Artistas de ‘vida dupla’ trabalham na montagem de exposições e criam suas próprias obras
Quatro nomes que, além de se dedicarem às suas próprias produções, atuam nos bastidores, na instalação de outras instituições
De olho na tipografia marginal
Luis dos Santos Menezes, 38 anos, trabalha na instalação de obras em acervos privados e públicos, mas também volta sua atenção para a criação de esculturas como Objeto Modular Nº 01 (2018) e a foto Cego (2017). Quando artista, até seu nome muda, é Luiz 83. “É o ano em que nasci”, desvenda, entre risos, para depois explicar: “Minha pesquisa explora a tipografia marginal, mais especificamente, o picho. Mas não quero escrever uma frase, quero explorar a forma das letras, o volume e as cores”. Atualmente, Luiz tem obras em exibição na mostra coletiva Referências, em cartaz na New Gallery, em Pinheiros, até 24 de junho.
Experiência mineira em Mariana
Em 2017, Elton Hipólito, 37 anos, foi à região da cidade de Mariana (MG), atingida pelo rompimento de uma barragem dois anos antes. “Trabalhei como restaurador, ajudando no resgate de objetos sacros”, explica ele, que também atua na conservação e instalação de obras de arte: “Essas outras profissões custeiam minha produção”, explica. Da experiência mineira, criou em 2018 a série Marcas, que traz moradores e casas que foram destruídas. Abaixo, outra obra, Antes que Sua Paranoia…. (2021), da série (In) Rupturas.
Silenciamento da cultura africana
O artista CK Martinelli, 34 anos, fez de seu quarto um ateliê. Lá, produziu a obra acima, em 2019. O trabalho, que investiga o silenciamento da cultura africana no Brasil, é parte da mostra PretAtitude, que estreou em São Paulo há dois anos e segue em itinerância pelo estado. “Com a pandemia, além de montador de exposições, virei marceneiro e entregador em aplicativos”, diz ele, que participou da instalação das obras das mostras de Beatriz Milhazes, no Masp, e de Maxwell Alexandre, no Instituto Tomie Ohtake.
Atenção voltada para as crianças na periferia
“Conheci primeiro o grafite. Depois, passei a ir a museus e tive contato com a arte contemporânea. Me deu um bloqueio, fiquei dividido. Durante a pandemia, voltei a produzir”, conta Michel Onguer, 38 anos, que tem agora obras centradas na questão da infância na periferia, vide a pintura Criança sobre Tela (2021). Ele também divide sua rotina entre um projeto social e uma empresa de montagem de exposições, que criou em 2017. “Fazemos a instalação de obras, pensando, por exemplo, se a parede escolhida é segura para a fixação.”
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Publicado em VEJA São Paulo de 26 de maio de 2021, edição nº 2739