Casas nas árvores para morar, hospedar-se e até fazer uma refeição
A arquitetura contemporânea dá aos adultos a chance de realizar o sonho infantil

Até recentemente, para concretizar em plena fase adulta a fantasia de infância de se refugiar numa casa na árvore era preciso embarcar numa viagem de aventura para uma temporada nos hotéis da Floresta Amazônica. Com o interesse pela vida verde, a arquitetura se adaptou para dar mais frutos. É cada vez maior a quantidade de projetos de construções para gente grande que se erguem nas copas de pinheiros, carvalhos e sequoias ó para limitar os exemplos ó a poucos quilômetros da civilização. Nem todas funcionam como casa própria. Há hotéis na Suécia e restaurantes na Nova Zelândia que matam a vontade da turma do Peter Pan de viver por algumas horas ou poucos dias a experiência da Terra do Nunca. Mas mesmo as residências em árvore, aquelas que pertencem a pessoas físicas, seja no Paraná, no Canadá ou na Alemanha, valem a visita para admirar do lado de fora. Se o morador aparecer na janela feito um cuco, não se faça de rogado. Uma xícara de café pode bastar para saciar a sua vontade de ser vizinho dos pássaros ó sem desembolsar 200 000 dólares por isso.
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HÓSPEDES NA FLORESTA
Treehotel, Harads, na Suécia
Dos seis apartamentos do hotel (o projeto total prevê 24) instalados a uma altura de 4 a 6 metros do chão, o Mirrorcube é um dos mais disputados. Projetado pelos suecos Bolle Tham e Martin Videgard, tem vista de 360 graus para a floresta de Harads, a uma hora da cidade de Luleå, no norte da Suécia. Com base de alumínio leve, foi construído ao redor do tronco de um único pinheiro e pesa 20 toneladas. As paredes são cobertas por espelhos, que refletem a floresta e dão um efeito de camuflagem — a ideia é que se confundam com a vegetação. Para evitar que os pássaros se choquem com as paredes espelhadas, elas são revestidas com filme infravermelho, imperceptível aos olhos humanos. A suíte de 53 metros quadrados tem decoração clean, interior luminoso, pé-direito alto, aquecimento central, banheiro, cama de casal, sala de estar e uma pequena cozinha. A poucos metros dali está o Brittas Pensionat, complexo do hotel que conta com restaurante, sauna, recinto para relaxar, TV e internet. Se o cliente desejar mais privacidade, poderá ser servido diretamente no quarto. Treehotel foi inspirado no filme The Tree Lover, de Jonas Selberg Augustsen. O longa aborda a importância das árvores para os seres humanos.
Treehotel. Edeforsvägen 2A, ☎ 46 (928) 104 03,
treehotel.se.
Diárias a partir de 1 600 reais
(para duas pessoas, com café da manhã)
EM TORNO DA FIGIUEIRA
Paraná, Brasil
Numa fazenda na cidade de Porecatu, a 300 metros da Represa de Capivara e na divisa entre os estados do Paraná e de São Paulo, fica o projeto mais pessoal do arquiteto Ricardo Brunelli, dono da Casa da Árvore, especializada em construções do gênero, como entrega o nome. Trata-se de um espaço que pertence a ele, feito em parceria com o projetista José Aparecido Rossato, em formato hexagonal, e erguido sobre uma figueira centenária. O 3º piso, onde se encontra a casa propriamente dita, está a 10 metros do solo. O 5º e último, a 21 metros do chão, abriga um mirante de 18 metros quadrados — erigido na copa da árvore e decorado com redes, serve para relaxar, com direito a uma vista privilegiada. Nos demais andares, há espaço para churrasqueira, playground, sala, cozinha, banheiro e quarto de casal. Quatro adultos e quatro crianças podem se hospedar ali. Além das escadas, dois tubos de bombeiro, um infantil e um de adulto, funcionam como saída estratégica e agilizam a descida dos mais corajosos. A casa, que demorou dez meses para ser concluída, é feita com madeiras nobres: angelim na escadaria, cedrilho nas paredes e jatobá no assoalho. É nela que a família do arquiteto passa os fins de semana. “Nada melhor do que dormir ali ao som da chuva”, diz Denise Soares Brunelli, mulher de Ricardo.

