‘A Entrevista’, com Priscila Fantin e Herson Capri, discute a fama
Espetáculo revela os conflitos entre uma atriz e um jornalista em nome da aparência
Em 2002, a estreia do reality show Big Brother Brasil, a indústria das celebridades atingiu o ápice em uma caminhada já desenhada desde a década de 90. Na 13ª edição, o programa da Rede Globo demonstra um enfraquecimento progressivo, mas os valores estéticos e culturais ali sugeridos seguem incorporados ao cotidiano. Escrita pelo holandês Theodor Holman com base no filme de Theo Van Gogh, a comédia dramática A Entrevista faz um recorte do fenômeno capaz de pôr na mesma balança dois opostos. De um lado está a atriz do momento (papel de Priscila Fantin), beneficiada pelo corpo escultural e disposta a fazer mais uma reportagem sobre a novela de sucesso. Do outro, um tanto contrariado, aparece o jornalista (o ator Herson Capri), que, em outros tempos, cobria o destino político do país, e, agora, se adapta ao mercado para seguir fatos instantâneos.
Sob a direção de Daniel Filho e Susana Garcia, a montagem torna palatável um discurso incômodo. Na conversa, fica estabelecido um jogo além do profissional entre Mariah e Pedro Pierre. Mais que uma mulher na tentativa de anular um homem, está ali o confronto de forças em nome da aparência. Capri constrói o contraditório sujeito com o brilho habitual.
O ator traz um semblante amargo e deixa no ar quanto ele se esforça para ludibriar a estrela. Priscila, por sua vez, surpreende ao explorar com talento as nuances de Mariah, principalmente na dissimulação. Ao contar sua história ao repórter, ela consegue confundir o público: estaria Mariah interpretando uma personagem para ele? Nessa fusão entre fantasia e realidade, o espetáculo garante o interesse e, embora não ultrapasse o limite do divertimento, toca em um assunto pertinente.