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Documentário sobre a noite gay em São Paulo tem exibição grátis

Gostei da atitude do diretor Lufe Steffen em me procurar, pelo Facebook, para que eu divulgasse duas sessões de um documentário realizado por ele. Fiquei interessado no tema e pedi para conferir o filme antes de indicá-lo. Ele me conseguiu um DVD. A Volta da Pauliceia Desvairada me surpreendeu. Não só pela persistência do realizador […]

Por Miguel Barbieri Jr.
Atualizado em 27 fev 2017, 00h15 - Publicado em 12 set 2013, 17h20
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Gostei da atitude do diretor Lufe Steffen em me procurar, pelo Facebook, para que eu divulgasse duas sessões de um documentário realizado por ele. Fiquei interessado no tema e pedi para conferir o filme antes de indicá-lo. Ele me conseguiu um DVD. A Volta da Pauliceia Desvairada me surpreendeu. Não só pela persistência do realizador em encontrar personagens dispostos a falar abertamente para a câmera quanto pelo registro plural que Lufe faz da noite gay paulistana. Posso estar enganado (e fiz a mesma pergunta para ele), mas, dificilmente, um documentário como esse seria patrocinado pelo Governo do Estado de São Paulo e Secretaria da Cultura há vinte, trinta anos. Também acredito que seria muito difícil achar homossexuais que falassem francamente sobre seus hábitos e preferências. Lufe conseguiu isso e muito mais. Fez um abrangente painel da cena gay, seja invadindo as casas noturnas mais luxuosas, seja nos apertados inferninhos. Fica a dica: A Volta da Pauliceia Desvairada (de 95 minutos) terá duas sessões gratuitas na Matilha Cultural: sexta (13), às 20h, e sábado (14), às 19h. Abaixo, segue uma entrevista que fiz com Lufe, paulistano de 38 anos.

Com surgiu o documentário? A ideia veio da minha vontade de retratar a noite LGBT de São Paulo, que eu sempre achei fascinante e que merecia um registro “épico”, capaz de abarcar todas as variáveis. Não sei se consegui, mas foi esse o impulso inicial.

Quantas pessoas foram entrevistadas e quantos lugares visitou? Foram umas 110 pessoas. No total, cerca de 50 estabelecimentos, entre bares e casas noturnas. Só três boates não toparam as gravações, cada uma alegando um motivo diferente.

Foi difícil encontrar gays, lésbicas e travestis dispostos a falar para a câmera? Pelo contrário, foi mais fácil do que eu pensava. Todo mundo que falou, falou mostrando a cara. A maioria se empolgava e queria contribuir para o documentário.

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Teve resistência por parte de alguém? Me lembro de umas jovens que não quiseram aparecer. Os mais velhos estão em menor número na noite, que tem uma presença extremamente jovem. Por isso, em lugares onde há uma concentração maior de pessoas mais velhas, caso do Bailão, por exemplo, senti, sim, um certo receio. Tanto que só temos o depoimento de um senhor.

Como ocorreram as filmagens? Elas duraram exatamente um mês. Claro, não era todo dia que filmávamos, mas, às sextas, sábados e domingos, sim, e das 11 da noite até 5, 6 da manhã.

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Qual o saldo que tirou disso tudo? A noite é, realmente, um universo vibrante, fascinante e muito complexo. Foi impressionante observar os papéis sociais, sexuais e os jogos de poder que as pessoas constroem. Acho que se alguém fizesse esse filme uma vez por mês, seguindo o mesmo roteiro, depararia com um universo diferente. As coisas são labirínticas e, ao mesmo tempo, não mudam. No fim das contas, são apenas pessoas em busca de diversão, ou de autoafirmação, ou de atingir seus desejos e sonhos – alguns até inconscientes.

Por que um filme bom como o seu e com apelo não ganha exibição no circuito comercial? Além do incentivo das pessoas, existe, sim, a possibilidade. Mas, realmente, não sei se vai acontecer porque sabemos como é difícil a parte da distribuição e exibição.

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Um filme como A Volta da Pauliceia Desvairada poderia ser feito há dez, vinte, trinta anos? Há duas décadas ou mais, seria praticamente impossível. Seria dificílimo encontrar patrocínio e achar pessoas para entrevistar. Antigamente, esse universo era muito mais escondido, recluso, marginalizado até. Tanto é verdade que não existem filmes assim feitos nas décadas de 60, 70 e 80, por exemplo. E eis o motivo de eu estar fazendo meu novo documentário, que é justamente uma radiografia desses períodos. Estou entrevistando as testemunhas daquelas épocas, que aceitaram falar do passado.

Como você vê essa volta de uma onda conservadora em relação aos gays? Estamos num momento complicado, com o fundamentalismo religioso, a ferocidade da homofobia etc. Ao mesmo tempo, cada vez mais, a visibilidade gay ganha força e espero e acredito estar contribuindo com isso com meus filmes.

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Assista ao trailer!

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=kkDENTlfCR0?feature=oembed&w=500&h=281%5D

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