COMO UM OVO NO NINHO
Bremen, na Alemanha
Arredondada, inspirada no corte longitudinal de um ovo, e janelas em formato elíptico, esta casa na Alemanha parece uma nave espacial. Construída para um casal de designers e seus dois filhos, fica sobre dois carvalhos no jardim da residência onde mora a família. A estrutura é suspensa e ligada por cabos de aço e correias de tecido. Quatro pilares, finos e em forma de V, potencializam a sensação futurística do projeto e ajudam a distribuir o peso. Feita de carvalho da região, a residência tem telhado de folha de zinco e fachada de acrílico. Por dentro, a madeira clara e as janelas de vidro parecem ampliar a área de 10,6 metros quadrados. O mobiliário segue as linhas arredondadas das janelas e é forrado de feltro cinza-claro. Duas varandas de níveis diferentes incrementam o imóvel, digamos assim, garantindo uma área externa de 16,4 metros quadrados. Quando a família não se diverte por ali, o espaço serve como quarto de hóspedes. O projeto é assinado pelo arquiteto alemão Andreas Wenning, da Baumraum, especializada em construções contemporâneas sobre árvores.

LANTERNA PARA O LAGO
Ontário, no Canadá
Área útil de 40 metros quadrados, três pisos independentes e vista para o Lago Muskoka, um dos mais visitados do Canadá. A Treehouse foi criada para o consultor financeiro Gerald Sheff, de Toronto, e sua mulher, Shanitha Kachan. Como acontece com muitos que buscam construções desse tipo, o sonho de Sheff era ter uma casa para brincar com os netos. Mais tarde, o local acabou servindo para ele próprio relaxar e ler. O projeto demorou cinco meses para ser finalizado, e a obra, outros quatro. Um dos aspectos mais especiais da casa é que somente quatro árvores servem de alicerce para seus três andares, sem o auxílio de nenhum outro pilar. Além disso, para minimizar os danos às árvores, foi feito um único buraco em cada uma delas, por onde passa o cabo de aço. Devido à falta de colunas, a casa, vista de longe, dá a impressão de estar flutuando. Quando o vento sopra forte, toda a estrutura balança. “A ideia foi justamente recriar a sensação da infância entre as árvores”, explica o arquiteto polonês Lukasz Kos, responsável pelo projeto. A iluminação noturna é outro destaque: os andares brilham com uma luz alaranjada, semelhante à das lanternas dos acampamentos infantis.

REDOMA PARA MEDITAR
Califórnia, nos Estados Unidos
Foi numa exposição no Museu de Arte de Los Angeles que o músico Robby Krieger, guitarrista do The Doors, viu pela primeira vez a Honey Sphere. Projetada pelo ecodesigner americano Dustin Feider, especialista em construções no formato de esfera, a casa com ares de escultura era exatamente o que o músico procurava: um espaço para meditar, relaxar, apreciar a natureza. E, mais do que tudo, que pudesse ser instalado no jardim de sua mansão em Beverly Hills. Com 6,1 metros de diâmetro e área de 18,6 metros quadrados, toda a estrutura da casa é formada por sequoias de segunda geração, interligadas por peças de aço. Tem configuração de favo de mel, com 210 aberturas e 420 facetas. Diferentemente das construções convencionais em árvore, a base da Honey Sphere chega a tocar o chão. Sua estrutura, porém, é suspensa e ligada por cabos de aço aos mais altos ramos de um carvalho vivo. Galhos dessa mesma planta atravessam a casa, que conta com doze pontos de entrada ou saída. Todo o piso, com mandalas estampadas, é feito de madeira de demolição. Para o guitarrista, a Honey Sphere oferece uma sensação mágica a quem a visita, aguçando a imaginação.

RESTAURANTE A 44 METROS DE ALTURA
Auckland, na Nova Zelândia
Sobre uma sequoia de 44 metros de altura e 1,70 metro de diâmetro, localizada a 45 minutos ao norte da cidade neozelandesa, fica o restaurante Redwoods Treehouse. Com custo original de 320 000 euros, o projeto dos arquitetos neozelandeses Peter Eising e Lucy Gauntlett levou quatro meses para ser realizado, do desenho até a entrega. A estrutura do imóvel, que remete a uma concha, foi montada com barbatanas curvas de pinho laminado. As extremidades, abertas por toda a extensão, possibilitam a entrada da luz solar. O teto é coberto de acrílico ó para não impedir que as estrelas ajudem a compor a decoração noturna. Para conhecer o Redwoods, é preciso fazer reserva e fechar o lugar para até trinta pessoas (135 dólares cada uma) no almoço ou no jantar ó ou para o dia inteiro, se a intenção é ficar literalmente de pernas para o ar. O cardápio é sazonal e varia entre salmão, risoto e cordeiro. Para ter uma experiência neozelandesa autêntica, no entanto, vale optar pelo churrasco gourmet, especialmente no verão. zer uma refeição