O Escolhido,da Netflix: 8 qualidades e 4 defeitos da nova série brasileira
Em seis episódios, o seriado enfoca os conflitos de um trio de médicos em confronto com um curandeiro do Pantanal
Já li frases sobre O Escolhido como “é ruim, mas é boa” e “você vai odiar, mas vai querer mais”. Não discordo de nenhum dos autores dessas opiniões. A nova série brasileira da Netflix tem qualidades e defeitos, mas, no frigir dos ovos, me agradou mais do que Coisa Mais Linda.
Enumerei abaixo os pontos positivos e negativos.
Antes, um breve resumo do que se trata. Três médicos, Lúcia (Paloma Bernardi), Enzo (Gutto Szuster) e Damião (Pedro Caetano) saem de Palmas, no Tocantins, para vacinar os moradores de uma cidadezinha no Pantanal. Logo na chegada, eles percebem que não são bem-vindos e são enxotados pela população. Mateus, o manda-chuva do vilarejo, explica que seu povo não precisa ser vacinado e que são curados de outra forma. O Escolhido (Renan Tenca) só aparece no segundo episódio e é um curandeiro-guru com dons divinos que vive num acampamento cercado de capangas.
Pontos positivos
Locações – A série não foi gravada em estúdio, ao contrário de Coisa Mais Linda, e teve locações em Natividade, no Tocantins, e em São José dos Campos, em São Paulo. Isso confere autenticidade à história, tendo os atores imersos durante meses nos locais onde a trama se passa.
Produção – A Netflix, aos poucos, está chegando no patamar de qualidade técnica da Globo. Da direção de arte à direção de fotografia (há muitas cenas noturnas), a série entrega um requinte visual acima da média.
O enredo – São vários temas que estão interligados: o fanatismo religioso, a cura de doenças por vias alternativas, a questão da fé, a busca incessante de respostas científicas para os milagres, o paraíso numa versão bíblica de Águazul, os traumas dos personagens no passado…
Novos talentos – Há vários rostos desconhecidos do grande público e é bom diversificar. Mas, na minha opinião, se sobressai a atuação linear de Gutto Szuster (o Enzo), que tem o personagem mais natural, genuíno e crível.
Dois veteranos – Francisco Gaspar, interpretando o barqueiro Silvino, e Tuna Dwek, na pele da rancorosa Zulmira, se destacam. O olhar de mágoa e ódio de Zulmira nem precisa de diálogos.
Ganchos – Uma boa série é feita de ganchos para o próximo capítulo. E isso O Escolhido tem. Você fica querendo saber o que vai acontecer no episódio seguinte.
A salada de gêneros – Sim, há de tudo um pouco: drama sobre epidemia, clima de suspense e terror, sexo proibido, relações familiares conturbadas. E funciona!
Desfecho – Achei digna a conclusão, sem happy end e com um desfecho de deixar o espectador boquiaberto – dá um ótimo gancho para a segunda temporada.
Pontos negativos
Atuações irregulares – Paloma Bernardi é o nome mais conhecido do elenco e, veterana de novelas, faz o que é pedido – a atuação não tem nuances, mas a atriz não passa vergonha. Os “novatos” e também protagonistas Pedro Caetano (Damião) e Mariano Mattos Martins (Mateus) cometem deslizes nas interpretações – Caetano exagera na dramaticidade enquanto Martins atua de forma, digamos, genérica. Mas acho que os maiores problemas são Renan Tenca (o Escolhido), que incorpora o personagem de forma pesada demais, até teatral, e a francesa Alli Willow, que faz a assistente do Escolhido, uma estranha no ninho – em todos os sentidos.
Diálogos – Muito do que sai da boca dos personagens não convence. As falas podem ser boas num roteiro, escrito, mas, quando transpostas para diálogos encenados, ficam constrangedoras. E, me diz, por que uma frase raivosa tem de terminar com “porra!”?
Direção – Acredito que a dificuldade de gravar durante meses num vilarejo do Tocantins não seja fácil. Mas isso não é motivo para o diretor Michel Tikhomiroff deixar a série “cambaleante”, sobretudo na condução dos atores.
Figurantes – Foi dito na coletiva de imprensa que os habitantes de Natividade serviram como figurantes. Nada contra, desde que sejam bons – o que não é o caso.
E você, já viu O Escolhido? Concorda comigo?
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