Hinos paulistanos: as histórias das músicas ‘Trem das Onze’ e ‘Sampa’
Um raio-X das composições de Adoniran Barbosa e Caetano Veloso, escolhidas pelos leitores da Vejinha como as mais emblemáticas de São Paulo

A cidade de São Paulo está eternizada em incontáveis canções da música brasileira — e os leitores da Vejinha puderam votar em suas favoritas em uma enquete no nosso site.
O resultado não deve surpreender: a vitoriosa foi Trem das Onze, de Adoniran Barbosa, seguida por Sampa, de Caetano Veloso, com apenas um voto de diferença.
O samba vencedor foi lançado em 1964, pelos Demônios da Garoa, e rapidamente se espalhou para além da cidade. No ano seguinte, curiosamente, venceu o Prêmio de Músicas Carnavalescas do IV Centenário do Rio de Janeiro.
“Foi um ponto de virada na carreira dele”, diz Alfredo Rubinato, neto do compositor. “Com Trem das Onze, ele fica conhecido no Brasil e exterior e consegue se mudar para Cidade Ademar, onde viveu até o fim da vida”, conta Tomás Bastian, criador do Núcleo Rubinato, que pesquisa a obra do ícone paulista.

A homenagem de Caetano para São Paulo, por sua vez, lançada no disco Muito (1978), foi escrita em uma noite, após ter sido solicitado um depoimento seu sobre São Paulo para um programa de televisão.
“A ideia do arranjo era fazer algo mais chegado ao choro. Me lembro que não fiquei satisfeito, queria refazer, mas ele disse que não precisava”, relembra Arnaldo Brandão, que tocou violão de sete cordas na gravação.
O memorável verso sobre a esquina da Avenida Ipiranga com a Avenida São João tem inspiração em outra canção, Ronda, de Paulo Vanzolini, que cita a São João.

Enquanto o clássico de Adoniran é como uma crônica, Sampa é uma declaração de amor. “No samba (como Trem das Onze), as letras contam experiências muito concretas, que podem parecer retratos pontuais, mas curiosamente é aí que está a riqueza, porque não tentam abstrair uma cidade — e as pessoas se identificam. Sampa tem esse tom do registro pessoal, de alguém que chega à cidade e tenta entendê-la, e isso ecoou nos anos 70, com a metrópole em plena expansão”, define o arquiteto Marcos Virgílio da Silva, que estuda a relação entre urbanismo e o samba paulista do século passado.
O empate técnico na votação comprova bem a genialidade e o alcance dessas duas obras do nosso cancioneiro.
Resultado da enquete
1 – Trem das Onze (Adoniran Barbosa) – 31%
2 – Sampa (Caetano Veloso) – 31%
3 – São Paulo (365) – 10%
4 – Envelheço na Cidade (Ira!) – 7%
5 – Não Existe Amor em SP (Criolo) – 6%
6 – Fim de Semana no Parque (Racionais MC’s) – 4%
7 – Santa Rita de Sampa (Rita Lee) – 4%
8 – Persigo São Paulo (Itamar Assumpção) – 3%
9 – Praça Clóvis (Paulo Vanzolini) – 2%
10 – Augusta, Angélica e Consolação (Tom Zé) – 1%
11 – Céu de São Paulo (João Bosco & Vinicius) – 1% ■
Publicado em VEJA São Paulo de 24 de janeiro de 2025, edição nº 2928