Corredora empurra filho com paralisia cerebral em competições
Você está aí reclamando que a calça 44 não entra e que, mais uma vez, ficou com preguiça de acordar cedo para treinar, logo numa segunda-feira? Então, tá. Deixa eu dar um motivo para fazer algo por você. Hoje, vou contar a corajosa história de superação da Fernanda Terribile, com quem tive a sorte de trombar dias […]
Você está aí reclamando que a calça 44 não entra e que, mais uma vez, ficou com preguiça de acordar cedo para treinar, logo numa segunda-feira? Então, tá. Deixa eu dar um motivo para fazer algo por você. Hoje, vou contar a corajosa história de superação da Fernanda Terribile, com quem tive a sorte de trombar dias atrás e me apaixonar. Sim, ela corre empurrando a cadeira de rodas do filho Danilo, que tem paralisia cerebral desde que nasceu. Não, não entenda como punição ou autoflagelo – embora seja, realmente, um sacrifício correr com 50 quilos de peso extra (a soma do filho e da cadeira de rodas). A corrida foi a forma que essa mãe encontrou para, finalmente, aceitar o filho.
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Fernanda ficou por mais de dez anos trancafiada em casa, se escondia e escondia o filho também. Tinha medo de se expor e vergonha – ela admitiu sem meias palavras, o que me seduziu na hora. Não deve ser fácil. E, convenhamos, ninguém admite que ter um filho assim é um peso de doer os ossos, a alma – e todo o resto. A virada na vida dela e de Danilo, de 15 anos, se deu depois que ela leu o livro Devoção, do americano Dick Hoyt, que faz triatlo na companhia do filho, que tem o mesmo problema de Danilo. (Ele tem um vídeo famoso dessa prova no YouTube).
A primeira iniciativa de Fernanda, depois da leitura, foi criar o blog www.somosespeciais.com.br, no qual, segundo suas próprias palavras, teve uma catarse. “Eu precisava vomitar tudo aquilo que estava trancado em mim, queria ajudar outras mães e outros filhos”, me contou. “E me reencontrei com Dan Dan”, diz, referindo-se ao apelido carinhoso de Danilo. Com o blog, vieram a aceitação, o entrosamento entre os dois e muitas, muitas descobertas. Ele sorrí quando terminam as provas de corrida e responde que gostou do evento com o piscar de olhos – comunicação usada pelas crianças com paralisia cerebral. É tudo muito sutil. Nem sempre é um sorriso de mostrar todos os dentes nem um piscar de cerrar os olhos. É pouco, mas antes era nada. Ele também ficou mais tranquilo depois do esporte.
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Vou abrir um parêntese: (Sim, chorei em vários momentos da entrevista. Até porque esse bebê nasceu absolutamente normal, chegou a ter alta depois do parto e ir para casa. E ficou assim ao longo de dois dias. Teve uma icterícia, aquele coisa que quase todo bebê recém-nascido tem: a pele e olhos amarelos e a criança é submetida a banho de luz azul no berçário. O problema é que, no caso dele, houve demora a ser identificada, e a doença provocou paralisia cerebral. O pai é médico. E o bebê foi bem assistido. Tô passada). Fecha parêntese. “Acho que é uma missão minha e dele, então vou cumprir até o fim.”
Desde maio do ano passado, somam-se quinze provas de corrida realizadas, algumas lágrimas e muita, muita gente vibrando junto. “Às vezes, estou num trecho com subida e as pessoas se voluntariam para me ajudar”, diz. E não é só isso. Fernanda e Danilo já resgataram muita gente que ameaçou desistir da prova no meio do caminho. Não dá para reclamar de uma dorzinha na perna, quando você vê uma mãe sorridente, empurrando seu filho, né? Depois de começar a correr, a dupla conseguiu ajudar outras mães e outros filhos que padecem dessa doença. Fernanda recebe um sem fim de mensagens e e-mails de pessoas pedindo dicas de, por exemplo, onde comprar a cadeira de rodas especial para corrida. (A página no Facebook tem 20 000 seguidores).
Houve um preparo especial antes de iniciar os treinos. Não é assim: pega o menino e sai empurrando. Não. Ela contratou a educadora física adaptada Paloma Spanholeto, de Campinas, onde moram, e começaram com caminhadas leves. Somente depois de seis meses, estavam correndo. No início, a profissional ia junto, para dar uma força. Mas, depois, Fernanda achou que deveria voar sozinha. E foi. Pra melhorar sua performance (ela não leva o Danilo em todos os treinos pra não exauri-lo), a mãe passou a treinar com um personal especializado em triatletas.
O objetivo, mais adiante, é fazer essas provas em que o atleta nada, pedala e corre. Hoje, Fernanda já corre e pedala. E está se preparando para aprender a nadar. O bacana é que pessoas em condições especiais, como os dois, começam a prova cinco minutos antes dos demais atletas, por uma questão de segurança. “O esporte envolvendo o meu filho me deu outra motivação. Nunca estive tão bem. Parece que eu fiquei dez anos sem vê-lo e de repente o reencontrei”, diz, aos 42 anos. Fernanda é casada e tem uma filha linda de 13 anos, a Isadora.
Adorei sua sinceridade e sua devoção, Fernanda. Obrigada. Ainda vou aí pra gente correr: os três.
Um beijo, até mais!
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