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Cobasi e Pet Center Marginal disputam mercado de pets

As duas redes multiplicam suas lojas na briga pelos cada vez mais exigentes (e gastões) donos de cães, gatos, passarinhos, peixes...

Por Carolina Giovanelli
Atualizado em 1 jun 2017, 18h05 - Publicado em 11 out 2012, 20h57
CAPA - PETS - Sergio Zimerman, fundador do Pet Center Marginal
CAPA - PETS - Sergio Zimerman, fundador do Pet Center Marginal (Fernando Moraes/)
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O setor de artigos para pets na cidade passa no momento por um processo típico da cadeia alimentar do reino animal. Aos poucos, as espécies menores vão sendo devoradas pelos gigantões do pedaço. No mundo dos negócios, eles assumem a forma de modernos shoppings especializados, que estão ocupando nos últimos anos o espaço daquelas acanhadas lojas de bairro. Para piorar as perspectivas de sobrevivência dos mais fracos, os dois “tubarões” da praça — as redes Cobasi e Pet Center Marginal — encontram-se em fase acelerada de multiplicação. Somados, reúnem hoje trinta endereços no país, dos quais dezesseis funcionam na capital (sete do Pet Center e nove da Cobasi). Outros cinco devem surgir por aqui até o fim de 2013. Mais do que nunca, a briga vai virar coisa de cachorro grande.

Se na origem essas empresas surgiram bem distantes uma da outra (a Cobasi na Zona Oeste e o Pet Center Marginal na Zona Norte), agora começam a se enfrentar em territórios mais próximos. “Queremos ser os líderes no futuro”, diz Sergio Zimerman, fundador do Pet Center Marginal e responsável pelo grupo. A Cobasi imediatamente arreganhou os dentes para fazer frente ao avanço. Entre outras ações, contra-atacou com o início da construção de uma unidade bem perto da loja matriz da concorrente, na Marginal Tietê. Ela ficará pronta em junho do ano que vem. “Adoramos a disputa e estamos prontos para qualquer desafio”, afirma Ricardo Nassar, um dos sócios da Cobasi.

 

  • Conheça as empresas

PET CENTER MARGINAL


CAPA - PETS - Os corredores do Pet Center Marginal
CAPA – PETS – Os corredores do Pet Center Marginal ()

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Inauguração: agosto de 2002

Lojas: quinze (sete na capital, quatro na Grande São Paulo, duas no interior e duas no litoral)

Funcionários: 1.000

Faturamento em 2011: 115 milhões de reais (dado fornecido pela empresa)

Área total: 22.000 metros quadrados

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Variedade de produtos: 20.000 itens

Diferencial: sua matriz, na Marginal Tietê, funciona 24 horas

Planos para o futuro: até o fim do ano que vem, promete lançar mais quatro lojas (duas em São Paulo, uma em Jundiaí e outra em Brasília). Depois disso, quer manter um ritmo de expansão de três unidades por ano, instaladas a até 110 quilômetros da capital

 

COBASI

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CAPA - PETS - Visão aérea da Cobasi
CAPA – PETS – Visão aérea da Cobasi ()

Inauguração: outubro de 1985

Lojas: quinze (nove na capital, três na Grande São Paulo, duas no interior e uma no Rio de Janeiro)

Funcionários: 1.200

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Faturamento em 2011: 400 milhões de reais (estimativa do mercado)

Área total: 38.000 metros quadrados

Variedade de produtos: 22.000 itens

Diferencial: é a pioneira no conceito “supermercado pet” no Brasil

Planos para o futuro: expandir a matriz, na Vila Leopoldina, e inaugurar sete lojas (três delas na capital) nos próximos doze meses, sendo uma delas uma loja conceito (ou flagship), nos Jardins

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As duas marcas estabeleceram um novo padrão de consumo para esse crescente segmento de mercado. Uma loja chega a reunir mais de 20.000 itens, entre nacionais e importados (vindos principalmente da China). Visitar um local assim representa uma experiência curiosa e divertida até para quem não é muito fã de cães, gatos e outros bichos. Há desde rações mais simples até variedades feitas apenas com matérias-primas naturais ou uma dieta mais equilibrada de nutrientes, ideal para alimentar as raças que sofrem de problemas cardíacos. Podem ser encontrados por lá também óculos escuros, máscaras de Halloween, coleiras cravejadas de cristal, capas de chuva, sorvete sabor bacon… (Uma galeria ao final da reportagem mostra algumas novidades das gôndolas.)


