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Grandes pequenos palcos: a cena paulistana de bares com música ao vivo

Estabelecimentos multifacetados com programações musicais mantêm pulsante o circuito independente e revelam novos artistas e bandas

Por Tomás Novaes
14 jun 2024, 07h00
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No Picles, a banda carioca Estranhos Românticos: polo cultural (Leo Martins/Veja SP)
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Não são exatamente casas de show. Menos ou mais arrumadinhos, quase sempre de perfil multifacetado — podendo funcionar como bar, centro cultural e loja de roupa ao mesmo tempo —, uma leva recente de redutos noturnos tem sido responsável por manter pulsando a cena musical underground na capital.

“São os corais da música brasileira, onde os peixes pequenos se criam para adentrar o mercado, ganhar experiência, testar repertório”, define bem o produtor cultural Fernando Tubarão, 50, sobre os pequenos palcos em São Paulo que recebem shows de artistas e bandas independentes.

O produtor paulista geriu um desses lugares, o Puxadinho da Praça, na Vila Madalena, entre 2012 e 2015, e depois o seu sucessor, o Secretinho, que funcionou por mais três anos.

“Muitos que vieram a se tornar conhecidos passaram por lá, como Anavitória, Rincon Sapiência, O Terno, Pabllo Vittar e Russo Passapusso”, conta.

Na segunda casa, foi sócio do artista Rafael Castro, que, em 2018, abriu o Picles, em Pinheiros, um dos principais catalisadores desse movimento atual.

“Sinto falta de apoio direto para essas casas. Assim como o CBGB, em Nova York, onde surgiram bandas como Ramones, se elas não existissem, esses grupos talvez nem chegariam ao mercado”, diz.

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Também houve uma leva de inaugurações no pós-pandemia, como o Bar Alto, na Vila Madalena, e o Alma São Paulo, em Pinheiros, além de outros inferninhos que sustentam a cena underground paulistana.

A seguir, você confere mais detalhes sobre quatro endereços que, cada um a sua maneira, oferecem bons drinques, petiscos e, o principal, música ao vivo.

PICLES

Atrás de um portão de metal alto na Rua Cardeal Arcoverde, em Pinheiros, está o Picles.

É um lugar único, a começar pelo cenário, duas casinhas geminadas, com um quintal ao ar livre, um palco, pista e uma sala com instrumentos para quem quiser tocar, tudo isso no térreo, e um karaokê e uma varanda, no segundo andar.

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O palco aberto do Picles: sala com instrumentos para quem quiser tocar (Leo Martins/Veja SP)

O proprietário é Rafael Castro, 39, que também é cantor e compositor. “Eu morava no andar de cima do sobrado e fazia eventos embaixo. Foi assim de 2018 até 2020, era bem pequenininho. No fim da pandemia, a gente conseguiu dois editais e, ao mesmo tempo, a moradora do lado saiu. Juntei uma galera, unimos as casas e reabrimos no começo de 2022”, conta.

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A sala de shows pode receber 150 pessoas e hoje cerca de quarenta trabalham na equipe do estabelecimento. O produtor Juka Tavares, 38, coordena a programação.

“Temos apresentações todos os dias que abrimos. De quinta e sexta, a programação é voltada para música autoral, e de sábado normalmente é algo mais baile”, explica.

Picles. Rua Cardeal Arcoverde, 1838, Pinheiros. Qui. a sáb., 20h/4h30. @piclescardeal.

ALMA SÃO PAULO

A casa, aberta por Eduardo Matos e Thomas Morgan von Hertwig, em 2023, é o primeiro endereço paulistano da rede que começou com dois pontos em Campinas.

O foco da programação é especial: seu palco costuma receber instrumentistas talentosos que tocam com nomes consagrados.

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Área de show no primeiro andar: acústica diferenciada (Leo Martins/Veja SP)

Um exemplo é o projeto Soul Sessions, às segundas, com banda fixa de músicos que acompanham nomes como Jão, Djavan, Ed Motta, Sandy e Luedji Luna.

A terça-feira é dedicada ao jazz e à música instrumental, e a programação musical segue até sábado. Em formato pista, a casa de dois andares pode receber até 420 pessoas.

Aliás, outro destaque de lá é a acústica. “Percebi que sempre o vilão do bar com música ao vivo é o incômodo aos vizinhos. A gente isolou o prédio inteiro, colocamos lã de rocha e a prefeitura nos deu um alvará de música até às 7 da manhã”, explica Eduardo.

Alma São Paulo. Rua Simão Álvares, 923, Pinheiros. Seg. e ter., 19h/1h. Qua., 19h/4h. Qui., 19h/2h. Sex., 18h/4h. Sáb., 16h/4h. @almasaopaulo.

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A fachada do Alma São Paulo: em Pinheiros (Leo Martins/Veja SP)

FENDA 315

Uma casa de dois pavimentos, em cima de uma brigaderia em Perdizes. Um lugar improvável para a sonzeira que rola.

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“Nós somos do rock, então naturalmente recebemos mais bandas de hardcore e punk, mas aqui tem também death metal, emo, cumbia, salsa”, conta Diego Nakasone, 37, sócio ao lado de Franco Ceravolo e Juliana Ramirez, da marca de roupas Sabot, que funciona no espaço durante o dia.

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A banda Tonelada, em uma noite “tranquila”: shows agitados (Leo Martins/Veja SP)

O ponto, que abriu em 2018, ainda abriga um estúdio de tatuagem no último andar e pode receber até 110 pessoas.

“A ideologia da casa é trabalhar com bandas independentes. Hoje, com quase seis anos, fica mais fácil fazer a curadoria, porque elas vêm atrás da gente”, explica o proprietário.

Fenda 315. Rua Doutor Cândido Espinheira, 315, Perdizes. Qui. a dom., 18h/3h. @fenda315.

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Baixista da banda Tonelada, do Mato Grosso do Sul: som hardcore (Leo Martins/Veja SP)

BAR ALTO

O Bar Alto abriu no final de 2022 pela união de sócios do bar Tokyo, do selo Balaclava Records e do festival e portal Popload.

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Como o nome antecipa, é um estabelecimento que cresce por três pisos, múltiplo por natureza. “A ideia era abrir um espaço que pudesse receber shows, mas que não dependesse da programação. Igual a muitos lugares nos Estados Unidos, onde, quem quiser assistir, paga o ingresso, mas o resto é aberto ao público”, diz Fernando Dotta, 37, da Balaclava.

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Terno Rei no Bar Alto: programação indie (Mayara Giacomini/Divulgação)

O endereço na Vila Madalena pode receber 250 pessoas, tem três bares e também abriga festas e sets de DJs. Nomes mais estabelecidos da cena indie, como a banda paulistana Terno Rei e a britânica Shame, já passaram pelo palco, que também recebe quem está começando.

“Abrimos de vez em quando alguns formulários para quem quiser tocar. Eu já tive banda e sei como é difícil ter acesso a um palco legal”, conta.

Bar Alto. Rua Aspicuelta, 194, Vila Madalena. Qua. a qui., 18h/0h. Sex., 18h/4h. Sáb., 16h/4h. Dom., 16h/23h. @baralto.sp.

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A fachada do Bar Alto: três andares (Clayton Vieira/Veja SP)

Publicado em VEJA São Paulo de 14 de junho de 2024, edição nº 2897

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