Beco do Batman ganha nova iluminação e atrai negócios para a região
Com o aumento do fluxo de turistas, a viela que virou cartão-postal mostra-se lucrativa para a abertura de casas, que vão de restaurantes a galerias de arte
Várias metrópoles do mundo têm uma região badalada e alternativa, que lembra uma galeria a céu aberto graças aos seus muros e paredes coloridos, além de galerias, restaurantes e bares bacanas ao redor. Em Nova York, esse lugar é Williamsburg, no Brooklyn. Em Berlim, o distrito Friedrichshain concentra o agito, com pinturas na fachada dos edifícios e no que sobrou do muro que dividia as duas Alemanhas.
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O Beco do Batman é a versão paulistana dessa tendência. Localizada na Vila Madalena, a viela de 170 metros que conecta as ruas Harmonia e Medeiros de Albuquerque começou a ter seus muros grafitados na década de 80. Desde os anos 2000, um grupo de artistas organiza os desenhos e faz um revezamento entre os grafiteiros para garantir a renovação, de tempos em tempos, dos cerca de cinquenta trabalhos exibidos no pedaço.
Ainda assim, demorou um bom tempo até que o lugar deixasse de ser ermo, deserto e escuro, o que gerava problemas como roubo de carros, para se consolidar como novo cartão-postal da metrópole. Foi nos últimos anos que o beco virou uma das locações preferidas de produtoras de filmes e comerciais na metrópole. Estrangeiros também adoram passear no lugar, a exemplo do guitarrista dos Rolling Stones, Ronnie Wood. Em fevereiro, durante a turnê brasileira do grupo, ele grafitou nos muros dali a famosa língua que é o logotipo da banda.
O agito em torno da área ganhou um novo impulso a partir do fim de 2015, quando um time de moradores, liderados pelo professor de física Dirceu Dias de Souza, conseguiu autorização da subprefeitura de Pinheiros para bloquear a Medeiros de Albuquerque aos sábados. Em maio, a viela foi oficialmente fechada pelo poder público municipal com blocos de concreto dos dois lados e recebeu treze postes com lâmpadas de LED. “A ideia é que as barreiras sejam em breve substituídas por floreiras e cancelas”, explica Souza.
Com as mudanças recentes, a badalação em torno do lugar cresceu e ele virou um polo de atração de negócios, incluindo restaurantes, lojas e galerias de arte. Em junho, a chef Bel Coelho, dona do Clandestino, restaurante de culinária contemporânea localizado na boca do beco, passou a promover o evento Canto da Bel. Uma vez por mês, sempre aos sábados, ela prepara pratos que custam no máximo 30 reais e são servidos em mesinhas instaladas na calçada em frente ao estabelecimento. O próximo está previsto para o dia 17. “Chegamos a servir mais de 400 pessoas em cada ocasião”, revela Bel.
Outro agito culinário do beco são os jantares organizados na loja de cerâmicas Muriqui, na vizinhança. Os banquetes, sempre capitaneados por um cozinheiro conhecido, começaram há alguns meses. Uma das que já passaram por ali foi Paola Carosella, estrela do programa MasterChef Brasil. “Ela me incentivou muito a promover esse tipo de encontro”, conta Gisele Gandolfi, dona da Muriqui. No dia 22 deve ocorrer um jantar para casais com menu da chef Silvia Corbucci.
Com o fechamento da viela, o trânsito de turistas estrangeiros passeando por lá cresceu. Segundo os vizinhos, nunca houve tantos gringos zanzando pelo bairro. “Eu adorei a música”, afirmou a designer gráfica holandesa Judith van Vliet, de férias no Brasil, falando de uma roda de samba que acontecia num dos cantos da rua durante sua visita ao local no mês passado. A estudante chinesa Lin Ziqi, que circulava com três amigos conterrâneos no mesmo dia, disse que gostou das barraquinhas dos ambulantes. “É muito prático ter onde comprar salgados e bebidas baratos”, disse.
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A multiplicação de visitantes é comemorada pelos comerciantes. “Com as mudanças ocorridas no beco, aumentou em 25% a quantidade de estrangeiros por aqui”, calcula Helô Bacellar, proprietária da casa de comidinhas Lá da Venda, um dos negócios instalados nas redondezas. A procura por parte de estrangeiros cresceu tanto que hostels como o Ô de Casa, na Rua Inácio Pereira da Rocha, passaram a oferecer tours guiados pelo beco. O trabalho é informal, ao estilo “pague quanto puder”.
A exemplo do que acontece com outros cartões-postais, aqui e fora do Brasil, o Beco do Batman começa a sofrer alguns efeitos colaterais do sucesso. O burburinho deixou uma parte dos moradores bem descontente. “Não sou contra o fechamento da viela, só não quero barulho o tempo todo”, afirma o aposentado João Batista de Souza, de 69 anos. Desde que nasceu, ele ocupa a mesma casa, na Rua Gonçalo Afonso.
Há quatro sábados, havia por lá uma grande muvuca, combinando desde rodas de samba até a filmagem de um clipe de funk. “Uma turma acha que, por estar na rua, pode fazer qualquer coisa”, diz Prozak, grafiteiro que atua há quase duas décadas na região. Atualmente, ele é um dos responsáveis pelo Local Studio Art, centro voltado para a preservação da memória artística do pedaço.
A nova iluminação e o maior movimento ajudaram a reduzir um problema antigo, o do furto de automóveis. Por outro lado, aumentaram os roubos de celulares e de máquinas fotográficas. “Já cansei de receber menina batendo na minha porta querendo usar o telefone para ligar para a família porque foi assaltada”, diz a aposentada Marilene Pamplona, moradora do lugar há 44 anos.
A 1ª Companhia do 23° Batalhão da PM, responsável pela área, informa que pôs mais viaturas rondando a área para coibir a ação dos bandidos, sobretudo nos fins de semana. A subprefeitura de Pinheiros, por sua vez, afirma que os eventos musicais no beco estão suspensos e que toda filmagem realizada ali deve ser aprovada previamente pela São Paulo Film Commission (órgão municipal responsável pela autorização de gravações na capital).
“Mas até vídeo pornográfico a gente já viu sendo gravado aqui”, contrapõe Marilene. Nesse cenário de fiscalização deficiente por parte das autoridades no Beco do Batman, talvez a solução seja chamar o comissário Gordon para pôr ordem na área.
O QUE HÁ DE NOVO NOS ARREDORES
A casa de chá passou a vender itens em barraquinhas na calçada.
Canto da Bel
Uma vez por mês, refeições por até 30 reais são servidas em mesas na calçada pela chef Bel Coelho. Rua Medeiros de Albuquerque, 97.
A nova galeria de arte contemporânea de Luis Maluf foi aberta em maio.
Muriqui
A loja de cerâmicas começou a organizar jantares com chefs famosos. Rua Aspicuelta, 99.
Misto de armazém e restaurante, virou um dos points preferidos dos gringos.
Galeria de arte urbana, registrou aumento de público com a revitalização.
Local Studio Art
Criado por cinco artistas da região no início do ano (entre eles, Prozak), o estúdio tem o objetivo de ajudar a preservar os grafites do beco. Rua Gonçalo Afonso, 117- F.