CAPA - PETS - Zimerman - Pet Center Marginal
CAPA – PETS – Zimerman – Pet Center Marginal ()

Pelo que se vê, muita gente faz questão de levar seu companheiro para que ele mesmo escolha o petisco que mais lhe agrada ou a roupinha que combina com os tons de seus pelos. Outros apenas tiram os bichos de casa para desfilar em suas coleiras ou socializar-se com outros peludos. Basta um olhar torto ou um esbarrão para começar a sinfonia de rosnados, miados e latidos. Além de gatos e cachorros, dão ainda o ar da graça pássaros, coelhos, furões, peixes, macacos… E não para por aí. Quando abriram as portas do primeiro Pet Center Marginal, em agosto de 2002, os donos colocaram lá dentro um tigre (sim, um tigre de verdade) para chamar a atenção dos frequentadores. O que também costuma fascinar a criançada e proporciona ares de visita ao zoológico numa ida às lojas são os felinos, caninos e aves oferecidos para doação ou à venda por preços que chegam a R$ 26.600,00 (caso do pássaro cacatua-galah).

 

CAPA - PETS - Silvana, cliente fiel da Cobasi há mais de uma década
CAPA – PETS – Silvana, cliente fiel da Cobasi há mais de uma década ()

Maiores representantes dos aproximadamente 10.000 pet shops de São Paulo, cidade que concentra 19,8 milhões de animais de estimação, segundo cálculos da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet), as feras Cobasi e Pet Center Marginal disputam com unhas e dentes o maior naco desse disputadíssimo osso. Só na capital, o setor movimentou no ano passado 4 bilhões de reais, contra 1 bilhão em 2006, de acordo com uma pesquisa da Abinpet. “Os bichos se tornaram um membro da família”, explica o presidente da entidade, José Edson de França. “Além do aumento da renda média do brasileiro, outras mudanças, como casais com menos filhos e idosos que vivem mais e buscam companhia, ajudam a explicar o fenômeno.”

O Pet Center Marginal declara ter faturado 115 milhões de reais em 2011, ou 30% mais que no ano anterior. Sua previsão é fechar 2012 com 150 milhões de reais. A Cobasi não revela os números, mas especialistas do mercado estimam que ela seja quase quatro vezes maior do que seu principal concorrente. Com isso, teria obtido no ano passado uma receita de aproximadamente 400 milhões de reais. No momento, entre outros investimentos, está pondo de pé uma loja-conceito na região dos Jardins, com inauguração prevista para 2013. Uma pesquisa nas etiquetas mostra que as duas marcas estão próximas na política de preços. Em seis itens pesquisados por VEJA SÃO PAULO na semana passada, houve empate em um deles, outro estava mais barato no Pet Center e os demais saíam um pouco mais em conta na Cobasi, mas nunca por diferença superior a 30%.

 

CAPA - PETS - Gabriela e sua lhasa apsu Meg no Pet Center Marginal para cuidados com os pelos
CAPA – PETS – Gabriela e sua lhasa apsu Meg no Pet Center Marginal para cuidados com os pelos ()

A expansão do negócio pegou carona numa grande mudança comportamental. Até o fim da década de 80, era bastante comum alimentar os animais com restos de comida, algo que ainda acontece. Mimos do naipe de carrinhos e roupas seriam considerados absurdos. “Hoje, os cuidados se estenderam, muita gente percebeu que dar a dieta correta, por exemplo, e gastar um pouco mais de dinheiro com isso melhora a qualidade de vida do animal”, diz Malu Sevieri, organizadora de um dos principais eventos da área, a feira anual Pet Show, no Centro de Exposição Imigrantes.

