Enjoei: 16 milhões de visitantes por mês e ‘lojinhas’ de famosos
Especializado em intermediar a venda de roupas e de outros acessórios usados, a plataforma prepara expansão internacional
Em 2009, depois de trocar o Rio de Janeiro por São Paulo, a publicitária Ana Luiza McLaren descobriu que não havia espaço suficiente para guardar todas as suas roupas no novo apartamento na capital. Decidida a vender o excedente pela internet, fez uma triagem no armário e fotografou as peças “marcadas para partir”. Em vez de anunciar suas barbadas em um site genérico, como o Mercado Livre, reuniu o enxoval em um blog próprio, batizado de Enjoei, criado em parceria com o marido, o executivo de marketing Tiê Lima. E, quase despretensiosamente, convidou outros internautas a enviar imagens de seus trajes abandonados no fundo da gaveta para que os comercializassem no mesmo endereço.
De forma surpreendente, a “brincadeira” teve repercussão instantânea. Em pouco tempo, Ana passou a receber cerca de 100 e‑mails por dia com pedidos de inclusão. Seu diferencial em relação a outras empreitadas do tipo foi o caráter exclusivo e pessoal. No primeiro caso, havia uma rígida curadoria: poucos e selecionados produtos ganhavam a chance de aparecer na vitrine virtual. No segundo, chamaram atenção as detalhadas descrições a respeito dos itens. “A ideia era só explicar ao comprador que o objeto tinha valor afetivo para o vendedor”, explica Ana. “Mas o formato agradou a muita gente”, completa.
+ Peças em formato de cabeça de animais para decorar a casa
O sucesso fez com que o casal deixasse o emprego e se dedicasse exclusivamente ao Enjoei, a partir de 2012. Na mesma época, a fama do negócio também passou a atrair investidores. Nos últimos quatro anos, a empresa recebeu aportes financeiros de 45 milhões de reais. Hoje, a plataforma recebe 16 milhões de visitantes por mês, que garimpam itens entre 3 milhões de produtos. A expectativa é fechar 2016 com faturamento de 200 milhões de reais, 100% mais que o de 2015. Instalada em uma casa nos Jardins, a empresa conta com noventa funcionários, que, além do site, gerenciam um aplicativo para celular. Em dezembro, a marca vai inaugurar uma filial na Argentina, a Ya Fue.
Ao se cadastrar no serviço, o usuário cria um perfil — no caso, a lojinha. É possível incluir uma descrição e cinco fotos para cada uma das mercadorias, em sua maioria usadas. Na outra ponta, o interessado pode curtir o artigo e selecionar os preferidos. Após a compra, a empresa monitora a entrega pelos Correios e embolsa 20% do valor da transação. Antes exclusivo para moda, o Enjoei abriu-se recentemente a outros segmentos, como decoração e tecnologia. Alimentos e bebidas não são permitidos, mas há a intenção de expandir a atuação para o mercado de luxo e para outros setores. “Alguns usuários já tentaram vender casa na praia ou carro, mas precisamos nos adaptar para atender esse público”, diz Lima.
Desde setembro, a marca também participa do programa de TV Desengaveta, exibido às 21 horas, às segundas-feiras, no canal por assinatura GNT. Nele, a apresentadora Fernanda Paes Leme “invade” o armário de um famoso para selecionar roupas que serão oferecidas no site. O valor arrecadado é revertido para o projeto beneficente INCAvoluntário, ligado ao Instituto Nacional do Câncer.
Em oito episódios, quase 400 peças foram comercializadas. “Os produtos se esgotam em minutos”, diz a gerente de marketing do GNT, Mariana Novaes. “A temporada de 2017 está garantida.” A visibilidade da página atraiu várias celebridades, que abriram lojinhas próprias no espaço. Uma delas é a blogueira Julia Petit, que contabiliza mais de 24 000 seguidores e 1 000 peças negociadas em dois anos no serviço. “Eu vendia em brechós físicos, mas agora sei quem está comprando”, diz ela.
+ Sete itens criados em parceria com grandes youtubers e blogueiros
Mesmo entre as “anônimas”, existem campeãs de venda. Nesse critério, é difícil superar o desempenho da fotógrafa Luciana Cattani, que comercializou mais de 1 600 produtos nos últimos três anos, entre roupas, objetos de decoração e antiguidades. “Garimpo em muitos lugares para oferecer ali e pratico o desapego”, revela Luciana. “Até agora, a única coisa que eu me arrependi de ter vendido foi um jogo de copos Baccarat”, afirma. Ela dedica três dias por semana à administração da sua lojinha, hoje com cerca de 200 artigos.
Produtos de “grife”
Os espaços administrados por celebridades no serviço
Astrid Fontenelle (apresentadora de tv). Reúne de camisas oferecidas por 40 reais a bolsas por mais de 2 000 reais
Gabriela Pugliesi (Blogueira fitness). Mistura peças de ginástica com artigos mais finos e já vendeu mais de 1 200 itens
Julia Petit (blogueira de beleza). Com 24 000 seguidores, disponibiliza roupas e sapatos de 20 a 750 reais
Manu Gavassi (atriz e cantora). Vestidos e sapatos são os destaques, mas também há objetos de decoração