Alfredo Halpern: o Dr. Regime lança livro e faz sucesso na TV
Autoridade em emagrecimento e consultor do programa <em>Bem Estar</em>, médico diz que não há alimentos proibidos e que o pecado está no exagero
Quando passeia pelas ruas da cidade ou janta em algum restaurante, o médico Alfredo Halpern volta e meia é abordado por alguém que cruza seu caminho. Os admiradores solicitam autógrafos ou posicionam de pronto o celular para tirar uma foto. Pedidos de conselhos de como perder peso também surgem nos bate-papos. “Eu gosto quando me reconhecem, pois afinal não sou nenhum artista”, diz o endocrinologista que se transformou em celebridade. Há dois anos, o doutor de 71 anos bate ponto todas as quartas-feiras no Bem Estar, na Rede Globo. Durante os quase quarenta minutos do programa, que costuma entrar no ar às 9h50, o médico apresenta quadros explicativos e tira dúvidas de espectadores sobre temas que variam desde os benefícios do chocolate até como organizar a despensa. “Além de saber muito sobre o assunto, é um comunicador nato que pensa rápido e não tem papas na língua”, afirma Patricia Carvalho, diretora da atração que marca média de 7 pontos de audiência (cada ponto corresponde a 60.000 domicílios na Grande São Paulo).
Halpern também é um best-seller. Publicou catorze livros sobre o tema, recheados com um quê de autoa-juda. Juntos, eles venderam mais de 270.000 exemplares. Um novo título, batizado de Emagreça e Saiba Como, deve ser lançado no próximo mês. Em um conjunto de seis salas em Pinheiros, atende, em média, doze pessoas por dia. Os pacientes pagam 850 reais por atendimento, com direito a um retorno (outros profissionais renomados na área, Marcello Bronstein e Antonio Roberto Chacra cobram 750 e 900 reais, respectivamente). A primeira consulta costuma durar uma hora, dividida entre conversas com ele e a nutricionista.
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Com quase cinco décadas de carreira, o médico já viu entrar e sair de moda regimes dos mais variados, que envolviam tipo sanguíneo, fases da Lua, beber a própria urina (argh!), tomar óleo de coco e até um batizado de “dieta da última chance”, que chegou a levar algumas pessoas à morte. “Sempre aparecem charlatões prometendo milagres”, lamenta. “Qualquer regime pobre em calorias faz emagrecer, porém não ensinará a pessoa a comer direito nem evitará que ela engorde novamente.” O grande trunfo da trajetória do médico ainda rende frutos. No início da década de 70, ele criou a famosa dieta dos pontos, na qual os alimentos ingeridos contam pontos — cada 1 equivale a 3,6 calorias. O paciente deve fazer com que a soma dos pontos fique dentro do limite diário estabelecido (em média, 1.200 calorias para mulheres e 1.800 para homens). Pode-se, assim, comer qualquer tipo de alimento, contanto que haja controle. “Ele foi inovador ao evitar proibições”, acredita Paulo Rosenbaum, endocrinologista do Hospital Israelita Albert Einstein. Outro colega de profissão, Marcello Bronstein, que recomenda o procedimento a seus pacientes, só faz uma ressalva: “Não se pode cair no erro de achar que é uma dieta apenas baseada na matemática, sob o risco de o equilíbrio nutricional entre carboidratos, gorduras e proteínas ser prejudicado”.
