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A arte olfativa de Karola Braga

Artista plástica cria obras nas quais o cheiro e o suporte transmitem mensagem ao público

Por Ana Garcia
Atualizado em 28 Maio 2024, 09h13 - Publicado em 6 jan 2023, 06h00
Mulher com cabelos curtos, branca, de camisa de manga curta estampada, segura uma fita olfativa próximo ao nariz, em frente a uma mesa de trabalho enquanto encara a câmera
Arte como cheiro: personagem, temporalidade e atmosfera (Leo Martins/Veja SP)
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A arte de Karola Braga, 34, conquista o público pelo nariz. Nascida em São Caetano, ela trabalha há oito anos em uma área quase inexplorada no Brasil: a arte olfativa.

Nesse tipo de expressão, as esculturas e instalações trazem aromas como parte de uma narrativa. “É bonito como o perfume anuncia uma presença, dá pistas sobre quem passou pelo lugar e se esvai com a ausência, virando lembrança”, ela diz. Desde os primeiros trabalhos olfativos, na conclusão do curso de artes visuais da Faap, em 2015, Karola desenvolve fragrâncias com perfumistas para inserir em esculturas de diversos materiais. Madeira, cerâmica e tecido podem se tornar suportes para os perfumes, com possibilidades que vão desde o cheiro de uma flor até aromas inusitados, como terra ou suor.

Diversos travesseiros de gesso fixados horizontalmente ao longo de uma parede cinza, ao fundo uma pessoa está cheirando um deles
Desde que você se foi: término contado por formatos e aromas em travesseiro (William Hartmann/Divulgação)

Na Bienal do Mercosul, em novembro, Karola exibiu uma obra sobre o luto: um lençol pendurado em um varal, cujas fibras emanavam aromas de “crisântemo, terra e lágrimas”. Fez em memória do pai, morto na pandemia. “O lençol tem várias camadas de significado. É na cama que ficamos quando estamos deprimidos, e é lá que as pessoas adoecidas passam os últimos momentos”, diz. “O cheiro integra uma narrativa: possui personagem, temporalidade, atmosfera. Uso elementos como cheiro de chuva, de grama, de mofo”, conta.

A perfumação das peças é feita por ela própria, o que já provocou contratempos. Ao tentar perfumar 100 moldes de uma vez em seu ateliê, no apartamento onde mora na Avenida São João, Karola foi parar no hospital por intoxicação. Está mais precavida. “Agora, produzo em pequenas quantidades”, afirma.

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Mulher com camisa rosa sem mangas e cabelos curtos e tatuagem no ombro direito aplica essência em peças idênticas de concreto no formato de um frasco de perfume, dispostas sobre uma mesa. São muitos frascos, que preenchem a mesa toda.
Karola durante a perfumação: processo artesanal (Felipe Fontoura/Divulgação)

Na obra Desde que Você Se Foi, Karola narra um fim de relacionamento usando travesseiros de gesso perfumados. Os aromas contam as trinta primeiras noites após a separação. No primeiro semestre, a artista vai recriar os bailes de Carnaval do início do século passado, após ser contemplada por um edital do Paço das Artes, em Higienópolis.

Publicado em VEJA São Paulo de 11 de janeiro de 2023, edição nº 2823

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