A história e o trabalho da ilustradora Anna Cunha, vencedora do Jabuti
Artista mineira é a autora da capa da Vejinha com reportagem especial do Dia Internacional das Mulheres
A natureza, o mundo, a arte e a diversidade cultural. Essas são as fontes criativas para a ilustradora mineira Anna Cunha, 38. Elas instigam a artista a criar obras com elementos simples, mas com uma atmosfera fantástica.
Entre as figuras mágicas estão uma mulher em uma ilha deserta à sombra de uma grande flor, duas jovens carregando um presente enorme com papel de embrulho estrelado e um grupo de meninas segurando lamparinas em torno de uma árvore colorida — na capa da edição especial da Vejinha do Dia da Mulher.
Seus traços delicados são requisitados por editoras de livros infantis nacionais e internacionais e foram reconhecidos nos últimos anos pelo Prêmio Jabuti, por Origem (2021), também escrito por ela, na categoria ilustração, e Doçura (2022), com texto da baiana Emília Nuñez, na categoria livro infantil.
O caminho da arte foi natural para Anna. Nascida em Belo Horizonte, onde mora até hoje, ela sempre gostou de desenhar e sua família era interessada pelo tema. Em um primeiro momento, ela decidiu cursar biologia na faculdade, mas percebeu que “não daria certo, porque tinha muita matemática”, ela brinca. “Não tinha plano B, fui para as artes plásticas”, conta.
Durante a graduação na UEMG, Anna direcionou-se para os desenhos espontaneamente. Iniciou sua atuação no setor editorial e seguiu depois para a publicidade e os livros infantis. Fez uma pós em ilustração na Universidade Autônoma de Barcelona e participou da oficina tipográfica do Gutenberg Museum, na Alemanha. Já ilustrou mais de trinta obras e também tem uma marca própria de papelaria.
Mesmo deixando o curso de biologia, a natureza continuou presente em sua vida, especialmente em uma outra faceta: a de mochileira. Seus pais “aventureiros” despertaram sua paixão por viajar e ensinaram-lhe tudo para poder ir sozinha. “Fiz muitas viagens malucas, de sair de mochila e ir pegando carona na estrada, pela América Central, Ásia e África”, comenta.
Um dos lugares que mais a marcaram foi o continente africano, onde passou por oito países ao longo de dois meses. A identificação cultural se deu por ela ter passado parte da infância no município de Bambuí, na Serra da Canastra, próximo à nascente do Rio São Francisco. “É uma cidade do século XVII, onde havia um quilombo e uma aldeia indígena. Vivia imersa nessas culturas, nesse sincretismo”, diz. “Encontrei muito pertencimento na África.”
Essa experiência reforça sua preocupação com a diversidade, outro fator fundamental em suas obras. “Pode parecer exagerado ou ingênuo, mas sempre digo que é de muita responsabilidade criar livros para crianças”, afirma. “Você está apresentando o mundo, a literatura e a arte para futuros cidadãos. Livros sem diversidade seriam algo inconcebível para mim.”
Para criar a arte da capa, feita exclusivamente para a revista, Anna partiu da ideia de futuro nas diferentes áreas de atuação. “Imaginei as meninas iluminando uma grande árvore, meio fabulosa. Em um momento de tantas mudanças que estamos vivendo, elas têm que inventar o que vem pela frente.”
No momento, Anna desenvolve trabalhos para cinco projetos diferentes, no Brasil, nos Estados Unidos e na Mauritânia. Um deles será o segundo livro ilustrado e escrito por ela. “2024 é o meu ano.”
Publicado em VEJA São Paulo de 8 de março de 2024, edição nº 2883