Tarifaço de Trump: o que vai acontecer com os produtos de SP exportados para os EUA
Mais crédito e novos acordos comerciais são saídas para exportadores e para garantir empregos, dizem especialistas

O aumento na alíquota – que chega aos 50% – sobre produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos, assinado na semana passada pelo presidente Donald Trump, poderá afetar alguns importantes setores exportadores da indústria do Estado de São Paulo. Entre eles, estão o calçadista, o têxtil, o de peças automobilísticas, o de alimentos e bebidas, o de celulose, além do setor químico.
“Acredito que São Paulo, que tem 19% de suas exportações dirigidas ao mercado norte-americano, será um dos estados mais afetados”, diz Haroldo da Silva, vice-presidente do Conselho Regional de Economia do Estado de São Paulo (Corecon-SP).
De acordo com o vice-presidente do Corecon-SP, entre as saídas para proteger empregos e minimizar as perdas, está o aumento da concessão de crédito que ajude a manter o capital de giro das empresas.
“Em um curto prazo, é complicado buscar novos parceiros comerciais, ainda que isso seja importante”, diz Haroldo.
Na opinião do executivo, em um primeiro momento, os governos federal e estadual precisam buscar soluções de crédito, além de expandir incentivos fiscais, como o drawback – que permite a isenção ou suspensão de tributos sobre os insumos utilizados na fabricação de mercadorias que serão exportadas.
Mas as ações de promoção de exportação, como as feitas pela Apex Brasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações), também são essenciais, na visão do executivo, para se buscar novos parceiros comerciais – no caso de o governo Trump seguir com as tarifas anunciados.
Lista dos isentos
A Casa Branca divulgou, semana passada, uma lista de quase 700 produtos que, em princípio, serão poupados do aumento da alíquota para entrar em solo norte-americano. A lista inclui peças aeronáuticas, veículos, fertilizantes e minérios. Porém, setores como o do café, carne bovina e frutas seguem ameaçados com a sobretaxa.
A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) declarou, em nota, que lamenta a imposição da tarifa de 50% sobre uma parte das exportações brasileiras para os EUA, sem razões econômicas que a justifique.
“Acreditamos que o continuado diálogo entre as autoridades dos dois países levará à eliminação da sobretaxa e ao aproveitamento das inúmeras oportunidades em benefício de nossas populações. Trabalharemos junto ao Governo Brasileiro para a adoção de medidas eficazes que venham minorar os impactos econômicos para as empresas atingidas”, diz a nota.
O Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) lamentou a inclusão do café entre os produtos que devem ter a alíquota alterada. Em nota assinada pelo presidente do conselho deliberativo, Márcio Ferreira, e pelo diretor-geral, Marcos Matos, a entidade informou que seguirá em diálogo com a National Coffee Association (NCA) para tentar incluir o produto na lista de exceções.
“O Brasil responde por mais de 30% do mercado de café dos EUA. A medida pode impactar preços ao consumidor e gerar inflação, com efeito direto sobre a população americana”, diz a nota.
Na avaliação da economista Carla Beni, professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e Conselheira do Corecon-SP, não há motivo para pânico. Em primeiro lugar, porque é possível que a lista de produtos que ficarão de fora da nova alíquota deverá aumentar.
“Novas negociações ainda devem ocorrer. Mas ainda que isso não aconteça, há muitas medidas que podem ser tomadas para redirecionar as vendas, antes de pensar em grandes prejuízos”, afirma a professora.
“As pessoas estão muito angustiadas com o tal ‘tarifaço’, que nem é um termo preciso, na verdade”, explica Carla. O que os EUA querem mudar é a alíquota de importação de produtos brasileiros, que poderá bater nos 50%.
O governo de São Paulo anunciou, na última quarta (30), a liberação de R$ 1,5 bilhão em créditos acumulados de ICMS e a ampliação da linha Giro Exportador de R$ 200 milhões para R$ 400 milhões.
A linha terá juros subsidiados a partir de 0,27% ao mês + IPCA, com até 60 meses para pagamento e 12 de carência. Os créditos serão transferidos por meio do programa ProAtivo, com teto de R$ 120 milhões por empresa, e pedidos a partir de setembro via SIPET (Sistema de Peticionamento Eletrônico) da Sefaz-SP (Secretaria da Fazenda e Planejamento do Estado de São Paulo).