Fundação mantém vivo o legado do Conservatório Dramático e Musical de SP
Novos projetos à vista em 2025 retomam e abrangem a atividade da instituição que completa 120 anos, e que desde 2009 não possui um espaço físico

Os 120 anos de história da Fundação Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, uma instituição pioneira no ensino artístico no Brasil, estão bem guardados.
Afinal, a passagem de docentes de renome, como Mário de Andrade, Venceslau de Queiroz, Francisco Mignone, Gomes Cardim e Camargo Guarnieri, entre outros, não só não pode ser apagada como precisa ser preservada e relembrada.
Cabe a dois personagens atuais, Hélio Levisky e José Álvaro Fioravanti, os diretores da FCDMSP, a tarefa de manter vivo o legado da primeira escola superior de música erudita e arte dramática paulista, fundada em 1904. Apesar de não haver uma casa para chamarem de sua.

Após funcionar por alguns anos em um palacete, o conservatório passou a ocupar, em 1908, um prédio na Avenida São João, onde permaneceu até o imóvel ser desapropriado e encerrar suas atividades, em 2009, depois de anos de decadência, dando lugar à atual Praça das Artes, integrada ao Complexo Theatro Municipal. O antigo espaço foi absorvido no projeto, que hoje inclui a Sala do Conservatório, sede do Quarteto de Cordas da Cidade.
Desde então, o conservatório existe como uma fundação, mas sem sede física. Em meio aos materiais armazenados em dois andares da Praça das Artes estão cerca de 12 000 itens da biblioteca, entre livros, discos, objetos, atas de reunião e diplomas.

De peças únicas, por exemplo, há uma tradução assinada por Machado de Assis da peça Forca por Forca, de Jules Barbier. Grande parte dos documentos foi higienizada e armazenada, restando apenas a etapa de digitalização. “Foi um processo longo, houve uma regularização em termos tributários e a realocação do acervo. A partir de 2013, começou um trabalho de recuperação e, em 2023, encontramos o caminho para poder atuar, via projetos de lei, que é uma forma de atingir o Brasil inteiro”, explica Hélio, 87.
Essa nova fase da instituição começa com o programa Jornada Erudita, que circulou em 2024 por Mogi das Cruzes, Barra Bonita e São Paulo, promovendo apresentações musicais e eventos de arte-educação. Em 2025, ainda estão previstos projetos como o concerto didático Pedro e o Lobo, voltado às escolas públicas, e um grande Festival de Arte Dramática e Musical.
“Existem muitos festivais hoje, de rock, samba, hip-hop, dança. Mas não existe um festival de música erudita e arte dramática. A ideia é que, durante cinco dias, tenha apresentações de música clássica, óperas, operetas, cantos líricos, para crianças e adultos”, diz Marília de Lima, 52, gestora de projetos da FCDMSP.


Outra iniciativa para o futuro é um livro que conta a história da instituição. “A obra vai servir de base para muitas pesquisas, porque o conservatório não foi só a primeira escola de música de São Paulo, mas também a primeira escola de teatro do Brasil. No acervo, temos conteúdos raros e até inéditos”, conta Marília.
Concertos gratuitos pelos estados, montagens de óperas curtas e uma mostra de música de câmara também estão no radar da fundação. “Antigamente, um conservatório era mais que uma faculdade, eram quase oito anos, você fazia didática, literatura. A gente não joga 120 anos no lixo só porque não tem mais um prédio. O conservatório era um celeiro de cultura”, ressalta Marília de Lima.

Renovar a instituição de ensino, sem perder a sua essência formadora e sua história, parece ser o desafio a cumprir. “Como retomar as atividades, sem sala de aula, nem teatro? Vemos a possibilidade de incentivar os jovens a entrarem na arte da música e na arte dramática. Ganhamos o apelido de ‘guardiões do conservatório’. Não é ruim, gostei até”, resume o guardião José Álvaro, 76.
Uma fundação tão relevante merece ainda mais do que realizar apresentações itinerantes e ter um espaço privilegiado para abrigar todo o acervo. ■
Publicado em VEJA São Paulo de 20 de dezembro de 2024, edição nº 2924