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Pelados em Moema: os bastidores da nova festa nudista de São Paulo

Nudistas e naturistas se reúnem pela primeira vez em evento marcado para acontecer todo mês na capital paulista

Por Humberto Abdo
Atualizado em 22 set 2022, 09h49 - Publicado em 22 jun 2022, 15h27
Foto exibe bola iluminada de discoteca com pontinhos brancos espalhados pelo teto.
Disco Ball. (Regina Valetova/Creative Commons/Reprodução)
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Xales, pochetes e anéis penianos são as únicas peças à vista na Tardezinha Nudista. Na primeira edição da festa, mais de 100 pessoas lotaram a Spicy House, espaço em Moema escolhido para o evento promovido por adeptos do nudismo e inspirado no naturismo — a filosofia de viver em harmonia com a natureza e, entre outras coisas, ficar pelado.

A diferença entre naturismo e nudismo é sutil: “naturismo” é o termo preferido para as pessoas que gostam de ficar nuas em locais públicos e defendem a liberdade e quebra de preconceitos; “nudismo” pode ser usado nesse mesmo contexto, mas está menos ligado aos aspectos ideológicos. “O conceito vem de Adão e Eva. Assim como eles, somos todos pecadores”, filosofa Roberto Passero, um dos organizadores.

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No térreo da casa, servido por chapelaria, lounge com mesinhas e pista de dança, o pecado da luxúria é terminantemente proibido. “Aqui embaixo não vai acontecer nada, mas se alguém quiser algo mais caliente no andar de cima, eu não vi e não sei de nada”, admite. “Assim dá para atender os dois grupos do naturismo: o ‘raiz’, que não faz sacanagem, e o que tem essa vontade.”

Em resposta à reportagem, Paula Silveira, presidente da Federação Brasileira de Naturismo, rebate: “A tarde nudista em Moema nada tem a ver com naturismo. Não temos vínculo com o lado sexual”. Apesar do nome, essa é uma festa puramente nudista e a próxima edição já foi rebatizada com o termo correto (fica, então, Tardezinha Nudista).

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Caravanas de cidades próximas vão chegando no início da noite e correm logo para os fundos. De lá, todos voltam pelados com o saco na mão — o descartável, usado para guardar os pertences. Senhores na faixa dos sessenta anos circulam pelo bar com um copo de uísque e se acomodam nos sofás vermelhos da lateral. Mais tarde aparecem os casais e, por último, os solteiros mais jovens. Para todas as idades, o dress code favorito parece ser a toalhinha nos ombros e a depilação à brasileira: quase nenhum pelo.

Foto exibe silhuetas encostadas em mezanino e pista de dança embaixo. Luzes vermelhas e azuis enfeitam o espaço.
Na balada. (Alexander Popov/Creative Commons/Reprodução)

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As bexigas gigantes com a palavra “LOVE” na decoração e o par de crocs azuis berrantes de um dos frequentadores poderiam atrair muitos olhares, mas hoje o foco é outro. Os casais que dançam calorosos ao lado do pau de poledance dominam a pista até a chegada da dançarina Grayce Romim, que se apresenta pendurada em uma corda branca de pano. Um naturista cadeirante se aproxima bem na hora do fervo e em seguida vem o gogo-boy e dançarino Sansão, cuja atração principal envolve subir no balcão e balançar o quadril, a cintura e o seu pacote completo.

O frio paulistano de 17ºC no sábado, em 11 de junho, não encolheu o número de frequentadores e alguns aquecedores ajudavam a esquentar os ambientes, mas uma roda de amigos ocupava a área aberta do fumódromo como se fosse verão. “Muito homem e pouca mulher não dá conta, festa assim precisa ter um número equilibrado”, opina um deles.

Foto avermelhada exibe silhuetas de pessoas dançando na pista.
Pista de dança. (Pim Myten/Creative Commons/Reprodução)
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Conforme o público aumenta, não pega bem estar vestido e, para acompanhar eventos como esse, repórter também tira a roupa. “Ai que tudo!”, comemora Silvana Valadão, adepta e esposa de um dos promoters, ao me ver saindo do banheiro. De tênis branco, meias estampadas e colar de pérolas, circulei pela pista lotada e me perdi no primeiro andar labiríntico, repleto de camas, salinhas escuras e muito homem pelado. Mulheres ainda eram minoria. Os grupos logo se dividem e fica claro quem é “raiz” e quem planeja ficar por lá até mais tarde — assim que essa festa acabar, o espaço retorna ao seu formato natural de casa de swing.

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Acostumados com encontros privados em casas de praia e no interior da capital, os membros da comunidade naturista serão acolhidos todo mês na casa noturna comandada por Fabio Leandro Blanco, que abraçou a ideia como alternativa para esses grupos com a chegada do inverno. “Abri a casa com o objetivo de acolher o público do swing, mas fiquei fechado na pandemia e não tivemos forças para retornar apenas com essa proposta”, explica. “Fui obrigado a investir em vários eventos, incluindo um after LGBT e agora o dos nudistas. Se tudo der certo, faremos duas vezes por mês até virar algo semanal.”

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A próxima edição já está marcada para 16 de julho com Carnaval como tema. “Quem veio na primeira achou que o tempo foi curto e às 10 horas da noite, quando encerramos, tudo estava só começando”, conta. Segundo o proprietário, o clima das duas festas é drasticamente diferente: no esquenta do swing, homens não podem nem ficar sem camisa. “Na próxima, quero unir mais os dois grupos. Já avisei todo mundo: pelo menos até as 11 horas da noite vai ter gente pelada aqui na pista.”

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