Luzes em meio à tragédia
Nos trinta anos da morte de Romy Schneider, um livro e uma mostra focam o lado alegre de uma atriz lembrada pelo drama da vida real
Do estouro na trilogia Sissi, a Imperatriz ao derradeiro filme, La Passante du Sans-Souci, passaram-se três décadas — e, nesse período, um fora do noivo, o ator Alain Delon, duas separações, um suicídio, uma morte acidental, inúmeras garrafas de álcool e incontáveis calmantes. É pelos capítulos dramáticos que os biógrafos contam a trajetória da atriz Romy Schneider: há pelo menos oito títulos editados na França entre 1988 e 2012, num total de 1 549 páginas. Publicado pela francesa Flammarion, um volume se junta agora à lista, com um teor radicalmente oposto (169 dólares, sem tradução para o português). Como num álbum de família, as 287 páginas de Romy são ocupadas por fotos de uma das mulheres mais bonitas do cinema. Parte, reproduzida aqui, é inédita. Na maioria, Romy sorri a plenos dentes — quando aparece com os filhos, David e Sarah, gargalha. “Meu desejo era embasbacar o leitor com a luz que dela emana, e não ofuscá-la com a dimensão trágica de sua história”, diz o autor, o jornalista Jean-Pierre Lavoignat. Depois de passar por Paris e Bonn, uma mostra, sob a curadoria de Lavoignat, fica em cartaz até 2 de setembro em Cannes.
Em Romy, as poucas palavras se resumem à entrevista da filha, também atriz, que acaba de completar 35 anos. Fruto do segundo casamento de Romy, com o ex-secretário Daniel Biasini, Sarah não tem memórias precisas, mas o que Lavoignat define como “sensações”. Quando a mãe foi encontrada morta, aos 43 anos, no apartamento de Paris, vítima de um ataque cardíaco, em 29 de maio de 1982, Sarah tinha quase 5 anos. Fazia menos de um ano que seu meio-irmão, David, de 14 anos, morrera perfurado pelas grades do portão de 2 metros de altura que tentara pular para entrar em casa. David era filho da estrela com o diretor alemão Harry Meyen, que se matou em 1979, quatro anos depois da separação do casal. “É a primeira vez que Sarah fala da mãe”, conta Lavoignat. A filha bem que tentou uma carreira diferente. Estudou história da arte na Sorbonne. Aos 27 anos, cedeu à herança familiar. “Essa foi uma forma de conhecer melhor minha mãe”, diz.
Foi com a mãe, a atriz Magda Schneider, que Romy, nascida em Viena e batizada de Rosemarie Magdalena Albach-Retty, contracenou pela primeira vez, aos 15 anos, em Berlim. A beleza e a naturalidade da adolescente garantiram-lhe o papel de uma das personagens mais importantes da história da Áustria: a imperatriz Sissi. Célebre na Alemanha e apaixonada por Delon, com quem dividiu o set em Christine (1958), Romy rumou a Paris e conheceu a estilista Coco Chanel e o diretor Luchino Visconti, que a escalou para Boccaccio ’70. Os três, Romy dizia, mudaram seu destino. Delon a abandonou pela amante grávida, para mais tarde admitir que deixar Romy, de quem permaneceu amigo, foi o erro de sua vida. Chanel adorava seu porte e a transformou na imagem da parisiense chique. Visconti a consagrou como atriz. Com Claude Sautet, Romy fez os filmes mais emocionantes de sua carreira. Ganhou duas estatuetas César e dá nome a um prêmio do cinema francês e a um de TV austríaco. “Nunca uma estrela foi tão abençoada pelos deuses e maltratada pelo destino ou uma mulher foi tão brilhante e atormentada ao mesmo tempo”, diz Lavoignat. “Mas preferimos mostrá-la bela, viva e contemporânea.”