Halpern defende a ideia de que os obesos não são “sem-vergonha”. Ele explica melhor: “Segurar a boca não é fácil, pois existem pessoas que realmente não conseguem parar de comer e convivem com uma doença que está longe de ser apenas psicológica”. Por isso, ele pode receitar remédios aos pacientes que enfrentam grandes barreiras no processo de perda de peso ou, em casos mais extremos, recomendar a cirurgia bariátrica. O falante doutor gosta inclusive de usar uma analogia curiosa para quem tem a insaciável vontade de comer. Ele compara a compulsão com um demônio interior. Seu mais recente livro, escrito em parceria com o psiquiatra Adriano Segal, foi lançado em 2011 com o nome O Estômago Possuído. No mês passado, saiu uma nova edição de um título, digamos, mais light, Por que Como Tanto? Desabafos de uma Compulsiva Alimentar. Nas 102 páginas de seu novo livro, Emagreça e Saiba Como, Halpern elenca dicas que vão desde não titubear em deixar restos de comida (“O limite de sua fome não é o fim do prato”) até recomendações clássicas como exercícios cotidianos, a exemplo de trocar o elevador pela escada.
Ironicamente, o papa da endocrinologia não passaria hoje com nota 10 no teste da balança. Com 1,81 metro e 88 quilos, ele apresenta índice de massa corporal (IMC, ou peso dividido pela altura ao quadrado) de quase 27, maior que os 25 recomendados, o que indica sobrepeso. “Na minha idade, esse número é considerado normal. Só tento mantê-lo”, justifica. Ele joga tênis, faz exercícios com uma personal trainer e anda muito a pé. Também se cuida à mesa, é claro. Tem uma cozinheira que se dedica apenas a preparar refeições saudáveis, com salada, prato principal e frutas de sobremesa. Todo dia, porém, não dispensa duas taças de vinho e um tabletinho de chocolate. Vaidoso, passa cremes antirrugas de manhã e à noite.
Atualmente livre-docente da USP, Halpern se formou na universidade em 1966. Escolheu a endocrinologia como especialidade, pois, na época, via aí uma área em expansão. Acertou em cheio. O porcentual de adultos da metrópole com sobrepeso passou de 44,3% em 2006 para 47,9% em 2011. Se considerados apenas os obesos, o salto é de 11% para 15,5% no período. “Os mais diversos fatores explicam isso, como a falta de sono, alterações hormonais, stress e até pessoas mais velhas dando à luz”, afirma. Ele é um dos responsáveis pela popularização de sua especialidade por aqui. Criou o Grupo de Obesidade e Síndrome Metabólica do Hospital das Clínicas, centro de referência onde atua até hoje, e fundou a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica. Com seu trabalho, conseguiu mudar a vida de muita gente, como a do administrador João Cestari, um paciente que perdeu 20 quilos desde outubro por meio de reeducação alimentar, ajuda de remédios e atividade física. “Diminuí o número da calça de 52 para 46”, conta orgulhoso. Hoje, ele tem 106 quilos e quer emagrecer ainda mais. “Os ganhos principais foram em relação à saúde, melhora do sono e disposição.”
Filho de judeus poloneses, Halpern está no quarto casamento — três de suas mulheres se formaram em medicina. Há dez anos divide um apartamento de 225 metros quadrados, perto do consultório, com a também endocrinologista Cintia Cercato, de 40 anos. Ela era sua aluna no Hospital das Clínicas e agora atende no mesmo prédio que o marido. “O Alfredo vive de bom humor”, diz. “Es tuda muito e não perde os jogos do Palmeiras na TV.” Halpern tem cinco filhos — a caçula, Mariana, de 7 anos, adora brócolis e não toma refrigerante. “Ela ainda não escolheu a especialidade de medicina que vai fazer”, brinca o pai. Bruno, de 30, outro endocrinologista e o mais novo antes da pequena, divide o mesmo consultório em Pinheiros. A família viaja muito. Nas próximas férias de julho, o destino escolhido é a Suíça. O indispensável chocolate do doutor Alfredo não vai faltar.
FRASES DO DR. REGIME
“Não se prive de nenhum alimento, especialmente quando a vontade de comê-lo for muito intensa”
“Não tenha pressa em emagrecer”
“Conforme-se em ser mais gordinho do que você gostaria”
“O preço da manutenção do peso é a eterna vigilância Anote tudo o que comer, assim há controle das calorias”
“Coma devagar e mastigue bem para evitar a repetição do prato”