1971: dez filmes que marcaram o ano de Laranja Mecânica
Não lembro exatamente quais filmes eu vi no cinema em 1971. Certamente, não foi nenhum dos citados abaixo. Eu tinha apenas 10 anos de idade e, muito provável, estava numa matinê da série Trinity, personagem do Terence Hill que eu adorava. Vi todos os filmes abaixo mais tarde – ou, melhor, beeem mais tarde. Muitos […]
Não lembro exatamente quais filmes eu vi no cinema em 1971. Certamente, não foi nenhum dos citados abaixo. Eu tinha apenas 10 anos de idade e, muito provável, estava numa matinê da série Trinity, personagem do Terence Hill que eu adorava. Vi todos os filmes abaixo mais tarde – ou, melhor, beeem mais tarde. Muitos deles ficaram anos proibidos pela censura, durante a ditadura militar, e só foram liberados no fim dos anos 70. A época era fértil – tanto para o cinema americano quanto para o europeu. Como, então, escolher apenas dez longas-metragens diante de um período brilhante? Cada um tem a sua lista, cada um tem suas memórias e preferências. Minhas escolhas foram variadas: pela importância histórica ou porque, simplesmente, o filme me pegou de um jeito especial. Note: talvez os filmes não tenham sido lançados no Brasil em 1971 (como já expliquei), mas este é o ano de produção deles.
Laranja Mecânica – Começo com este grande clássico da ficção científica dirigido por Stanley Kubrick que, coincidentemente, revi na semana passada – ele voltou em cartaz no CineSesc em cópia restaurada. Continua muito atual sua discussão sobre as possibilidades de “cura” para pessoas violentas.
THX 1138 – Lembro de tê-lo visto no cinema (não sei exatamente quando) e fui por causa do diretor. Era o primeiro longa de George Lucas que, anos depois, se projetaria com Star Wars/Guerra nas Estrelas. Achei tudo muito complexo, esquisito e lento. Talvez não fosse maduro o suficiente para entender uma ficção científica onde, no futuro, homens e mulheres de cabeça raspada eram controlados por computadores. Computadores?
Sob o Domínio do Medo – Houve uma refilmagem dois anos atrás, mas nada comparada a este estupendo suspense dirigido pelo grande Sam Peckinpah. Na trama, Dustin Hoffman e Susan George ficam isolados numa casa do interior da Inglaterra à mercê de caipiras com más intenções. Havia cena de estupro e violência explícita, hoje algo banal no cinema. Vi em vídeo, já na década de 80, e não esqueço jamais.
Operação França – Em 1972, papou os principais prêmios no Oscar: melhor filme, direção (William Friedkin, que depois faria O Exorcista), melhor roteiro e melhor ator (Gene Hackman). Uma incrível perseguição de um carro a um trem em Nova York é considerada, até hoje, uma das melhores de todos os tempos.
Perseguidor Implacável – Torturas, lei do “olho por olho” e tiros em bandidos sem nenhuma piedade. Dirty Harry, o personagem de Clint Eastwood neste policial dirigido por Don Siegel, fez escola e provocou polêmica. Eastwood estrelou mais quatro filmes no mesmo papel devido à boa aceitação. Confesso que nunca fui muito fã da cinessérie, mas reconheço o pioneirismo deste Dirty Harry original.
Bananas – Outro filme que não lembro quando vi. Foi no cinema, certamente, e saí meio impressionado com a crítica de Woody Allen à “república das bananas”, um país na América Central. Fui “entendendo” Allen aos poucos. Seus primeiros filmes (nos meus primórdios de cinéfilo) não me encantavam. Hoje, gosto de praticamente todos.
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Houve uma Vez um Verão – Talvez a música-tema de Michel Legrand tenha sido mais importante do que o filme, que narra a história de um adolescente prestes a perder a virgindade com uma mulher casada no verão de 42 (Summer of 42 é o título original). Com tema “impróprio” para menores, cheguei a ver num Corujão e fiquei comovido. A canção ainda me toca muito. Ouça abaixo.
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Morte em Veneza – Acho que vi três vezes este estupendo filme inspirado no romance de Thomas Mann e um dos meus preferidos de Visconti. A primeira vez foi em vídeo; depois, em DVD, e até no cinema, numa reprise que o CineSesc fez em 1999. A última cena, com a maquiagem escorrendo do rosto de Dirk Bogarde na praia do Lido, em Veneza, é uma das mais tristes da história.
O Sopro no Coração – Por uma cena de sugestão de incesto, o filme do francês Louis Malle foi proibido no Brasil. Mas, além da polêmica, há uma história tocante sobre o desabrochar de um adolescente que, com um sopro no coração, é obrigado a ser internado numa clínica, onde é acompanhado bem de perto por sua mãe.
Johnny Vai à Guerra – Dalton Trumbo é autor do livro, do roteiro e diretor deste seu único filme, um doloroso retrato de um soldado que volta da I Guerra sem os braços nem as pernas. Seu quadro é pior do que a morte: perdeu a boca e o nariz, além de ter ficado cego. Foi censurado no Brasil e fui vê-lo nos anos 80 numa cópia em vídeo muito ruim. Me impressionou mesmo assim.
Ficaram de fora da lista, mas não posso deixar de citar: A Fantástica Fábrica de Chocolate, Ensina-me a Viver, Um Violinista no Telhado, A Última Sessão de Cinema, Klute, o Passado Condena, Decameron, Ânsia de Amar, Domingo Maldito, Sacco e Vanzetti, A Classe Operária Vai ao Paraíso e Malpertuis.
Posso ter esquecido algum. Mas quem não esquece?