Cine Bijou será reinaugurado em dezembro após passar 26 anos fechado
Fundadores de grupo teatral acolheram o cinema de rua clássico da Roosevelt e finalizam reformas para reabertura: 'Símbolo de resistência'
Igreja ou bar. Um desses dois extremos teria tomado o lugar do clássico Cine Bijou, na Praça Roosevelt, se não fosse o esforço de dois cinéfilos engajados. Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez, produtores teatrais e fundadores da companhia Os Satyros, flertavam há anos com o universo dos filmes e abraçaram as despesas do espaço assim que o local ficou vago, em 2019 — até então, era ocupado por membros do Teatro do Ator.
“Não tínhamos dinheiro nenhum, mas achávamos fundamental que um dos poucos cinemas de rua voltasse à vida na capital”, defende Rodolfo, que tentou apoio das secretarias de Cultura. “Por várias burocracias, disseram que não poderiam assumir esse compromisso. Agora uma verba da Secretaria Municipal de Cultura paga pelo menos o nosso aluguel.” Para bancar reformas e novos equipamentos, a dupla apostou em algumas campanhas e recebeu doações anônimas e de famosos como Patricia Pillar e Walcyr Carrasco. No total, tudo deverá custar cerca de 600 000 reais. “É realmente uma iniciativa de louco, mas o Bijou é símbolo histórico de resistência e grandes cineastas só foram vistos no Brasil por causa desse cinema.”
+Assine a Vejinha a partir de 8,90.
Pelo bem do público saudosista, a aparência geral da sala será a mesma. “Não existia lugar para guardar a pipoca e as cadeiras tinham detalhes na costura. Decidimos manter tudo isso”, conta. “O lobby tem um pé-direito bem alto, mas a entrada pequenininha dialoga com a rua e incentiva o contato entre os frequentadores.” Com a tela de projeção digital e o novo sistema de som instalados, a reabertura está prevista para o dia 25 de janeiro de 2022. “Antes disso, no fim do ano, faremos um teste na maratona cultural do Festival Satyrianas”, antecipa Rodolfo.
Inaugurado em 1962 e fechado em 1996, Bijou já exibiu filmes polêmicos de personalidades contrárias à ditadura militar e trouxe a São Paulo produções de cineastas estrangeiros premiados, entre eles Stanley Kubrick e Ingmar Bergman. “Quando entrei no Bijou pela primeira vez, eu era um adolescente da periferia prestes a ver Satyricon de Fellini. Não sabia que filmes como esse existiam ou eram possíveis”, relembra. “Essas descobertas foram uma inspiração para minha própria carreira de artista e queremos ter um espaço que traga essas possibilidades, com produções da nova geração de cineastas e títulos que marcaram a história do cinema brasileiro.”
+Assine a Vejinha a partir de 8,90.
Publicado em VEJA São Paulo de 13 de outubro de 2021, edição nº 2759