A Cobasi surgiu na Vila Leopoldina em 1985 na forma de uma pequena loja que vendia apenas itens agropecuários, como ferramentas e sementes, no sistema de atendimento de balcão. Ela foi criada por iniciativa do biólogo Rames Nassar, que mantinha uma fazenda de produção de arroz no Vale do Paranapanema. Certa vez, um dos fornecedores apresentou um produto novo, uma ração para cachorros, e ofereceu alguns pacotes. Foi o início de uma grande virada. “Deu tão certo que começamos a investir no ramo de bichos de estimação”, afirma Ricardo Nassar, de 41 anos, que administra o negócio atualmente ao lado dos irmãos João e Paulo. Na década de 90, eles enfrentaram um período de vacas magras e o empreendimento quase fechou as portas. “Na época, chamei um empresário do nosso setor para almoçar em uma churrascaria a fim de tentar vender a Cobasi”, lembra Ricardo. “Antes que eu pudesse abrir a boca, foi ele quem tentou me vender sua loja.” Mas a situação melhorou (e não parou de melhorar até hoje). Em 1992, os irmãos passaram a importar outros produtos na mesma linha. Um ano depois, as filas na porta da matriz indicaram que seria melhor adotar o autosserviço, no mesmo estilo dos supermercados. Bastou mais algum tempo para expandirem os horizontes com unidades no Morumbi e em Osasco.

 

CAPA - PETS - A Cobasi, na Vila Leopoldina, em 1989: no início, vendia somente produtos agropecuários
CAPA – PETS – A Cobasi, na Vila Leopoldina, em 1989: no início, vendia somente produtos agropecuários ()

Em 2002, quando a Cobasi contabilizava três lojas e quase duas décadas de existência, o empresário Sergio Zimerman, de 46 anos, resolveu bater à porta da pet shop para perguntar se era possível ser franqueado. Seu negócio, um atacado com 600 funcionários, acabara de falir em decorrência de problemas financeiros. Das ruínas da quebra, restou apenas um galpão de 3.000 metros quadrados, localizado na Marginal Tietê, para o qual ele buscava uma nova função. Sem entender muito sobre o segmento, ouviu de um amigo que poderia se dar bem no nicho animal. “Achei que seria mais fácil entrar no mercado com uma empresa que já conhecia o negócio do que começar do zero, por isso procurei a Cobasi”, recorda. Ouviu do gerente que a marca não possuía sistema de franquia. Aí, decidiu tentar por si mesmo e surgiu a ideia do Pet Center Marginal. “Hoje, sou o maior concorrente deles”, afirma, com ares de triunfo. Ele pretende fechar este ano com um investimento total de 12 milhões de reais no aumento de sua rede. Além de prever cinco novos pontos dentro e fora de São Paulo, abriu um hospital veterinário da marca no Pacaembu. Inaugurada na semana passada, a clínica tem capacidade para atender 3.000 animais por mês.

Zimerman cresceu vendo as atividades de seu pai, dono de uma confecção de roupas infantis. Até tentou fugir do destino de se tornar comerciante, mas não conseguiu. Na juventude, enveredou por um curso de edificações, onde conheceu sua atual mulher, Helena. Ela fazia bicos de animadora em festinhas infantis. “Um dia, fui acompanhá-la em um bufê e percebi ali uma oportunidade de faturar”, conta ele. “Com um dinheiro que recebi, comprei para ela uma roupa de Emília, do Sítio do Pica-Pau Amarelo, e uma fantasia de palhaço para mim.” Colocou um anúncio no jornal oferecendo seus serviços. A demanda foi crescendo e ele deixou de usar o nariz vermelho para comandar o próprio grupo de animadores e oferecer, além das performances, um pacote que incluía comida e bebida para os convidados. Em seguida, evoluiu para dono de um mercadinho e, em 1991, de um atacado, aquele que dez anos depois viraria pó.

