAULO – Desde o início da história dos Titãs, a indústria musical mudou por completo. A banda se abalou por essa transição provocada principalmente pela internet?
BRANCO MELLO – Nós sentimos essas mudanças com muita naturalidade. Claro que mudou tudo. Com a internet, a crise na indústria fonográfica, isso tudo trouxe grandes transformações. Mas a gente ainda pensa a música de um jeito antigo. Quando vamos fazer um álbum, a gente quer gravar um disco com um certo conceito… É legal também ver que hoje as pessoas já não se apegam mais aos álbuns. Mas pensamos ainda de outra forma.
VEJA SÃO PAULO – Você ainda tem esse apego aos discos?
BRANCO MELLO – Não estou mais tão apegado a isso musicalmente. Eu não tenho comprado CDs. Mas acho que a gente tem essa formação e nos relacionamos com a música desse jeito.
VEJA SÃO PAULO – Nos shows da turnê Cabeça Dinossauro, é comum ver pais e filhos, pessoas de diferentes faixas etárias. O Titãs de 2012 fala a várias gerações?
BRANCO MELLO – Nosso público é muito misturado. Tem uma garotada que vai aos shows dos Titãs porque ouviu o disco dos pais, que curtiram os LPs, que conhecem os primeiros discos da banda, os singles… É bacana perceber que a gente tem essa renovação natural (do público). O Titãs é uma banda que está em atividade, que nunca parou. Vivemos situações complicadas, complexas. Mas estamos sempre atentos à importância de gravar música nova, de continuar produzindo. A reunião dos Titãs é, no fundo, muito simples: a gente está curtindo, celebrando.
VEJA SÃO PAULO – A boa resposta do público a essa celebração injeta ânimo na banda?
BRANCO MELLO – É bacana, mas o que dá um gás de verdade é perceber que a banda está inteira, unida, compondo, com vontade de estar na estrada, e isso independe da comemoração. A gente não faria um show com o repertório de Cabeça Dinossauro se não existisse esse espírito de cooperação na banda. Estamos em uma fase muito boa.