Cena de masturbação dá polêmica a drama grego na Mostra
Quando entrevistei a Renata de Almeida para a matéria da Mostra Internacional de Cinema, ela me citou duas tendências na filmografia mundial: a crise econômica na Europa e a boa safra de longas-metragens gregos – onze fitas estão previstas nesta edição. Vi dois filmes neste fim de semana que, além de vindos da Grécia, têm o […]
Quando entrevistei a Renata de Almeida para a matéria da Mostra Internacional de Cinema, ela me citou duas tendências na filmografia mundial: a crise econômica na Europa e a boa safra de longas-metragens gregos – onze fitas estão previstas nesta edição. Vi dois filmes neste fim de semana que, além de vindos da Grécia, têm o buraco econômico como tema.
O Garoto que Come Alpiste é o candidato grego ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Achei uma ousadia do país em levar à Academia de Hollywood um trabalho tão autoral e com uma sequência que, certamente, vai corar parte da ala veterana. Em seu primeiro longa-metragem, o diretor Ektoras Lygizos cola sua câmera no protagonista (algo parecido foi feito pelos irmãos Dardenne em O Filho), um rapaz que passa fome numa Atenas de desempregados. Ele come o que aparece pela frente: do alpiste de seu canário ao açúcar roubado de um idoso. E, na tal da polêmica cena, o moço se masturba para… Não revelo mais nada.
O filme é feito de silêncios, não tem trilha sonora e trata-se de uma metáfora para a Grécia dos miseráveis. O que mais me incomodou, porém, foi o estado de inércia do personagem principal, que quer se cantor lírico e faz testes numa agência de telemarketing – mas nada disso o leva à estabilidade.
Também em cima do mesmo assunto há Todos os Gatos São Brilhantes. Sai de cena a simbologia do filme anterior para entrar um enfoque mais realista da Grécia (há, inclusive, cenas verdadeiras das manifestações que ocorreram por lá). A protogonista é Electra, uma mulher na casa dos 30 anos que faz bicos como baby sitter. Seu noivo, um ativista acusado de terrorismo, está preso e será julgado.
Há longos diálogos num roteiro mal alinhavado. Contudo, eu gosto do enfoque dessa “nova” geração que ainda grita palavras de ordem nas ruas com um jeito passadista. Eles se julgam anarquistas, são contra o “sistema” e os patrões, pregam a justiça e a liberdade. É como se o Maio de 68 voltasse à tona para tudo terminar numa cervejada. Caso o tema fosse melhor trabalhado, o segundo longa-metragem da diretora Constantina Voulgaris renderia mais.
Ainda haverá exibições de ambos os filmes.
O Garoto que Come Alpiste – Sexta (25), 21h15 (Cinusp) e terça (29), 21h10 (MIS)
Todos os Gatos São Brilhantes – Segunda (21), 17h50 (Cine Sabesp)
Programação completa da Mostra
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