Conheça a safra de artistas de HQ que desponta na cidade
Histórias mirabolantes e estilos diferentes levam brasileiros ao reconhecimento dentro e fora do país
Em um cenário digno de faroeste dos tempos em que Clint Eastwood aparecia nas telas como um pistoleiro solitário e implacável, com direito a saloons e sobrados de madeira, um rato busca vingança contra os gatos que mataram sua família (a foto acima é uma mostrada paisagem — ela sofreu intervenção dos autores, com seus traços característicos, bem como as demais que ilustram esta reportagem). O enredo de Oeste Vermelho, explorado pelos gêmeos Marcelo e Magno Costa, de 34 anos, paranaenses radicados em Santo André há mais de duas décadas, ganhou recentemente o troféu na categoria Novo Talento da última edição do HQ Mix, uma espécie de Oscar nacional dos quadrinhos. O prêmio ajudou a divulgar o nome da dupla no mercado internacional, tanto que eles agora negociam um projeto de 200 páginas destinado ao público americano, cujo enredo preferem manter em segredo.
+ Confira uma galeria de imagens com trabalhos dos novos quadrinistas
Os irmãos Costa fizeram fama na esteira de outros gêmeos, os paulistanos Gabriel Bá e Fábio Moon, que agitaram o mercado das tirinhas no país ao serem os primeiros brasileiros a ganhar, com trabalho autoral, o Eisner Awards, o maior prêmio do mundo dedicado a esse mercado,com a minissérie Daytripper. Lançada inicialmente nos Estados Unidos, a publicação ocupou durante semanas o topo da lista de mais vendidos do jornal The New York Times. “Esses caras são os guerreiros da HQ nacional, abriram as portas para muita gente”, aponta o ilustrador Amilcar Pinna, 33 anos, outro nome emergente da área. Fã de temas ligados à ficção científica, ele lançou em janeiro seu primeiro trabalho autoral, 02+01=00, com inspiração na temática de O Quinto Elemento, longa de 1997 estrelado por Bruce Willis. Amilcar é também professor da Quanta Academia de Artes, na Vila Mariana, uma escola de desenho com ênfase em gibis e tirinhas.
A exemplo do que ocorreu no exterior, o aumento do interesse pelo assunto por aqui nos últimos anos ocorreu na sequenciado surgimento das graphic novels,como foi batizado o gênero de HQs com traços e enredos mais rebuscados, direcionado principalmente ao público adulto.Em São Paulo, surgiram diversos endereços especializados em comercializar esse tipo de produto. Somente na região da Avenida Paulista há cinco lojas do tipo,entre elas uma das pioneiras do setor na capital, a Comix Book Shop, surgida em1986. As histórias atualizadas dos super-heróis representam um dos principais carros-chefe do mercado. Por isso, enquanto tentam emplacar as próprias criações,muitos artistas iniciantes ainda cedem seu talento a editoras como a Marvel ou trabalham como ilustradores para clientes como agências de publicidade.
“Nunca quis fazer piada vazia”, diz Rômolo D’Hipólito, de 29 anos, que chamou atenção com as tiras Malditos Designers, publicadas no site Idea Fixa. Julia Bax, de 31 anos, encontrou seu caminho na comédia romântica. Desde janeiro, ela se dedica a ilustrar cerca de cinquenta páginas do título Pink Daiquiri, roteirizado por dois franceses, que será publicado na Europa em fevereiro de 2013 pelo selo belga Le Lombard — o mesmo que publicou As Aventuras de Tintim, de Hergé.
Embora não haja estatísticas oficiais, estima-se que as editoras brasileiras trabalhem com tiragens médias que variam de 3.000 a 10.000 exemplares, um número ainda considerado tímido. Mas o futuro é promissor. “De uns tempos para cá, os quadrinistas têm conseguido divulgar seus trabalhos com qualidade semelhante à de empresas tradicionais do ramo”, afirma Paulo Ramos, professor do Departamento de Letras da Unifesp e autor do livro Revolução do Gibi — A Nova Cara dos Quadrinhos no Brasil (Editora Devir, 2012). “O mercado tem crescido a passos largos.”
A NOVA SAFRA DE ARTISTAS QUE DESPONTA NA CIDADE
Marcelo e Magno Costa
Marcas registradas: personagens animais realistas e bem expressivos; enquadramentos cinematográficos
Principal façanha: ganharam neste ano o HQ Mix, o mais importante concurso da área no Brasil
Próximo passo: um projeto de 200 páginas (eles não dizem o tema) para o mercado americano
Amilcar Pinna
Marcas registradas: temática e traços de ficção científica
Principal façanha: 02+01=00, seu primeiro trabalho autoral, lançado em janeiro de forma independente
Próximo passo: Another Planet, título de ficção científica que pretende lançar em 2013
Rômolo
Marcas registradas: cartum com personagens grotescos de proporções cômicas
Principal façanha: ganhar fama com tirinhas na internet
Próximo passo: quadrinhos inspirados na viagem de quatro meses que fez pela China