Thundercat cita Fagner e fala sobre os dez anos de ‘To Pimp a Butterfly’
O baixista americano, que faz show em São Paulo, falou à Vejinha sobre a festa de aniversário de Milton Nascimento e as composições de Egberto Gismonti

Dos instrumentistas mais relevantes da música contemporânea, Thundercat está em São Paulo para um show nesta quarta-feira (20), na Audio.
Com seus óculos escuros característicos e muita música brasileira na cabeça, o músico americano conversou com a Vejinha no hotel Sheraton sobre a sua carreira e a relação do seu som com o nosso país.
Craque do baixo, além de cantor, compositor e produtor, Stephen Lee Bruner — seu nome fora dos palcos — foi membro da banda de rock Suicidal Tendencies e começou a se destacar tocando em discos de Kamasi Washington, Erykah Badu e Flying Lotus. Mas foi com o rapper Kendrick Lamar que o músico alcançou outro patamar de sucesso, ao colaborar no elogiadíssimo To Pimp a Butterfly (2015), recebendo um Grammy pela música These Walls.
Também tem uma discografia solo com destaques como Drunk (2017), em que consta seu maior hit, Them Changes, e seu disco mais recente, It Is What It Is (2021), pelo qual ganhou mais um Grammy na categoria de Melhor Álbum R&B. Confira a entrevista com o músico a seguir.
Quais são os seus músicos brasileiros favoritos atualmente?
Tenho ouvido João Bosco e Fagner. Tem outros, mas no momento são mais esses.
Sei que você tem uma amizade com o guitarrista brasileiro Pedro Martins. Vocês já lançaram uma música juntos, no seu álbum mais recente. Como vocês se conheceram?
Conheci o Pedro por causa da (cantora) Geneviève Artadi. E a primeira vez que vi ele tocando, se não me engano, em Los Angeles, foi quando ele lançou seu primeiro álbum. Fui convidado pela Geneviève, e lembro de ficar impressionado. Não sabia que seríamos tão próximos. Mas nos conectamos muito rápido, é sempre divertido com ele.
Se não estou enganado, ele te levou para o aniversário do Milton Nascimento no ano passado. Como foi?
Foi uma das melhores noites de todas. Foi fantástico. Lembro do Hamilton de Holanda arrasando no bandolim, e nunca me esqueço da cara do Milton Nascimento vendo ele tocar. É uma daquelas fotos lindas na minha cabeça. E outra lembranças favorita foi ver o Beto (Lopes) e o Pedro sentados tocando até quase desmaiar, até às 8 da manhã. O Milton já estava dormindo, e eles emendando música atrás de música.
Neste ano o disco To Pimp a Butterfly (2015), de Kendrick Lamar, em que você participa, faz dez anos. Qual a importância desse álbum para a sua vida e carreira?
Primeiro, eu não esperava que esse disco teria um impacto cultural tão grande. No fundo eu sempre quis fazer parte de algo. E agora, quando olho para o estado do mundo hoje, penso que há certos momentos que nunca esqueceremos. Do 11 de setembro ao primeiro presidente negro. E acho que esse álbum é dessa natureza, é um evento mundial. Me lembra quando James Brown lançou I’m Black and I’m Proud: era o som certo na hora certa. Quando todo mundo está lançando m#rd@, esse álbum é um farol. Desde a capa, que afirmação. E parece que aconteceu ontem.
Você tem algum artista brasileiro favorito? Ou aquele que foi mais importante no seu desenvolvimento musical?
Um dos meus músicos favoritos, sobre o qual não falo o suficiente, é Egberto Gismonti. Ele também é contrabaixista. Toca piano e tudo, mas também baixo. Sua composição é de outro planeta. Mas o músico que mais me marcou foi Milton Nascimento. Com ele aprendi a tentar tornar a música o mais bonita possível.
18 anos. Audio. Avenida Francisco Matarazzo, 694, Água Branca, ☎ 3675-1991. ♿ Qua. (20), 21h30. R$ 210,00 a R$ 600,00. ticketmaster.com.br.