A vida em uma gaming house em véspera de campeonato
A vida dos atletas da Loud, um dos times favoritos para levar o Free Fire Pro League, que dividem uma mansão, ganham bons salários e são estrelas digitais

Neste sábado (20), a partir das 14h, ocorre a final do campeonato brasileiro de Free Fire, o jogo de celular mais popular do país. Para ter uma ideia da popularidade desse aplicativo gratuito, foi a ferramenta mais baixada e rentável no Brasil em 2018, deixando para trás não apenas outros jogos, como o viciante Candy Crush, mas famosos como o Tinder e o Netflix, de acordo com dados da consultoria especializada Sensor Tower.
O Free Fire Pro League 2019 deverá reunir 700 pessoas no Estúdios Quanta, na Vila Leopoldina. Via on-line, o público pode chegar a 200 000 pessoas. São doze finalistas que disputam um prêmio de 35 000 reais.

Para os concorrentes, vale mais o troféu e o título do que o dinheiro. Entre os favoritos, aparece a turma da Loud, um time com sete jogadores e influenciadores digitais, que reúne milhões de seguidores nas redes sociais: Crusher, Coringa, MOB, Bradoock, VinZx, GS e Babi, a única menina do grupo. Até a mascote do pessoal, a cadelinha Loud Skar, é uma influenciadora com mais de 235 000 seguidores no Instagram.
Desde fevereiro deste ano, os jovens com idades entre 17 e 23 anos vivem em uma mansão de 1 000 metros quadrados em Carapicuíba, na Grande São Paulo. Trata-se de uma “gaming house”, algo que tem se tornado febre nesse universo dos jogos, um lugar que lembra o conceito de reality shows como Casa dos Artistas e Big Brother. Os atletas moram lá e, além de treinar para campeonatos, têm sua vida monitorada por câmeras. No lugar das emissoras abertas como SBT e Rede Globo (que possuem audiência zero na residência desse pessoal que é 100% adepto ao streaming), esse dia a dia é transmitido pelo YouTube.
“Batizamos de Mansão Loud e mostramos aos espectadores o nosso estilo de vida”, diz Bruno “PlayHard” Bittencourt, 25, youtuber com mais de 8 milhões de assinantes e um dos sócios do time. Ele não abre valores, mas graças ao patrocínio de marcas, o negócio deverá render 12 milhões de reais só neste primeiro ano. Estima-se também que cada jogador ganhe um salário médio nesse mercado, entre 10 000 e 15 000 reais.
Bruno também vive em uma gaming house, mas no Rio de Janeiro. “Quis reunir apenas os competidores profissionais de Free Fire e esse não é o meu caso”, diz o youtuber. Volta e meia, aparece por lá e dá dicas para o coletivo. A equipe também é acompanhada por coach e nutricionistas. Nessa jornada de trabalho, cada um precisa produzir pelo menos sete horas de conteúdo semanais para o canal no YouTube do time e outras para o canal pessoal, além de treinar para os campeonatos e “bombar” o Instagram.
Nesse cotidiano entre câmeras e celulares, a equipe pouco usa os luxos da mansão, como o ofurô e a piscina. Por causa da distância de São Paulo, quando sai do condomínio fechado, a turma vai passear em shoppings, onde normalmente é reconhecida por fãs, como verdadeiros popstars. “Normalmente temos contato virtual com o nosso público e é bem legal vê-los pessoalmente”, diz Coringa.
Alguns jogadores de outras cidades nunca visitaram a Avenida Paulista, por exemplo, nem sabiam que ela fica aberta ao público aos domingos. O salão de festas, no subsolo, é acionado normalmente aos finais de semana, quando o pessoal se reúne para assistir a séries no Netflix ou improvisar uma balada com um som que vai do pop ao funk. “É uma loucura, mas bem divertido”, diz Bárbara Passos de Souza, 20, a Babi. Ela trancou a faculdade de direito, em Belo Horizonte, para se tornar gamer em São Paulo. “No início, meus pais ficaram desconfiados, mas viram que tudo é profissional”, conta.
Todos vêm de famílias de classe média baixa e, com os ganhos, ajudam no orçamento doméstico. “Minha vida virou do avesso, para melhor”, comemora Marcos Vinicius Viturino Dias, o Loud MOB, caçula da turma, com 17 anos. Até o ano passado, o garoto fazia um curso técnico em enfermagem e acordava às 4h da manhã para trabalhar como estagiário em um hospital na periferia carioca. Recebia todo mês cerca de 500 reais, valor que não chega a 5% de seus ganhos atualmente. “Aos poucos, as pessoas começam a conhecer novas profissões como a minha e essa nova realidade”, conta.
A seguir, conheça mais o time:
De União da Vitória, no Paraná, o Gilson Santos, ou GS como ficou conhecido, tem 24 anos e está no meio gamer há cinco. Sempre sorridente, o paranaense bonitão, além de exímio jogador, curte dar dicas de jogadas.
Marcos Dias saiu do Rio para conquistar o mundo ou, mais precisamente, buscar realizar seu sonho, um título mundial em Free Fire. O menino que mostrou para os pais que existe potencial no universo dos games enche de animação a mansão da LOUD e planeja trabalhar na área por muitos e muitos anos.
https://www.instagram.com/p/BxgBTLCgg3_/
O menino Samuel Borges começou a jogar com 10 anos e não parou mais. Do PC passou para o celular, onde a popularidade levou ao convite para fazer parte da LOUD. Vindo de Jaboticabal, uma cidade do interior de São Paulo, o criador de conteúdo de 19 anos diz que está se habituando à vida de jogador profissional.
Paulistano de Santo André, com 18 anos, Vinícius Cardoso se destaca nas lives. “Quando a gente quer, mesmo que seja difícil, a gente faz tudo acontecer”, ensina aos seus seguidores.
https://www.instagram.com/p/Bz6epo6gmsu/
Mineiro de Belo Horizonte, Victor Augusto, 22 anos, é um dos criadores de conteúdo mais dedicados. Agora, está focado totalmente nos campeonatos, sempre trazendo dicas preciosas para os fãs. Conhecido como o rushador do time (na gíria, um dos jogadores da primeira linha), passou seu aniversário de 22 anos em junho na gaming house.
Com milhões de fãs nas redes sociais, Arthur Ramos, 19 anos, trouxe para a LOUD toda sua experiência como criador de conteúdo. Desenvolto na frente das câmeras, é o mais tímido da turma.
https://www.instagram.com/p/Bz9NyTypImB/
Barbara Passos, 20 anos, é mineira de Belo Horizonte e sempre foi apaixonada por esportes em geral, deste futebol até peteca, modalidade na qual diz ser craque. Mas foi seu talento em Free Fire que chamou a atenção da LOUD. Hoje, ela é a primeira ex futura advogada a entrar para o time e morar junto com o grupo. “Ainda há uma crença de que homens jogam mais do que mulheres, mas é uma bobagem”, diz.