Artista paulistano cria lambes-lambes com gueixas
Gabriel Ribeiro, 30, tem obras nos bairros da Vila Madalena, Pinheiros e Sacomã, dentre outros

Os tapumes da futura unidade do Sesc na Avenida Paulista guardam uma surpresa para os paulistanos mais atentos. Em uma de suas faces, estão os lambes-lambes do artista paulistano Gabriel Ribeiro, 30. Parte da série Gueixas, eles trazem as personagens tradicionais da cultura japonesa com a face deslocada. De seu interior, brotam, como em um jardim, flores e plantas.
“Ao revelar o interior das personagens, falo sobre a visão superficial que temos de coisas e pessoas. Por dentro, todo mundo é cheio de ciclos, como a natureza. Nas minhas peças, gosto então de trabalhar essa questão e falar sobre a transformação. Uma pessoa muda em questão de minutos, ao aprender, por exemplo, algo novo”, explica o artista.

Gabriel começou o projeto em 2015. Sócio da produtora de vídeo Instinto Coletivo, ele queria desenvolver um trabalho autoral, que fosse diferente do que fazia cotidianamente.
O que era simplesmente uma terapia, começou a tomar outra forma quando os amigos o incentivaram a comercializar os trabalhos em feiras. Sua produção começou a reverberar em outros locais e surpresas surgiram. “Uma vez, fui atender um senhor que estava olhando as obras e ele começou a chorar. Disse que estava me procurando há tempos”, conta.
“Me falou que a mãe estava internada em um hospital na Liberdade e que havia um lambe meu lá perto. Toda vez que ia visitá-la, olhava para ele. ‘Era o meu único momento de calma’, me disse. Fiquei muito feliz, porque não tinha a dimensão de que minhas obras transformavam a cidade”.





Em 2018, o artista continua a colher frutos da empreitada. A convite do fotógrafo Gal Oppido, integra um projeto multidisciplinar que se debruça sobre Shunga, a arte erótica japonesa. Não há previsão para finalização, mas a iniciativa tem como uma das atividades a instalação de lambes-lambes sobre o tema pela cidade.
Para esse ano ainda, Gabriel também tem outro sonho, fazer um lambe gigante em uma empena de um prédio de São Paulo. Quem sabe, até dezembro, suas gueixas, que já ganharam o asfalto, ganhem também os céus.