“Me senti silenciada”, diz Negra Li, que lança o “disco da sua vida”
Em entrevista à Vejinha, a artista paulistana fala sobre sua redescoberta espiritual, diagnóstico de TDAH e o seu novo álbum, 'O Silêncio que Grita' (2025)

Negra Li, 45, lança “o disco da sua vida” nesta sexta-feira (30). O Silêncio que Grita (2025) é seu primeiro álbum em sete anos, de letras fortes sobre negritude, empoderamento e amor, com participações de Djonga, Liniker e Gloria Groove.
É o resultado de um processo tortuoso — a rapper, cantora e compositora paulistana, que colocou no ar alguns singles nos últimos anos, tenta lançar um disco desde 2021. “Estava em uma agência que trabalhava com o pop, fiquei encantada com essa linguagem, mas é cansativo. Percebi que não estava satisfeita, eu queria mais rap”, diz.
Depois de ter dois discos quase finalizados e decidir recomeçar, em 2024 mergulhou de vez na composição para chegar às onze faixas que estão em O Silêncio que Grita. “Encontrei as pessoas certas, que me ouviram e me ajudaram a resgatar minha essência. Participo de todas as etapas, das letras à produção”, conta a artista, que lança o trabalho de maneira independente.

“Estou proprietária de mim. Pela primeira vez, sou dona dos fonogramas, sem empresário; acabei de registrar a minha marca, cheguei nesse nível de autonomia”, comenta, revelando que o momento de independência sucede a uma fase difícil.
“Eu me perdi. Outras pessoas foram colocando suas ideias e opiniões, fui acatando e perdi o que eu realmente queria. Me senti por muitas vezes silenciada, não fui ouvida, por ser mulher, principalmente”, compartilha — o que explica também o título do novo disco, que, nos versos fortes, não carrega somente histórias pessoais. “Não falo só por mim. As pessoas que antes estavam à minha volta não eram preocupadas com o meu propósito, o que eu represento, o que posso fazer por aqueles que precisam de voz”, afirma.
Nos últimos dois anos, Negra Li passou por descobertas pessoais importantes, que vão do diagnóstico de TDAH à reconexão espiritual. “Sou evangélica desde criança, mas agora comecei a frequentar mais. Me batizei em 2024”, diz a cantora, nascida na Brasilândia e há dezoito anos residente da Granja Viana, onde frequenta a igreja.

“Nesse movimento de buscar a minha essência, quis me aproximar ainda mais da minha identidade preta”, completa, citando as músicas África e Black Money. “Quando as pessoas souberam que me batizei, os comentários foram: ‘Perdemos’, ‘Agora vai virar bolsominion’. Não, voltei mais politizada, mais rapper, com mais sede do que nunca”, defende.
O novo disco deve chegar aos palcos no segundo semestre — antes ela ainda grava uma série como atriz, em junho. “Estou curtindo muito este momento, é um renascimento”, diz Negra Li. Vale escutar com atenção as rimas que saíram de toda essa jornada pessoal. ■
Publicado em VEJA São Paulo de 30 de maio de 2025, edição nº 2946