Ex-doleira e ‘influencer de tornozeleira’, Nelma Kodama comemora liberdade
Primeira delatora da Lava-Jato está em liberdade provisória desde 21 de fevereiro e divulga serviço de consultoria financeira nas redes sociais
Um dia depois de ganhar a liberdade provisória — após quase dois anos presa em Portugal, na Bahia e em casa, em São Paulo, sob acusação de tráfico internacional de drogas —, a ex-doleira Nelma Kodama, 57, primeira delatora da Lava-Jato, não se sentiu exatamente livre. “Fui cortar o cabelo nos Jardins e na volta fiquei presa no trânsito”, ela conta.
Mesmo com o benefício concedido pela Justiça Federal em 21 de fevereiro, Nelma deve seguir algumas regras, como ficar em casa entre 18h e 6h. Atuando nos últimos meses de prisão domiciliar como consultora financeira, serviço que divulga nas redes sociais, ela afirma ter 25 clientes. “Falo como a pessoa deve investir e a ajudo a estancar os gastos. Vendi dinheiro a minha vida toda e sei como ele funciona. Ele é o mal do mundo”, afirma Nelma, que jura não ter voltado a atuar no ofício ilegal que a deixou famosa.
“Nunca haverá outra doleira como eu, até porque o mercado de dólar acabou após a Lava-Jato.” Sobre a operação chefiada pelo ex-juiz Sergio Moro, Nelma diz que quase perdeu todo o patrimônio. “Não sou rica, já fui. Antigamente, chegava quinta-feira e eu ia a Paris comprar sapatos. Agora não posso nem sair do país.”
Em relação à acusação de tráfico, ela se declara inocente e afirma que teve apenas um relacionamento amoroso com um dos acusados. “Sou ex-doleira, não traficante”, diz. Enquanto se acostuma à liberdade, promete investir nas redes sociais, nas quais tem feito algumas publicidades. “As pessoas me chamam, pedem conselhos”, afirma a nova influencer, que vai continuar a ser monitorada por uma tornozeleira eletrônica.
Publicado em VEJA São Paulo de 1º de março de 2024, edição nº 2882