Almeida & Dale investe em expansão com nova sede em Paris
Com a aquisição da Galeria Millan e três mostras simultâneas em São Paulo, sócios da Almeida & Dale traçam nova fase

A venda da Millan, reduto de nomes como Tunga, Jaider Esbell e Maxwell Alexandre, sinaliza um novo momento para o mercado da arte. Uma das galerias mais influentes do país, fundada nos anos 1980, em São Paulo, ela vem sendo operada desde março pela Almeida & Dale como parte de um ousado plano de expansão, que prevê ainda a abertura de duas novas sedes nos próximos dois anos.
A primeira será na Rua Estados Unidos, com um novo prédio ainda a ser construído. Além de triplicar a área expositiva na capital paulista, os sócios Antônio Almeida e Carlos Dale pretendem se estabelecer em Paris, com abertura prevista para 2027.
“Hoje a França domina o mercado europeu e precisamos de um país para o qual o mundo todo está indo. As grandes galerias estão todas colocando um pé lá”, justifica Carlos.

A partir de agora, o nome Millan deixa de existir, mas os antigos sócios, André Millan e Socorro de Andrade Lima, permanecem como diretor artístico e diretora comercial.
“Esses dois negócios juntos fazem muito sentido. Sempre tivemos a preocupação de ver para onde esses artistas se encaminhariam nesse novo momento”, observa João Marcelo de Andrade Lima, filho de Socorro, que passa a ser sócio-executivo.
A fusão, segundo Carlos e Antônio, é um movimento para buscar novos artistas e parceiros fora do eixo Rio-São Paulo e integrar os mercados primário e secundário na mesma empreitada. Atualmente eles representam cinquenta artistas e contam com um acervo de obras de outros 32.
“Nosso foco é fortalecer e nacionalizar o mercado brasileiro, que tem enorme potencial de crescimento. Não dá para ficar trabalhando só em São Paulo”, acredita Antônio.

No país, a dupla também comanda as galerias Flexa, aberta em 2024, no Rio de Janeiro (em sociedade com Pedro Buarque de Hollanda), Marco Zero, em Recife, e Cerrado, que tem unidades em Brasília e Goiânia.
Ambos são categóricos ao comentar a possível imagem de monopólio com essa aquisição em um circuito artístico cujo poder e influência já se concentram nas mãos de poucas figuras.
“A água e o copo estão aqui, quem quiser pega e bebe”, crava Carlos. “Ir e voltar de Paris, da Suíça, pegar o solzinho de 40 graus de Goiânia… Isso alguém quer fazer? Não, quer ficar sentado em casa, então é fácil”, reforça Antônio. “Esse é um trabalho com o intuito de crescimento de mercado, para todos. Em vez de elogiar, procuram um jeito de criticar.”

Enquanto projetam os próximos passos, três mostras estão simultaneamente em cartaz na cidade. Com curadoria de Lisette Lagnado, Nossa Senhora do Desejo reúne cerca de vinte artistas em torno do legado do artista mineiro Pedro Moraleida, morto aos 22 anos. São cerca de 100 obras, exibidas nas duas unidades do grupo nos Jardins — na da Fradique Coutinho também estão as outras duas exposições, ambas de pintores paulistas: Beira do Tempo, a primeira individual de Thiago Hattnher no Brasil, e Viagem ao Redor do Meu Quarto, com uma série inédita de pinturas de Paulo Pasta.
“Com um país do tamanho do nosso, o potencial você vê que existe. Fora de Rio e São Paulo, o artista não tem como sobreviver e vai embora”, observa Antônio. “Temos que seguir o caminho inverso e levar a galeria para esses locais, ajudar museus a parar em pé, receber público e formar grandes exposições. É isso que vamos fazer.”
Publicado em VEJA São Paulo de 9 de maio de 2025, edição nº 2943