Bruno Gagliasso: “A TV brasileira precisa se abrir para a diversidade”
O esquizofrênico Tarso mal tinha deixado o hospital, em “Caminho das Índias”, quando precisou dar lugar ao sedutor italiano Berilo, de “Passione”. Este, por sua vez, saiu de cena para a entrada de Timóteo, vilão da atual novela das 6 da Globo, “Cordel Encantado”. Os três personagens mostram o ritmo encarado nos últimos anos por […]


Bruno, como o Timóteo, de “Cordel Encantado”: vilão da novela das 6 (Foto: Estevam Avellar)
O esquizofrênico Tarso mal tinha deixado o hospital, em “Caminho das Índias”, quando precisou dar lugar ao sedutor italiano Berilo, de “Passione”. Este, por sua vez, saiu de cena para a entrada de Timóteo, vilão da atual novela das 6 da Globo, “Cordel Encantado”. Os três personagens mostram o ritmo encarado nos últimos anos por Bruno Gagliasso, ator que lhes deu vida. Na entrevista a seguir, elaborada com perguntas enviadas pelos leitores de VEJA SÃO PAULO, ele fala sobre esse e outros temas.
Foi difícil emagrecer dezessete quilos para fazer “Cordel Encantado”? (Lyan Frank)
Bruno Gagliasso — Difícil foi construir códigos que dessem ao Timóteo uma identidade totalmente diferente das dos meus personagens anteriores. Esse é o meu maior foco como ator. Gosto da composição. Trabalhei horas pensando cada gesto, olhar, tom de voz… Um trabalho minucioso que, no meu caso, é sempre feito num tempo bastante escasso. Há três anos, emendo um personagem no outro, mas nunca vi essa realidade como prejudicial. Pelo contrário, sempre foi um desafio interessante. E, até onde posso compreender, pela resposta do público e por uma quantidade generosa de prêmios que conquistei, isso foi positivo. Perto do que foi a construção do Timóteo, emagrecer era o mínimo. Um prazer.
Você se sente realizado profissionalmente? (Marcos da Rocha)
Bruno Gagliasso — Um artista nunca está completamente realizado. Até porque existe a realização de cada etapa da vida. Minha profissão tem essa grandeza, há sempre personagens mais complexos a serem vividos. Existem também muitos gêneros e estilos de textos dramáticos que, nem se eu vivesse 1.000 anos, teria tempo para me experimentar neles. Agora, sou feliz com o que conquistei.

Com a mulher, Giovana Ewbank: “Se estou casado é porque amo” (Foto: Christian Rodrigues)
Se não fosse ator, o que gostaria de ser? (Marcella de Oliveira)
Bruno Gagliasso — Estou começando uma carreira de blogueiro, e gostando. O que me despertou foi a discussão em torno do sofrimento do Tarso, que fiz em “Caminho das Índias”. Viciei, embora não esteja, nos meus planos deixar de ser ator. Comecei a estudar teatro aos 14 anos, e nunca passou pela minha cabeça qualquer outra carreira.
Como surgiu a paixão por escrever? (Daniela Domingues Formaio)
Bruno Gagliasso — Como disse acima, fui movido pela solidariedade ao sofrimento de tantas pessoas que eram colocadas à margem da sociedade, os esquizofrênicos. Mas hoje meu trabalho no blog é mais diversificado. Tenho consciência da força das mídias digitais. Nos meus textos atuais falo sobre denúncias e descasos às minorias, mas também de alegria. E estou me exercitando na poesia. Aliás, quero indicar um livro que estou adorando “Cartas a Um Jovem Poeta”.
Dizem que os homens bonitos não são tão bons de paquera quanto os feios, que precisam se esforçar mais na hora da conquista. É o seu caso? (Alicia Monteiro)
Bruno Gagliasso — Acho beleza uma coisa TÃO relativa. Uma mulher que eu considere bonita pode não ser para outra pessoa, e vice-versa. A sexualidade feminina é muito mais refinada, elas nem sempre estão interessadas no aspecto externo. Por exemplo: minha mulher (Bruno é casado com a atriz Giovana Ewbank) deu muito trabalho para conquistar.
Você é marido da Giovana Ewbank e já foi da Camila Rodrigues. Dizem que ia casar com a Danielle Winits, até. Elas que cobraram ou você que é louco por altar? (Denise M. Pereira)
Bruno Gagliasso — Minhas relações nunca foram pautadas por cobranças. O que eu posso te dizer é que a sensação de amar é uma das que mais prezo na vida. Já o altar é uma consequência. Se estou casado hoje é porque amo.
Quando pretende ter seu primeiro herdeiro? (Jean Carlos)
Bruno Gagliasso — Caaaaalma, Jean. Filho é coisa séria. Pretendo ter no momento em que eu e a Gio pudermos nos dedicar somente a ele.

Papel gay em “América”: cena de beijo com o ator Erom Cordeiro foi cortada (Foto: Renato Rocha Miranda)
A televisão brasileira precisa mesmo de um beijo gay? Será que há outros jeitos mais eficazes de ajudar a causa GLBT? Pergunto isso por causa do seu personagem em “América”, que quase protagonizou o primeiro beijo gay das novelas. (Durval Hercílio de Souza)
Bruno Gagliasso — A televisão brasileira precisa de todos os beijos que pertençam a tramas bem construídas e muito bem contextualizadas. Como no caso de “América”. Beijo por beijo nós já vemos aos montes. A TV brasileira precisa se abrir para a diversidade. Seja ela qual for, desde que venha acompanhada de um suporte realmente artístico e do amor verdadeiro. Claro que há outras maneiras de ajudar qualquer causa justa. O problema é que cabe a nós, que temos responsabilidade social, descobrir essas formas.
Sente saudade dos tempos de Chiquititas? (Ivone Eiras)
Bruno Gagliasso — Muitas.
De quem do elenco de “Cordel Encantado” você ficou mais próximo? (Sophia Barcelar)
Bruno Gagliasso — Sem pieguices, há uma corrente encantada unindo todos nós. Espero que vocês, público, percebam.