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Quadros raros de Volpi vão a leilão pela primeira vez em São Paulo

Obras deixadas aos herdeiros do artista serão arrematadas com lances iniciais que vão de 300 mil a 6 milhões de reais

Por Humberto Abdo
20 out 2023, 06h00
Quadro azul com figura de padre envolta por bandeirinhas nas cores vermelho, cinza e preto.
Dom Bosco, 1960, de Alfredo Volpi. (Luan Torres/Reprodução)
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Seis quadros do ítalo-brasileiro Alfredo Volpi (1896-1988) serão exibidos e leiloados em São Paulo com lances iniciais que vão de 300 000 a 6 milhões de reais. São obras produzidas em diferentes períodos de sua carreira, entre elas Judite, raríssimo (e único) nu inspirado em sua esposa, e Dom Bosco, versão menor do mural de 15 metros quadrados feito nos anos 1960 para o Itamaraty, em Brasília.

“Com pelo menos trinta anos de produção, é uma exposição reunida a partir do espólio deixado pelo artista, peças que estiveram na casa dele e só agora serão leiloadas”, explica o curador Olívio Tavares de Araújo.

Figuras geométricas em formato de leque nos tons de vermelho, azul e verde.
Obra sem título de 1970, por Alfredo Volpi. (Luan Torres/Reprodução)

Conservada há mais de dez anos pelo Museu de Arte Moderna de São Paulo, a coleção só chegou a passar pelos olhos do público durante curtas retrospectivas e mostras individuais. “É como se as telas estivessem sendo compradas diretamente do próprio artista”, explica James Lisboa, leiloeiro responsável por manter as pinturas em seu escritório nos Jardins — de 23 a 30 de outubro, elas poderão ser vistas presencialmente (na Rua Melo Alves, 397, das 10h às 18h, com entrada gratuita) e serão arrematadas em 31 de outubro, com exibição ao vivo no canal Arte 1, às 21h.

A demora para a liberação do espólio, segundo James, ocorreu por divergências envolvendo a lista de herdeiros. “Sabia-se da existência (de mais um filho), mas a juíza só poderia liberar a venda quando ele fosse encontrado. Mais tarde, uma pesquisa revelou a certidão de óbito dele.” Além de parentes vinculados ao herdeiro falecido, as filhas Eugênia Maria Volpi Pinto e Djanira Maria da Conceição Volpi também participam da divisão do valor a ser arrecadado no leilão, que deve ultrapassar 10 milhões de reais caso todos os quadros sejam vendidos.

De costas, mulher negra vestida de jaqueta de couro pendura um quadro que retrata janelinhas e um fundo azul. A parede tem tom azul marinho.
Fachada, de 1970, quadro de Volpi. (Leo Martins/Veja SP)
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As seis obras remanescentes cobrem apenas algumas das fases do artista, entre 1940 e 1970, com destaque para os retratos, como o que apresenta a ilustradora Hilde Weber, sua amiga pessoal, e as formas geométricas (caso da tela com aparência de “leque” e os triângulos popularmente chamados de “bandeirinhas”). Todas levam a mesma técnica de têmpera sobre tela ou papel, com a mistura de pigmentos e gema de ovo.

“Ele tinha um lado muito artesão por ter sido operário e ter começado sua vida pintando paredes”, diz Olívio. Sem pretensão para a vanguarda, seus traços modernistas se desenvolveram após ingressar no Santa Helena, pequeno grupo composto por artistas como Aldo Bonadei, Clóvis Graciano, Ernesto de Fiori, Francisco Rebolo e Fulvio Pennacchi. Juntos, ocupavam um prédio na Praça da Sé e circulavam pela cidade para pintar aos fins de semana. “Pode ter sido nesse contexto que Volpi conheceu Judite, sua esposa.”

Quadro de nu feminino com fundo azul e com ladrilhos vermelhos e cinza.
Judite, de 1940, Alfredo Volpi. (Luan Torres/Reprodução)

A raridade e mistério por trás do quadro dedicado à parceira colaboram para seu valor elevado — não é consenso, por exemplo, que ela teria posado para o artista. “Sua autonomia sobre as pinturas fez com que nos anos 1940 ele já estivesse pintando muito em seu ateliê, só a partir da imaginação”, pondera o curador. “Volpi era tão exigente consigo mesmo que sempre fez questão de pintar a mão livre, como se usar régua depusesse contra sua integridade operária, e cuidava de todas as etapas além da pintura.”

