Uva especial é vendida a “preço de ouro” nos supermercados da capital
A fruta "gourmetizada" é oriunda de plantios da cidade de Pilar do Sul, interior do estado. Os cuidados durante a produção e colheita resultam no valor salgado

Não se assuste se, durante uma passada de rotina no supermercado, ao visitar o setor das frutas, você se deparar com um cacho de uvas numa bandeijinha básica de isopor pelo preço de 48 reais. Ou melhor, sinta-se à vontade para se assustar: é mesmo carríssima a uva Pilar Moscato, eleita por seus próprios produtores como “primeira uva gourmet do Brasil”. A foto acima foi feita em uma unidade da rede de supermercados Saint Marché a 98,90 reais o quilo. Ali havia outras variedades de uvas a menos de 10 reais a embalagem.
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O segredo do preço mais do que excepcional está na produção da fruta, concentrada na cidade de Pilar do Sul, no interior paulista. “Nossa mão-de-obra é mais qualificada e realiza um trabalho exaustivo”, diz Harue Sawada, gerente da Associação Paulista dos Produtores de Caqui (APPC), responsável pela plantação. “Não deixamos os cachos crescerem aleatoriamente. Funcionários fazem cortes periódicos para que as bagas fiquem maiores e eles precisam saber como isso tem de ser feito”.
Durante o período de crescimento da Pilar, os cachos são envoltos por sacos totalmente fechados, para evitar a ação de insetos. A cobertura também evita o contato direto da fruta com defensivos agrícolas, mesmo sendo usados aditivos para potencializar o plantio. “É importante ressaltar que não é uma fruta orgânica, como alguns pensam. Nós usamos agrotóxicos”, diz Harue Wasada.
Mesmo com todo o cuidado na plantação, o teste final da Pilar é na colheita. Com o auxílio de um aparelho, os produtores avaliam a quantidade de açúcar nas uvas. Se o medidor registrar 18 graus Brix (medida utilizada para calcular a concentração de elementos em líquidos), significa que ela está no ponto. Para chegar à qualidade atual da fruta, de origem europeia, os agricultores desenvolvem uma pesquisa há cerca de sete anos. “Mesmo assim, ainda não chegamos à perfeição”, diz Harue.

Em alguns supermercados da capital, o quilo do fruto pode custar entre noventa e cem reais.
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O marketing também faz seu trabalho para tentar levantar ainda mais a moral e emplacar o selo de exclusividade da Pilar Moscato. “Pense numa uva que dá para consumir com a casca e não tem aquele gosto de remédio”, diz um dos anúncios.
Anualmente, cerca de 360 toneladas da Pilar são produzidas. A distribuição se concentra principalmente na região Sudeste, mas também são feitos pedidos de estados como Mato Grosso e capitais da região Nordeste. Trinta produtores se concentram no cultivo.
“Nenhum deles conseguiria produzir frutas como essa sozinho”, diz a gerente do grupo. Uma vez associados, os produtores são obrigados a participar de reuniões, eventos e cursos de degustação para atualizar a técnica de plantio. Os chamados “dias de campo” ocorrem, em média, cinco vezes ao ano.