O dia em que Gonzaguinha me disse não
Hoje teve exibição para a imprensa de Gonzaga – De Pai pra Filho. Gostei. É mais um trabalho sensível de Breno Silveira, diretor de 2 Filhos de Francisco, Era uma Vez e do recente À Beira do Caminho. O filme foca mais na carreira de Gonzagão e menos na de Gonzaguinha. É uma escolha […]
Hoje teve exibição para a imprensa de Gonzaga – De Pai pra Filho. Gostei. É mais um trabalho sensível de Breno Silveira, diretor de 2 Filhos de Francisco, Era uma Vez e do recente À Beira do Caminho. O filme foca mais na carreira de Gonzagão e menos na de Gonzaguinha. É uma escolha do roteiro, mas queria mais Gonzaguinha. Sempre gostei mais dele do que do pai. Tanto que me arrepiei quando a trilha toca Sangrando (Quando Eu Soltar a Minha Voz, Por Favor Entenda…). Ainda tem um momento emocionante acompanhado de Com a Perna no Mundo (Diz Lá pra Dina que Eu Volto…).
Gonzaguinha foi “o” cantor da minha geração. Adorava suas canções de protesto e, na virada dos anos 70 para os 80, virei fã incondicional. Mas teve um momento em que o ídolo virou sapo. Devia ser 1979 ou 1980, cursava jornalismo na PUC, e soube que ele iria fazer um show em Araraquara, terra da família Barbieri, onde tenho muitos parentes.
Peguei Kátia, minha irmã mais velha, e lá fomos nós enfrentar umas quatro horas de ônibus. Assim que chegamos, avistei Gonzaguinha almoçando no restaurante da rodoviária com sua equipe. Pedir ou não um autógrafo? Era agora ou nunca. Já sabia de antemão que ele não era uma pessoa fácil. Sua fama de arrogante, de poucos amigos e respostas duras era notória. Respirei fundo.
Cheguei perto da mesa e, educadamente, toquei em seu ombro (ele estava de costas pra mim). “Se não for incômodo, será que você pode me dar um autógrafo?”. Ele virou a cabeça e, me fuzilando com os olhos, respondeu: “Bicho, na hora do almoço é um saco!”. Foi o que bastou para minha cara cair no chão e a imagem do mito se desfazer na minha frente. A resposta saiu como um lamento: “Só queria dizer que vim de São Paulo especialmente para ver teu show. Obrigado”.
Comprei todos seus discos e acompanhei sua carreira através de músicas ainda inesquecíveis, como Explode Coração, Grito de Alerta, Começaria Tudo Outra Vez…Fiquei triste com sua morte num acidente de carro, em 1991. Mas a amarga lembrança daquele dia, jamais esqueci. A partir de então, pedir autógrafo nunca mais.