 

CAPA - PETS - Verilson dos Santos, especialista em rações, na Cobasi
CAPA – PETS – Verilson dos Santos, especialista em rações, na Cobasi ()

Na fase de montagem do Pet Center Marginal, o empresário passou um bom tempo visitando as lojas da Cobasi em busca de referências. Agora, os dois negócios, bastante similares, disputam clientela focando detalhes capazes de marcar suas diferenças junto ao consumidor. Muitos deles acabam sendo copiados. Por isso, ambos investem hoje em programas de fidelidade, eventos diferentes (a exemplo de desfile de roupinhas para cães), parcerias com ONGs, serviços de veterinário e banho. O treinamento da equipe também se tornou uma preocupação. Na Cobasi, há funcionários como Verilson dos Santos, um perito em ração. Ele começou como empacotador há cinco anos e tornou-se vendedor sênior de alimentos. Só de olhar para o peludo ele sabe exatamente o que seu dono deve colocar na tigela, baseado no tamanho, raça e outras características. “Por curiosidade, experimento todos os tipos novos de ração que chegam”, garante. “Elas têm gosto de barrinha de cereal.” No Pet Center Marginal, o fotógrafo argentino Lionel Falcon, expert em pets há dezesseis anos, fica responsável por criar a identidade visual das filiais, com paredes recheadas de imagens de lulus fofos. Nas prateleiras, há produtos estampados com seu trabalho, entre eles chaveiros, cestos e ímãs. Por agendamento, ele realiza nas lojas sessões de fotos com os bichos dos interessados, a partir de R$ 800,00. “Às vezes eles fogem, fazem as necessidades ou realmente não estão no clima de ser modelos”, relata. “Mas coloco uma música calma e ofereço uns brinquedos e petiscos. Sempre dá certo.”

Capa Pets - O fotógrafo argentino Lionel Falcon: imagens no Pet Center Marginal
Capa Pets – O fotógrafo argentino Lionel Falcon: imagens no Pet Center Marginal ()

Ambas as redes conseguiram cultivar clientes fiéis, que não pisam em outra pet shop por nada. Há os mais comedidos e os que não economizam. A funcionária pública Silvana Bueno Marques tem sete felinos e treze peixes, que ficam separados em seu escritório. “Sou cliente da Cobasi há dez anos, gosto do mix de produtos”, diz ela. Na hora de passar no caixa, Silvana não costuma sair do básico de ração, areia e remédios. A administradora Gabriela Marques, por sua vez, não poupa esforços para que sua lhasa apso Meg faça inveja a outros donos. Após uma tosa malsucedida em uma pequena loja, Gabriela resolveu buscar o centro de estética do Pet Center Marginal, em 2006. Desde então, Meg marca presença toda semana no local para aparar seus lustrosos pelos loiros e fazer hidratação de cupuaçu e chapinha. Quase sempre se responsabiliza pelo serviço o tosador William Galharde, que já ganhou até prêmio internacional. “Enquanto ele a arruma, um monte de gente fica do lado de fora do vidro admirando”, conta, toda orgulhosa, Gabriela, que desembolsa até R$ 500,00 por mês pelo serviço.

 

Calcula-se que, mensalmente, o paulistano gaste cerca de R$ 390,00 com seu animal. Os itens mais supérfluos encaixam-se no mercado de luxo canino. Não chegam a ser campeões de venda, mas chamam muita atenção. Com preços mais altos, são uma aposta dos empresários, pois a reação dos consumidores é imprevisível. Zimerman e Nassar têm na ponta da língua histórias de mercadorias que pareciam promissoras e simplesmente encalharam nas prateleiras. O primeiro se arrependeu de, certa vez, ter comprado grandes lotes de água mineral para cães e uma cesta de Natal com produtos de banho, enquanto o segundo precisou liquidar um caro lote de tapetes higiênicos importados. Nessas ocasiões, os grandes “tubarões” amargaram prejuízo por avançar com muita sede ao pote cada vez mais apetitoso do mercado de pets.

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