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No bairro do Cambuci, onde sempre morou, Volpi mantinha uma rotina regrada de trabalho e só produzia durante as horas de luz natural. “Ele não era uma pessoa fechada, estava sempre de bom humor, mas se concentrava muito no ofício. E era costume levantar cedo”, relembra Djanira, uma das suas filhas adotivas (entre filhos biológicos e adotivos, ele criou mais de quinze crianças junto com a esposa).

Certas inspirações, no entanto, não vieram da capital, mas de cidades do interior de São Paulo, como Mogi das Cruzes, onde teve contato com a figura das bandeiras, e no litoral de Itanhaém, onde a companheira passou a morar quando adoeceu. Esse é o contexto para a tela Casas, Mastros, Barcos e Mar, de 1944, anunciada com lance inicial de 600 000 reais. “Quando ela se mudou, Volpi descia (a serra) para visitá-la e começou a pintar fragmentos da cidade com o mar, o céu e as ondas.”

Em tons terrosos, quadro exibe casas, barcos e mar ao fundo.
Casas, Mastros, Barcos e Mar, 1944: quadro de Alfredo Volpi. (Luan Torres/Reprodução)

Em 1953, sua reputação foi selada na II Bienal de São Paulo com o prêmio de melhor pintor nacional, dividido com Di Cavalcanti (confira o quadro abaixo). Apesar de um suposto acerto entre os membros do júri para premiar Di Cavalcanti, o crítico britânico Herbert Read teria questionado a decisão pela originalidade nas formas e cores da arquitetura brasileira retratada por Volpi.

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“Por não ter ganhado na primeira Bienal, o sistema político das artes já tinha reservado esse prêmio ao Di”, conta Olívio. “E o sucesso nunca subiu à cabeça dele. Era sofisticado enquanto pintor, mas uma pessoa muito simples. A única coisa que fazia depois de ganhar dinheiro era tomar vinho italiano, seu único luxo.”

“Uma das coisas que ele tinha de especial era o talento como colorista. Espero que os compradores sejam colecionadores de Volpi para dar a cada obra seu devido valor”, completa James. “Ele cedia as telas, mas nunca as vendia, então os ‘volpistas’, todos eles muito doidos, competem entre si e querem ter o que o outro não tem. Vou usar isso como argumento para vender.”

Di Cavalcanti — 125 anos

O também modernista Di Cavalcanti é destaque em exposição no Farol Santander, que faz um panorama de sua carreira. Com 25 óleos sobre tela, duas aquarelas, um grafite sobre papel, um guache e dezesseis gravuras, a mostra reúne obras como Mulata na Cadeira (1970), um dos muitos retratos de mulheres feitos pelo artista. Rua João Brícola, 24, Centro. Ter. a dom., 9h/20h. R$ 35,00. Até 7/1/2024. farolsantander.com.br

Foto exibe senhor grisalho e careca sentado e inclinado em mesa de desenho, com móveis espalhados ao fundo.
Alfredo Volpi em seu ateliê instalado em casa do Cambuci. (Domingos Giobbi/Divulgação)
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Quadro exibe retrato de mulher sentada ao lado de outra figura. Obra tem tuns claros e natureza com céu azul ao fundo.
Retrato de Hilde Weber, 1940, tela de Alfredo Volpi. (Luan Torres/Reprodução)
Sentados em sofá de couro marrom claro, uma mulher negra e um homem branco sorriem. Ela veste calça preta e jaqueta de couro preto, ele um terno azul com camisa azul claro. Ao fundo, um quadro grande retrata uma mulher. A obra está pendurada em uma parede de tom azul marinho.
Djanira Volpi, uma das herdeiras do artista Alfredo Volpi, e o leiloeiro James Lisboa. (Leo Martins/Veja SP)

Publicado em VEJA São Paulo de 20 de outubro de 2023, edição nº 2864

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