Arnaldo Antunes estreia mostra de rascunhos e manuscritos de toda a carreira
Compositor reuniu mais de 200 esboços e anotações para exposição no Instituto de Arte Contemporânea
A notações, desenhos e colagens de Arnaldo Antunes fazem parte da nova mostra Rascunhos, exibida pelo Instituto de Arte Contemporânea (IAC), na região da Consolação. Os esboços criativos do cantor e compositor, alguns registrados até em guardanapos, dividem espaço com uma seleção de quase 500 itens do acervo do instituto, incluindo personalidades das artes visuais, da poesia e do design.
Em vez de contemplar o trabalho final desses artistas, o conjunto de objetos dá uma visão íntima e não linear do processo de criação de cada um deles.
“No meu caso, os rascunhos têm vida própria e são uma intimidade revelada”, reflete Arnaldo. “Mas me sinto igualmente vulnerável nas duas instâncias: exibindo os esboços e o resultado final.”
Os muitos papéis guardados pelo cantor não seguem ordem cronológica (“não coloco data em nada!”), mas retratam sua forma de trabalhar desde o início da carreira, quando integrou o grupo Aguilar e Banda Performática e os Titãs, nos anos 1980. No total, são 240 itens extraídos de pastas, cadernos e gavetas.
“Acho que tenho um jeito bem caótico e uma maneira muito material de trabalhar, como se precisasse materializar as possibilidades. Sempre começo à mão, salvo no computador, imprimo e escrevo em cima do impresso”, conta.
“O estilo dele transita nos opostos, entre o mínimo e o máximo. Arnaldo não é morno em hora nenhuma. Tem poemas em que ele trabalha com uma única palavra, e, em outros, parte para o excesso, com muitas colagens, quase sem espaço no papel”, define o curador, Daniel Rangel. “O que não se encontra mesmo é aquela coisa plácida, cândida, um soneto. Ele é feito desses extremos e vai do silêncio ao barulho máximo.”
Para dialogar com a coletânea de manuscritos, o curador escolheu documentos de nomes como Hermelindo Fiaminghi, Iole de Freitas e Regina Silveira.
]“São artistas da mesma linha do tempo de Arnaldo, um grupo que produziu obras com várias linguagens a partir da década de 1950”, resume Daniel.
A pesquisa feita pela dupla ainda rendeu duas instalações inspiradas nos rabiscos de Arnaldo, uma delas erguida na fachada, com o poema Longe em painel de LED.
A mostra coincide com a estreia da série Lágrimas no MAM, dividida em cinco episódios. A produção, lançada pelo Canal BIS, que tem Daniel entre os roteiristas, mostra o processo criativo de Arnaldo e Vitor Araújo durante uma ocupação no Museu de Arte Moderna da Bahia e a apresentação inédita do disco Lágrimas no Mar.
IAC. Avenida Doutor Arnaldo, 120/126, Consolação, ☎ 3129-4973. A partir de sáb. (14). Ter. a sex., 11h/17h. Sáb., 11h/16h. Até 7/12. Grátis.
Publicado em VEJA São Paulo de 13 de setembro de 2024, edição nº 2910